Obra do Rodoanel Norte será retomada após 6 anos; Estado quer aditivo para ligação com aeroporto

Uma nova concessionária, a Via Appia, será responsável pela construção do trecho de 44 quilômetros que irá completar o anel viário em torno da capital. Conexão com Guarulhos é estudada

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Por José Maria Tomazela

Paradas há quase seis anos, as obras do Rodoanel Norte serão retomadas nesta quinta-feira, 25, em Arujá, na região metropolitana de São Paulo. Uma nova concessionária, a Via Appia, será responsável pela construção do trecho de 44 quilômetros que irá completar o anel viário em torno da capital, cujo primeiro trecho (Oeste) foi liberado ao tráfego em dezembro de 2001. Com obras de engenharia, como a construção de 12 km de túneis, a previsão é de que o último trecho do Rodoanel seja entregue em setembro de 2026.

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A conexão do Rodoanel Norte com o Aeroporto Internacional de Guarulhos, obra muito reivindicada pelos usuários, ficou fora do contrato com a Via Appia. A Agência de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp) afirma que ela será realizada por meio de um Termo Aditivo Modificativo entre o governo e a concessionária.

A obra, que prevê uma ligação exclusiva de 3,6 quilômetros, entre o rodoanel e a região aeroportuária, é a principal aposta para reduzir a dificuldade de acesso ao maior aeroporto do País.

Obra do trecho Norte ficou parada desde 2018 e será retomada nesta quinta-feira Foto: Felipe Rau/Estadão - 1/6/2023

Hoje, o principal acesso rodoviário ao aeroporto é a Rodovia Hélio Smidt (SP-109), que se interliga às rodovias Dutra e Ayrton Senna. Estas, por sua vez, recebem o tráfego da Marginal Tietê, uma das vias mais movimentadas da capital e que trava nos horários de pico e mesmo fora deles.

Com o Rodoanel completo, os usuários das regiões sul e oeste da capital, todas as cidades do oeste da região metropolitana de São Paulo, e ainda quem vem do interior e do litoral poderão chegar ao aeroporto pelo Rodoanel Norte, sem passar pela marginal.

Ainda não há data definida para a assinatura deste aditivo, assim como não há definição sobre o valor do investimento, segundo o CEO da Via Appia, Brendon Azevedo Ramos.

“Quando foi feito o edital de licitação, essa reivindicação já existia. Não está no contrato, mas pode ser adicionado. Desde que assinamos o contrato, discutimos com o governo do Estado e com a prefeitura de Guarulhos a melhor forma de fazer esse acesso”, disse.

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Em dezembro do ano passado, segundo ele, após tratativas com o governo estadual e a prefeitura de Guarulhos, a concessionária recebeu o aval para iniciar os estudos avançados.

“Estamos trabalhando nisso. A ideia é ter entre as rodovias Fernão Dias e Dutra uma alça para dar acesso à região metropolitana de Guarulhos e ao aeroporto. A gente tem de atender à demanda de cargas do aeroporto, que é significativa, mas também precisa atender a população da região”, explicou.

Em dezembro do ano passado, após tratativas com o governo estadual e a prefeitura de Guarulhos, a concessionária recebeu o aval para iniciar os estudos avançados Foto: Werther Santana/Estadão - 5/11/2023

O plano prevê usar a SP-036, que na área urbana se transforma na Avenida Candeas, para a ligação com o aeroporto, tendo também alças de acesso ao sistema viário local. “Isso vai exigir uma reformulação no viário urbano para dar fluidez no trânsito, o que será feito junto com a prefeitura”, disse Ramos.

A prefeitura de Guarulhos confirmou os estudos conjuntos e informou que sempre defendeu o acesso ao aeroporto por meio da Avenida Candeas, o que deverá ser viabilizado pelo aditivo ao contrato de concessão.

Anel de 176 quilômetros

O Rodoanel Norte vai ligar a rodovia Presidente Dutra, em Arujá, à Rodovia dos Bandeirantes, próximo à Avenida Raimundo Pereira de Magalhães, na capital. Com a obra, serão interligados o trecho sul e o leste, fechando o anel viário de 176 quilômetros.

O leilão para a concessão do Rodoanel Norte foi realizado em março de 2023. A Via Appia FIP Infraestrutura arrematou o lote e ficará responsável pela conclusão da obra. Durante os 31 anos de concessão, o grupo vai realizar os investimentos e explorar o sistema rodoviário, inclusive com a cobrança de pedágio.

O Rodoanel Norte vai ligar a rodovia Presidente Dutra (foto), em Arujá, à Rodovia dos Bandeirantes, próximo à Avenida Raimundo Pereira de Magalhães, na capital Foto: Felipe Rau/Estadão - 1/6/2023

O investimento da concessionária será de R$ 2,55 bilhões, segundo a Artesp. A esse valor se somará um aporte de cerca de R$ 1 bilhão do poder público.

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O trecho terá pedágios sem cabines, no sistema free-flow (fluxo livre). De acordo com a Via Appia, a tarifa está fixada em R$ 0,15 por km rodado, somando o valor de R$ 6,60 para quem percorre toda extensão do trecho norte.

De acordo com o governo estadual, a conclusão do Rodoanel Norte vai desafogar o trânsito da Marginal Tietê, retirando da malha urbana de São Paulo cerca de 18 mil caminhões por dia. Também vai facilitar o acesso até o Porto de Santos para os caminhões de carga, que atualmente utilizam os trechos oeste e sul. A previsão é de um trânsito de 65 mil veículos por dia, quando o trecho estiver pronto.

Obras

De acordo com o CEO da Via Appia, as obras seguirão um fluxo linear a partir da Dutra até a Bandeirantes, mas dois pontos críticos vão receber atenção especial.

“Um deles é uma rocha muito grande no meio do percurso que terá de ser perfurada. Uma das opções seria usar explosivos, que causam um impacto muito grande. Então optamos por construir um falso túnel, ou seja, escavar a rocha até onde a circunferência dela permitir, como no túnel convencional, e depois, onde ela perder altura, concretar o que falta da rocha para formar o túnel”, explicou.

Outro ponto crítico são dois viadutos na região de Perus, na capital, que precisarão de intervenções especiais.

“Como devem demorar mais tempo e temos um cronograma definido, nesses dois pontos vamos começar a trabalhar já. O restante da obra vai seguir de forma linear e não por trechos, o que nos permitiu antecipar a retomada das obras.”

Com isso, segundo ele, os estudos técnicos complementares podem ser feitos enquanto os trabalhos avançam.

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  • No total, está prevista a construção de sete túneis duplos, 107 obras de arte especiais, quatro paradas para cargas especiais, dois postos de atendimento aos usuários, dois postos de fiscalização, duas praças de pesagem, além de câmeras de monitoramento.

Ramos disse que, embora a extensão dos túneis do Rodoanel Norte esteja próxima dos construídos na Nova Tamoios, a complexidade das obras na pista que liga o planalto ao Litoral Norte foi maior, já que a rodovia transpõe a Serra do Mar.

  • O cronograma do Rodoanel Norte prevê a liberação do trecho entre a Fernão Dias e a Dutra em setembro de 2025.
  • A última fase da obra será a ligação com o trecho leste, na Rodovia dos Bandeirantes. Desde que o trecho mais recente foi liberado para o trânsito, passaram quase dez anos.
  • Em julho de 2014, foi entregue o Rodoanel Leste, com 43 km de extensão.
  • Quatro anos antes, em abril de 2010, foram liberados ao tráfego os 57 km do Sul, o trecho mais longo.
  • Desde fevereiro de 2002, os motoristas já usavam o trecho Oeste, com 32 km.

As obras do Rodoanel Norte foram paralisadas em 2018, quando o Ministério Público de São Paulo (MPSP) apontou indícios de superfaturamento.

Novos processos de licitação foram abertos, atualizando os custos das obras, mas o leilão só aconteceu em março de 2023.

O governo justificou o atraso pela necessidade de rever o traçado, que atingia áreas de preservação ambiental. Houve ainda a necessidade de corrigir falhas em projetos apontados por vistorias técnicas e apurar os efeitos do abandono em obras já realizadas.

Em dezembro de 2018, a estatal paulista Desenvolvimento Rodoviário SA (Dersa), hoje extinta, rescindiu os contratos dos lotes do Rodoanel Norte que estavam a cargo das empresas OAS e Mendes Junior devido ao “abandono” das obras.

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Na época, as empresas eram investigadas pelo braço paulista da Operação Lava Jato, que apurava denúncias de fraude e superfaturamento em obras públicas.

A Dersa, controlada pelo Estado, alegou a “incapacidade” das empresas de continuar com a construção dos trechos que lhes cabiam.

As empresas OAS, atual Metha, e Mendes Júnior foram procuradas e não responderam.

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