Delegado diz que PCC levou 'cracolândia' para o Rio

Essa foi a exigência da facção paulista para continuar fornecendo maconha e cocaína ao Comando Vermelho

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Por Pedro Dantas e de O Estado de S. Paulo
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O delegado titular da Delegacia de Combate às Drogas (Dcod) do Rio, Marcus Vinícius Braga, afirma que a entrada do crack nas favelas cariocas foi a condição imposta pela facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) para continuar a vender cocaína ao Comando Vermelho (CV), conforme o Estado revelou ontem. "Os traficantes paulistas disseram que só venderiam a cocaína se os cariocas comprassem crack. Isso provocou um estouro no consumo da droga em favelas dominadas pela facção." Na Favela do Jacarezinho, na zona norte, por exemplo, em recente operação policial, agentes encontraram um terreno baldio no meio da favela onde estava escrito "bem-vindo à cracolândia". E moradores confirmaram que o local era um espaço destinado aos usuários dessa droga pelo tráfico. Antes da exigência do PCC, os traficantes cariocas sempre resistiram ao crack. Alguns policiais acreditam que isso ocorria por dificuldades no armazenamento ou simplesmente porque a droga não era popular no Rio. Também há quem acredite que os criminosos temiam o efeito do poder destrutivo do entorpecente na favela. Braga diz que o esquema entre PCC e CV para venda de cocaína é anterior à entrada do crack no Rio. "O PCC é o grande fornecedor de cocaína para essa quadrilha e isso não é recente. É lógico que a quadrilha opera com outros fornecedores, mas São Paulo é o grande entreposto desses criminosos", ressalta o policial federal. Os carregamentos de maconha costumam vir do Paraguai, cruzam o Estado do Paraná e chegam a São Paulo. Parte da droga fica com o PCC e o restante segue para o Rio. O envio de cocaína é mais complexo, por causa da distância em relação às regiões produtoras - Colômbia, Venezuela e Bolívia. Até o início da década, dizem policiais ouvidos pelo Estado, o entorpecente entrava no País pela fronteira do Acre. A rota começou a ser preterida pelos traficantes após a criação do Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam), em meados de 2002, com o reforço do policiamento da PF. Atacadista Além do aspecto logístico, a união PCC e CV tem a ver com a decisão da facção paulista de se tornar um "atacadista" do setor. Investigações da Polícia Civil realizadas durante este ano indicam que 80% da renda da organização paulista tem origem no tráfico - nos primórdios, o PCC tinha como alvo os grandes assaltos a banco. O envolvimento da facção com as drogas tem duas vertentes. Uma é a filiação de donos de pontos-de-venda em regiões como as favelas do Jardim Elba, na zona leste da capital, Heliópolis e Paraisópolis, na zona sul. A outra é o esquema de distribuição mantido pela cúpula da organização, o chamado bicho-papão. Nos últimos meses, os líderes do crime organizado passaram a obrigar os donos dos pequenos pontos-de-venda a comprar entorpecente, mesmo que o preço e a qualidade da droga entregue não sejam os melhores existentes no mercado. Normalmente, os traficantes individuais pagam apenas a mensalidade de R$ 600 que cada integrante da facção em liberdade deve entregar ao PCC. No esquema do bicho-papão, os dividendos são repartidos apenas entre os chefões. A cúpula da facção evita mexer com maconha, por causa da pequena margem de lucro. Em março, o Estado revelou que emissários do PCC negociaram com traficantes ligados às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) a compra de 1 tonelada, além de fuzis e explosivos que seriam usados em atentados e resgate de presos. Com o filho do chefão "Dom" Eduardo, o PCC acertou a entrega de 50 a 70 quilos por mês do cocaína. O preço acertado foi de US$ 2 mil por quilo e mais R$ 1,5 mil de frete para cada "peça" transportada até São Paulo. Na contabilidade da facção, apreendida com Wagner Roberto Raposo Olzon, o Fusca, a polícia paulista descobriu que o PCC fatura R$ 1,22 milhão por mês com o tráfico de drogas nas ruas de São Paulo, R$ 861 mil por mês no interior do Estado e R$ 250 mil no ABC. Só com a venda de cocaína nos presídios, o chamado bicho interno, a organização criminosa movimenta R$ 1,26 milhão. Os dados são relativos a janeiro deste ano.   Colaboraram Bruno Tavares e Marcelo Godoy, de O Estado de S. Paulo.) var keywords = "";

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