PUBLICIDADE

Empresário desiste de projeto no Vidigal

O alemão Rolf Glaser gastou R$ 1,1 milhão para transformar morro em ponto turístico; burocracia teria impedido continuidade do empreendimento

Por Pedro Dantas e RIO
Atualização:

O sonho de transformar o Morro do Vidigal, em São Conrado, zona sul do Rio, em polo turístico acabou. O empresário alemão Rolf Glaser, de 62 anos, que investiu R$ 1,1 milhão na compra de 37 propriedades na favela começou a vender tudo por 30% do valor de compra. "Perdi muito dinheiro. A prefeitura fez uma série de exigências e inviabilizou o negócio. Acho que algumas pessoas não gostam da favela, mas também não querem fazer nada para mudar a comunidade", avaliou Rolf, que viaja hoje para a Alemanha.Em novembro de 2008, o alemão começou a comprar casas e terrenos no Morro do Vidigal, cuja favela tem vista panorâmica para o mar de São Conrado e para as Praias do Leblon e de Ipanema. Ele também mudou para uma mansão no pé do morro avaliada em R$ 350 mil. A meta era construir casas que abrigassem turistas e um caminho de lojas, de lavanderia a uma casa de sucos. O empreendimento empregaria moradores do Vidigal - que, depois de algum tempo, seriam responsáveis por gerir o negócio. O empresário já participou de iniciativa semelhante na África.O projeto do alemão, que doou 1.600 caixas de coleta de lixo para a comunidade, mobilizou o morro e atraiu o interesse da mídia estrangeira, era inspirado no balneário de Positano, na Itália, região pobre de topografia semelhante, que foi recuperada por investimentos privados. No entanto, poucos apareceram para ajudar a tocar a ideia. "Faltam pessoas para me ajudar também. Senti na pele o preconceito dos cariocas de subir o morro e também desfiz uma visão antes ingênua sobre os moradores da favela", disse o empresário.ESCRITURASO principal obstáculo ao empreendimento foi o embargo das obras pela prefeitura do Rio, em abril. Nenhuma das casas do empreendimento está situada em área de risco ou de proteção ambiental, mas o município ordenou que o projeto fosse paralisado. "A prefeitura exigiu escrituras definitivas e os terrenos são posses. É a inoperância desses paquidermes gigantescos que são os órgãos públicos. A prefeitura veta porque quer voto. Eles barram qualquer pessoa que atraia a simpatia da população", afirmou o arquiteto responsável pelo projeto, Hélio Pellegrino, do HGP Arquitetos Associados.O arquiteto Maurício Duarte, do HGP, realizou pesquisas com os moradores e fez as plantas de oito projetos para o Vidigal. Ele afirma que, após o embargo da prefeitura, as obras estão definhando e algumas casas foram invadidas pelo tráfico. "Foi uma cama de gato. A prefeitura embargou algumas obras sob a alegação de que pertenciam à Cedae (Companhia de Águas e Esgotos do Rio) e proibiu outras sem explicação. Nunca foi definido um critério sobre um caminho que poderíamos seguir para a liberação", disse Duarte.O arquiteto afirmou que falta vontade política ao prefeito Eduardo Paes (PMDB). "Para a elite que estragou a Barra da Tijuca com atrocidades arquitetônicas e agora vai estragar a zona portuária, Rolf Glaser não é interessante. O projeto dele não vai gerar impostos e nem pertence à corriola do prefeito", afirmou Duarte. Segundo ele, a prefeitura "gera dificuldades para vender facilidades".Procurado, o prefeito Eduardo Paes informou que não comentaria as críticas. A Secretaria Municipal de Urbanismo (SMU) informou que a liberação das obras depende de informações técnicas do projeto que não foram repassadas à prefeitura e fazem parte do conjunto de exigências para qualquer empreendimento no Rio. A SMU informou ainda que recebeu o responsável pelo projeto, forneceu todas as orientações e aguarda as informações solicitadas.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.