Grupos armados recrutam 10.000 crianças soldados na República Centro-Africana

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Por Redação
Atualização:

DACAR (Thomson Reuters Foundation) - Até 10.000 crianças foram recrutadas por grupos armados durante o conflito na República Centro-Africana, apesar da presença de uma missão de manutenção de paz apoiada pela Organização das Nações Unidas (ONU), afirmou nesta quinta-feira a entidade Save the Children.

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Algumas crianças foram raptadas ou forçadas a se juntar a esses grupos, enquanto outras se inscreveram para obter alimentos, roupas, dinheiro e proteção, afirmou a organização internacional infantil beneficente em um comunicado à imprensa.

Muitas se juntaram sob pressão de amigos ou pais para proteger a sua comunidade ou vingar familiares mortos, disse.

"Todas as manhãs nós treinamos duro, rastejamos na lama. Os soldados queriam que fôssemos implacáveis", afirmou Grâce à Dieu, que se juntou a um grupo armado em dezembro de 2012 aos 15 anos, segundo a entidade Save the Children.

"Quando lutamos, fomos nós, as crianças, as enviadas à linha de frente. Outros ficaram mais para trás. Eu vi muitos dos meus irmãos de armas mortos enquanto combatíamos", disse Dieu, cujo nome verdadeiro foi mudado para sua proteção.

Julie Bodin, gerente de proteção à criança da entidade na República Centro-Africana, disse que o governo, as forças de paz da ONU, agências, doadores e países que contribuem com tropas têm de tentar se esforçar mais para impedir o recrutamento de crianças e desmobilizá-las.

"Eles precisam explicar aos grupos armados por que é importante proteger as crianças. No entanto, há um grande número de grupos armados na República Centro-Africana e cada um tem uma estrutura de comando único, então há um grande trabalho a ser feito", disse Bodin à Thomson Reuters Foundation por telefone, de Bangui.

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O governo centro-africano não estava imediatamente disponível para comentar o assunto.

O país está mergulhado no caos desde que rebeldes seleka principalmente muçulmanos do norte tomaram o controle do país de maioria cristã em março de 2013, levando a uma reação da milícia cristã "antibalaka".

Mais de 3.000 pessoas foram mortas desde dezembro de 2013. A ONU estima que 2,5 milhões de pessoas, mais da metade da população, precisam de abrigo, comida e água, cuidados básicos de saúde e educação.

As crianças têm convivido com o peso da violência. Oitenta por cento das pessoas que tiveram de abandonar as suas casas são mulheres e crianças. Duas em cada cinco crianças no país carecem de ajuda humanitária vital, de acordo com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

"Muitas das crianças já passaram por coisas que nenhum adulto, quanto mais criança, deveria ter que passar, testemunhando a perda de entes queridos, vendo suas casas destruídas e sobrevivendo em condições difíceis e inseguras no mato durante meses", disse Bodin.

(Reportagem de Misha Hussain)

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