Temer minimiza importância de apoio amplo a aliança com PT em convenção do PMDB

O vice-presidente Michel Temer se mostrou confiante na manutenção da aliança com o PT durante a convenção nacional do PMDB nesta terça-feira, descartou boatos de traição na votação e minimizou a importância de uma vitória por ampla vantagem de votos. "Se der 51 (por cento dos votos a favor da aliança) está bom", disse Temer a jornalistas ao chegar à convenção do partido, ladeado por vários senadores da legenda, que foram fundamentais para assegurar a provável vitória pela manutenção da aliança com o PT pela reeleição da presidente Dilma Rousseff, tendo Temer como vice. Segundo ele, as divisões do partido são naturais e fazem parte da vida política. "Isso é comum no PMDB. Se a gente não se acostumar com isso depois de 40 anos, não dá para fazer política", argumentou. Mais cedo, o presidente do PMDB, senador Validar Raupp (RO), se mostrou bastante optimista e disse que a convenção aprovaria a renovação da aliança com o PT com mais de 80 por cento dos votos dos delegados. "Eu acho que entre 80 por cento e 90 por cento dos convencionais vão aprovar a aliança", disse Raupp, que na segunda-feira tinha feito prognósticos menos optimistas em conversa com a Reuters. Estão em disputa os 738 votos, dos 510 convencionais, que decidem se renovam ou não a aliança com Dilma, mantendo a indicação de Temer para vice-presidente na chapa de reeleição. Segundo Raupp, as restrições à renovação da aliança com o PT estão concentrados nos directórios de Pernambuco, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro e mesmo assim haveria divisões entre esses peemedebistas. "Não sei se eles conseguem chegar a 15 por cento dos votos", disse. Temer afirmou ainda que não acredita em boatos de que haveria um forte movimento de traição para rejeitar a aliança. "Não acredito nessas intrigas que me chegaram, tenho absoluta convicção que aqueles que nos disseram que irão nos apoiar nesta empreitada vão continuar nos apoiando", discursou Temer. Para renovar a aliança com o PT, porém, o PMDB exige que o acordo com os petistas seja repactuado em um segundo mandato de Dilma. Eles querem mais espaços no governo e maior participação nas políticas públicas. "O país continuará a desenvolver-se precisamente pela aliança que estamos fazendo nesse momento, abrindo portas para que um dia o PMDB ocupe todos os espaços políticos desse país para o bem dos brasileiros", discursou Temer. Raupp também apresentou uma lista de propostas que o PMDB quer incluir no programa de governo de Dilma. Entre as propostas está a adoção do ensino em tempo integral para alunos de todas as séries até o Ensino Médio, a destinação de 10 por cento da receita corrente bruta para a saúde, e a defesa da liberdade de expressão, que foi interpretada como uma resistência à proposta do PT de regulação da mídia. Os discursos de apoio à renovação da aliança foram mais numerosos, mas mesmo entre os apoiadores foram feitas muitas críticas ao PT. O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, disse que o PT não compreende o sentido da aliança nacional com o PMDB e seus desdobramentos nos Estados. No Rio, PT e PMDB se separaram e cada partido terá seu candidato na sucessão estadual. O diretório peemedebista no Estado, inclusive, declarou apoio ao pré-candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves. "O PT, infelizmente, no nível regional não compreendeu essa aliança, não são patrióticos. O PT não percebeu no Rio a importância da transição que estamos fazendo no Rio de Janeiro", disse Paes.

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Por JEFERSON RIBEIRO
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Mas a ala rebelde do partido ainda se esforçava para provocar uma surpresa na convenção. Foram distribuídas cópias de um manifesto com críticas ao governo e um panfleto questionando o acordo com os petistas.

Entre os questionamentos, a ala rebelde pergunta: "Por que participarmos de um governo onde nossos ministros não têm poder de decisão, onde nosso vice-presidente não é ouvido para nada?"

Um dos líderes desse movimento contra a aliança, deputado Danilo Forte (CE), disse à Reuters que ainda era possível uma surpresa, mas reconheceu que "a máquina do governo" e "a pressão de Temer" foram muito fortes na reta final da convenção.

Segundo ele, Temer "sentimentalizou" a disputa e "despolitizou o debate" para conseguir votos favoráveis.

Nas últimas semanas, esse movimento contra a aliança preocupou Temer que entrou em campo e com a ajuda dos senadores do partido conteve o que poderia se transformar numa revolta contra Dilma.

A presidente, aliás, deve comparecer ao final da convenção, quando a renovação da aliança estiver sacramentada.

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(Edição de Eduardo Simões)

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