Tancredo Neves operado na véspera da posse em 1985. E começava uma das maiores agonias do Brasil

Primeiro presidente civil eleito após 21 anos de ditadura militar foi internado e operado na noite antes da posse. Vice eleito, José Sarney, assumiu a presidência em 15 de março de 1985

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Foto do author Rose Saconi
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Estadão - 15 de março de 1985

Capa do Estadão de 15 de março de 1985 sobre a operação de Tancredo Neves. Foto: Acervo Estadão

Internado às pressas na noite de ontem no Hospital de Base de Brasília com uma crise aguda apendicite, o presidente eleito Tancredo Neves foi anestesiado e operado esta madrugada. Em nome do novo governo tomará posse hoje o vice-presidente eleito, José Sarney. A decisão foi tomada à 1h30 de hoje, numa reunião entre o presidente da Câmara dos Deputados, Ulysses Guimarães, e o presidente do Senado, José Fragelli, e o futuro ministro do Exército, Leônidas Pires Gonçalves. A operação terminou por volta das 2h e ele passava bem.

Capa do Estadão - 15 de março de 1985

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Primeiro civil eleito após 21 anos de ditadura militar, o mineiro Tancredo de Almeida Neves deveria assumir a Presidência da República em 15 de março de 1985. A festa da posse estava pronta, mas não aconteceu. O presidente eleito do Brasil foi internado às pressas em Brasília após participar de uma missa celebrada em sua homenagem.

Médicos e assessores anunciaram que Tancredo Neves, então com 75 anos, tinha diverticulite de Meckek. Até o anúncio da morte, 38 dias depois no dia 21 de abril, Tancredo foi submetido a sete cirurgias e seu sofrimento se arrastou por cinco das mais angustiantes semanas da história recente da República.

Como Tancredo estava impossibilitado de assumir a Presidência, o meio político mobilizou-se para viabilizar a transição de poder. Uma corrente defendia que o presidente da Câmara, Ulysses Guimarães, deveria assumir o cargo. O próprio deputado, porém, entendeu que o vice da chapa de Tancredo, José Sarney, assumiria o governo até a recuperação do presidente.

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O País inteiro preparava-se para comemorar aquela sexta-feira com festa e carnaval. A Praça da Sé, no coração de São Paulo, seria palco do Baile da Democracia. Tancredo Neves foi eleito pelo Colégio Eleitoral em 15 de janeiro de 1985, recebendo 480 votos contra 180 dados a Paulo Maluf e 26 abstenções.

José Sarney assume a Presidência da República no lugar de Tancredo Neves em 15 de março de 1985.  Foto: Reginaldo Manente/Estadão

Estadão - 16 de março de 1985

Página do Estadão de 16 de março de 1985. Foto: Acervo Estadão

O Estadão, em sua primeira página do dia 15 de março de 1985, informava: “Tancredo operado. Sarney assumirá a Presidência”. Na mesma edição, o jornal trazia um caderno especial dedicado à cobertura da posse e à cerimônia de transmissão da faixa presidencial do último presidente militar, João Batista Figueiredo, para Tancredo Neves, o que acabou não acontecendo.

Durante 38 dias o Brasil acompanhou a agonia de Tancredo Neves. Foram sete cirurgias e uma traqueostomia até sua morte. Do quadro simples de uma apendicite foi revelado, posteriormente, pelo médico chefe da equipe que acompanhou o caso, Henrique Walter Pinotti, que o presidente já chegara ao Hospital de Base com processo infeccioso e que o problema foi agravado por uma infecção hospitalar.

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O País viveu entre períodos de alívio e angústia, a maioria deles ditados pelo boletins médicos lidos pelo então porta-voz e secretário de Imprensa do governo, Antônio Brito.

Nos primeiros dias de internação, ninguém poderia imaginar que o quadro se agravaria. As primeiras notícias eram de Tancredo andando pelo quarto, indicando a recuperação. Em 25 de março, após a segunda cirurgia, Pinotti chegou a afirmar que, “se o presidente Tancredo Neves quiser, ele pode assumir já nesta sexta-feira”.

No mesmo dia, Tancredo fez uma foto com sua mulher, Risoleta. Mas foi justamente naquele dia que o quadro se agravou. Tancredo sofreu hemorragia e foi levado de Brasília para o Instituto do Coração do Hospital das Clínicas, em São Paulo.

Estadão - 26 de março de 1985

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Capa do Estadão de 26 de março de 1985. Foto: Acervo Estadão

Durante o período de internação no Instituto do Coração, as ruas próximas do maior complexo hospitalar da América Latina se transformaram no principal lugar de peregrinação do País. A parte interna do hospital se tornou a sala de espera da República, com a presença de governadores, senadores, deputados, religiosos e outras figuras públicas.

Do lado de fora, populares ficavam dia e noite esperando notícias sobre o quadro de saúde do presidente acompanhados pelo batalhão de jornalistas. A agonia de Tancredo e do País se agravou em 12 de abril, quando ele era mantido vivo por aparelhos.

A última esperança foi a chegada do médico americano especialista em doenças respiratórias agudas, Warren Myron Zappol. Seu diagnóstico, em 20 de abril, de certa forma, foi o fim da agonia do País: Tancredo Neves era um paciente terminal.

Estadão - 22 de abril de 1985

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Página do Estadão de 22 de abril de 1985.  Foto: Acervo Estadão
Pessoa com uma edição do Estadão sobre a morte de Tancredo Neves. Foto: Geraldo Guimarães/Estadão

Estadão - 22 de abril de 1985

Capa do Estadão de 22 de março de 1985. Foto: Acervo Estadão

Estadão 150 anos

Uma capa emblemática para a vitória de Tancredo no colégio eleitoral

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