Contra o mau humor, o talento: os belos momentos que nos salvam da desilusão com o esporte nacional


Só o talento dos atletas para nos dar refresco, em meio aos cartolas e seus atoleiros e a falta de legado mesmo depois dos maiores eventos esportivos que o País já recebeu

Por José Trajano
Atualização:

Colocava ponto final no texto que enviaria ao Aliás, quando chegou o domingo, o último antes do Natal.

Logo cedo, lembrei que seria disputada a decisão entre Kashima e Real Madrid e me acomodei no sofá diante da televisão antes mesmo de tomar um gole de café. O Real já ganhava por 1 a 0. Fiquei surpreso com a ousadia japonesa. Os caras não são mais bobos, não. Não tiveram medo de encarar os favoritaços e foram para cima. No fim, por mais que os japoneses quisessem, aconteceu o que se previa: Real, campeão, e Cristiano Ronaldo, herói, fazendo três dos quatro gols do campeoníssimo time espanhol.

  Foto:  
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À tarde, depois do almoço, assisti a outra partida, o clássico catalão entre Barcelona e o Espanyol. E pude vibrar e me deliciar com jogadas geniais do baixinho Messi, comandando goleada de 4 a 1 do poderoso Barcelona. O argentino mostrou que não é deste planeta, fazendo coisas que até Deus duvida.

A eficiência extraordinária de Cristiano, a genialidade de Messi e o empenho admirável dos japoneses me fizeram mudar o tom terrivelmente amargo do texto que iria enviar! Ainda vestia luto pela maior tragédia da história do esporte brasileiro em todos os tempos. E andava com certa bronca do futebol. Havia perdido o ânimo para assistir a jogos depois do terrível acidente na Colômbia. 

Voltei ao texto, sem abrir mão da enorme desilusão que carrego com relação ao esporte brasileiro. E isso já faz tempo!

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Vejo pouca coisa com bons olhos para este ano. A melhor delas é a volta do prestígio da seleção brasileira, o que já aconteceu com a entrada tardia de Tite no lugar do ranzinza Dunga. Tite tirou a seleção do ridículo sexto lugar e a colocou no topo da tabela de classificação, tranquilizando a torcida brasileira e acalmando os críticos. 

Além da seleção, surge uma notícia auspiciosa: a chegada de novos treinadores em grandes times. Zé Ricardo, Roger Machado, Jair Ventura e Fábio Carille têm chance de se afirmar depois de um bom começo. A maior expectativa recai sobre Rogério Ceni, que desconfio que pode dar certo. Apoio da torcida são-paulina certamente não irá faltar.

Nossos jovens craques e revelações continuam fazendo as malas e se mandando para a Europa. Agora é a vez de Gabriel Jesus, o melhor jogador do Campeonato Brasileiro, que, aos 19 anos, irá jogar no Manchester City. Vai se juntar a Neymar, Douglas Costa, William, Philipe Coutinho e a outros talentos que se foram nos últimos anos. Mal tirou as fraldas, já vai embora. Pena!

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Os clubes permanecem administrados pelos malfadados cartolas de sempre e não conseguem tirar o pé do atoleiro, com raras exceções, a melhor delas o Flamengo, que pôs as finanças em ordem. Os dirigentes mantém salários astronômicos a técnicos e jogadores, abrindo mais ainda o buraco.

O Maracanã está na berlinda faz tempo e agora que a Odebrecth resolveu sair fora depois de amargar enorme prejuízo, vive que nem peteca disputado por dois grupos, um francês e outro brasileiro. E virou manchete nas páginas de política porque o Maracanã, além de outras obras, seria fonte de corrupção do ex-governador Sérgio Cabral.

Alguns estádios construídos para a Copa-2014 justificam o apelido de elefantes brancos. Dois anos depois da abertura da Copa esses estádios não levam público e já há especialistas defendendo que o melhor seria implodir as arenas. Manaus, Brasília, Cuiabá e Natal não têm times na primeira divisão, os campeonatos regionais não despertam atenção e a manutenção caríssima cabe às prefeituras falidas. Não foi por falta de aviso.

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No Itaquerão a situação é pra lá de complicada. A Odebrecht tirou o corpo fora sem concluir várias obras, há risco de um vazamento de água que causaria enorme deslizamento de terra na Radial Leste, importante via na zona leste, e o Corinthians não sabe como saldar a dívida estratosférica de mais de R$ 1,5 bilhão.

A CBF continua sendo um lugar onde um bando de cartolas se locupleta, se mantém no cargo por anos a fio e não contribui em nada para a melhoria do futebol brasileiro. E com um presidente que não pode viajar para fora do país para não ser preso.

Os homens da CBF não dialogam com os jogadores, não resolvem os problemas do calendário, não renovam os dirigentes e venderam a seleção para empresários internacionais.

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O Brasil organizou em sequência Pan-Americano, Jogos Militares Mundiais, Copa do Mundo, Jogos Olímpicos e Jogos Paralímpicos. E o que ficou de legado para o esporte brasileiro? Quase nada. Na ocasião das Olimpíadas, os atletas viram chegar recursos de todos os lados. Empresascomo Petrobrás, Caixa Econômica, BNDES, Banco do Brasil, Eletrobrás bancaram diversos esportes, foram criadas bolsas de apoio, como bolsa-atleta, bolsa medalha, etc.

Com o fim do ciclo olímpico as notícias são as piores possíveis: cancelamento do plano de saúde para os atletas, encerramento de algumas bolsas, fuga dos patrocinadores, denúncias de mau uso de verbas em diversas confederações, como a de natação, vôlei, levantamento de peso, judô e taekwondo.

As instalações no Parque Olímpico estão à deriva. Já houve três tentativas de licitação para definir quem irá administrar o espaço, mas a iniciativa privada foge como o diabo da cruz. A construção numa área de preservação ambiental do campo de golfe na Barraprovocou pela Justiça do Rio o bloqueio dos bens do prefeito Eduardo Paes por improbidade administrativa.

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E os atletas, como ficam? Alguns conseguiram patrocínios individuais, como a medalhista de ouro Rafaela Silva, e conseguem se manter, mas a maioria vive de pires na mão. Há gente que recebe apoio do Ministério do Esporte ou das Forças Armadas. Mas é tudo aqui e ali, não há uma política de esportes no País, não há um trabalho de base, o esporte educacional está abandonado e a educação física nas escolas é tratada com desdém pelo governo.

Tenho poucas esperanças para 2017. A única certeza que tenho é que milhões de brasileiros estarão torcendo para que a Chapecoense dê a volta por cima. Força, Chape! Outra certeza é que, a cada vez que assistir à beleza de um gênio como Messi ou a um grupo mais fraco empenhado em bater uma superpotência, como os japoneses do Kashima contra o Real, esse amargor que sinto, mesmo que temporariamente, diminuirá.

JOSÉ TRAJANO, JORNALISTA, CRIADOR DA ESPN-BRASIL, PRODUZ O CANAL ONLINE ULTRAJANO

Colocava ponto final no texto que enviaria ao Aliás, quando chegou o domingo, o último antes do Natal.

Logo cedo, lembrei que seria disputada a decisão entre Kashima e Real Madrid e me acomodei no sofá diante da televisão antes mesmo de tomar um gole de café. O Real já ganhava por 1 a 0. Fiquei surpreso com a ousadia japonesa. Os caras não são mais bobos, não. Não tiveram medo de encarar os favoritaços e foram para cima. No fim, por mais que os japoneses quisessem, aconteceu o que se previa: Real, campeão, e Cristiano Ronaldo, herói, fazendo três dos quatro gols do campeoníssimo time espanhol.

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À tarde, depois do almoço, assisti a outra partida, o clássico catalão entre Barcelona e o Espanyol. E pude vibrar e me deliciar com jogadas geniais do baixinho Messi, comandando goleada de 4 a 1 do poderoso Barcelona. O argentino mostrou que não é deste planeta, fazendo coisas que até Deus duvida.

A eficiência extraordinária de Cristiano, a genialidade de Messi e o empenho admirável dos japoneses me fizeram mudar o tom terrivelmente amargo do texto que iria enviar! Ainda vestia luto pela maior tragédia da história do esporte brasileiro em todos os tempos. E andava com certa bronca do futebol. Havia perdido o ânimo para assistir a jogos depois do terrível acidente na Colômbia. 

Voltei ao texto, sem abrir mão da enorme desilusão que carrego com relação ao esporte brasileiro. E isso já faz tempo!

Vejo pouca coisa com bons olhos para este ano. A melhor delas é a volta do prestígio da seleção brasileira, o que já aconteceu com a entrada tardia de Tite no lugar do ranzinza Dunga. Tite tirou a seleção do ridículo sexto lugar e a colocou no topo da tabela de classificação, tranquilizando a torcida brasileira e acalmando os críticos. 

Além da seleção, surge uma notícia auspiciosa: a chegada de novos treinadores em grandes times. Zé Ricardo, Roger Machado, Jair Ventura e Fábio Carille têm chance de se afirmar depois de um bom começo. A maior expectativa recai sobre Rogério Ceni, que desconfio que pode dar certo. Apoio da torcida são-paulina certamente não irá faltar.

Nossos jovens craques e revelações continuam fazendo as malas e se mandando para a Europa. Agora é a vez de Gabriel Jesus, o melhor jogador do Campeonato Brasileiro, que, aos 19 anos, irá jogar no Manchester City. Vai se juntar a Neymar, Douglas Costa, William, Philipe Coutinho e a outros talentos que se foram nos últimos anos. Mal tirou as fraldas, já vai embora. Pena!

Os clubes permanecem administrados pelos malfadados cartolas de sempre e não conseguem tirar o pé do atoleiro, com raras exceções, a melhor delas o Flamengo, que pôs as finanças em ordem. Os dirigentes mantém salários astronômicos a técnicos e jogadores, abrindo mais ainda o buraco.

O Maracanã está na berlinda faz tempo e agora que a Odebrecth resolveu sair fora depois de amargar enorme prejuízo, vive que nem peteca disputado por dois grupos, um francês e outro brasileiro. E virou manchete nas páginas de política porque o Maracanã, além de outras obras, seria fonte de corrupção do ex-governador Sérgio Cabral.

Alguns estádios construídos para a Copa-2014 justificam o apelido de elefantes brancos. Dois anos depois da abertura da Copa esses estádios não levam público e já há especialistas defendendo que o melhor seria implodir as arenas. Manaus, Brasília, Cuiabá e Natal não têm times na primeira divisão, os campeonatos regionais não despertam atenção e a manutenção caríssima cabe às prefeituras falidas. Não foi por falta de aviso.

No Itaquerão a situação é pra lá de complicada. A Odebrecht tirou o corpo fora sem concluir várias obras, há risco de um vazamento de água que causaria enorme deslizamento de terra na Radial Leste, importante via na zona leste, e o Corinthians não sabe como saldar a dívida estratosférica de mais de R$ 1,5 bilhão.

A CBF continua sendo um lugar onde um bando de cartolas se locupleta, se mantém no cargo por anos a fio e não contribui em nada para a melhoria do futebol brasileiro. E com um presidente que não pode viajar para fora do país para não ser preso.

Os homens da CBF não dialogam com os jogadores, não resolvem os problemas do calendário, não renovam os dirigentes e venderam a seleção para empresários internacionais.

O Brasil organizou em sequência Pan-Americano, Jogos Militares Mundiais, Copa do Mundo, Jogos Olímpicos e Jogos Paralímpicos. E o que ficou de legado para o esporte brasileiro? Quase nada. Na ocasião das Olimpíadas, os atletas viram chegar recursos de todos os lados. Empresascomo Petrobrás, Caixa Econômica, BNDES, Banco do Brasil, Eletrobrás bancaram diversos esportes, foram criadas bolsas de apoio, como bolsa-atleta, bolsa medalha, etc.

Com o fim do ciclo olímpico as notícias são as piores possíveis: cancelamento do plano de saúde para os atletas, encerramento de algumas bolsas, fuga dos patrocinadores, denúncias de mau uso de verbas em diversas confederações, como a de natação, vôlei, levantamento de peso, judô e taekwondo.

As instalações no Parque Olímpico estão à deriva. Já houve três tentativas de licitação para definir quem irá administrar o espaço, mas a iniciativa privada foge como o diabo da cruz. A construção numa área de preservação ambiental do campo de golfe na Barraprovocou pela Justiça do Rio o bloqueio dos bens do prefeito Eduardo Paes por improbidade administrativa.

E os atletas, como ficam? Alguns conseguiram patrocínios individuais, como a medalhista de ouro Rafaela Silva, e conseguem se manter, mas a maioria vive de pires na mão. Há gente que recebe apoio do Ministério do Esporte ou das Forças Armadas. Mas é tudo aqui e ali, não há uma política de esportes no País, não há um trabalho de base, o esporte educacional está abandonado e a educação física nas escolas é tratada com desdém pelo governo.

Tenho poucas esperanças para 2017. A única certeza que tenho é que milhões de brasileiros estarão torcendo para que a Chapecoense dê a volta por cima. Força, Chape! Outra certeza é que, a cada vez que assistir à beleza de um gênio como Messi ou a um grupo mais fraco empenhado em bater uma superpotência, como os japoneses do Kashima contra o Real, esse amargor que sinto, mesmo que temporariamente, diminuirá.

JOSÉ TRAJANO, JORNALISTA, CRIADOR DA ESPN-BRASIL, PRODUZ O CANAL ONLINE ULTRAJANO

Colocava ponto final no texto que enviaria ao Aliás, quando chegou o domingo, o último antes do Natal.

Logo cedo, lembrei que seria disputada a decisão entre Kashima e Real Madrid e me acomodei no sofá diante da televisão antes mesmo de tomar um gole de café. O Real já ganhava por 1 a 0. Fiquei surpreso com a ousadia japonesa. Os caras não são mais bobos, não. Não tiveram medo de encarar os favoritaços e foram para cima. No fim, por mais que os japoneses quisessem, aconteceu o que se previa: Real, campeão, e Cristiano Ronaldo, herói, fazendo três dos quatro gols do campeoníssimo time espanhol.

  Foto:  

À tarde, depois do almoço, assisti a outra partida, o clássico catalão entre Barcelona e o Espanyol. E pude vibrar e me deliciar com jogadas geniais do baixinho Messi, comandando goleada de 4 a 1 do poderoso Barcelona. O argentino mostrou que não é deste planeta, fazendo coisas que até Deus duvida.

A eficiência extraordinária de Cristiano, a genialidade de Messi e o empenho admirável dos japoneses me fizeram mudar o tom terrivelmente amargo do texto que iria enviar! Ainda vestia luto pela maior tragédia da história do esporte brasileiro em todos os tempos. E andava com certa bronca do futebol. Havia perdido o ânimo para assistir a jogos depois do terrível acidente na Colômbia. 

Voltei ao texto, sem abrir mão da enorme desilusão que carrego com relação ao esporte brasileiro. E isso já faz tempo!

Vejo pouca coisa com bons olhos para este ano. A melhor delas é a volta do prestígio da seleção brasileira, o que já aconteceu com a entrada tardia de Tite no lugar do ranzinza Dunga. Tite tirou a seleção do ridículo sexto lugar e a colocou no topo da tabela de classificação, tranquilizando a torcida brasileira e acalmando os críticos. 

Além da seleção, surge uma notícia auspiciosa: a chegada de novos treinadores em grandes times. Zé Ricardo, Roger Machado, Jair Ventura e Fábio Carille têm chance de se afirmar depois de um bom começo. A maior expectativa recai sobre Rogério Ceni, que desconfio que pode dar certo. Apoio da torcida são-paulina certamente não irá faltar.

Nossos jovens craques e revelações continuam fazendo as malas e se mandando para a Europa. Agora é a vez de Gabriel Jesus, o melhor jogador do Campeonato Brasileiro, que, aos 19 anos, irá jogar no Manchester City. Vai se juntar a Neymar, Douglas Costa, William, Philipe Coutinho e a outros talentos que se foram nos últimos anos. Mal tirou as fraldas, já vai embora. Pena!

Os clubes permanecem administrados pelos malfadados cartolas de sempre e não conseguem tirar o pé do atoleiro, com raras exceções, a melhor delas o Flamengo, que pôs as finanças em ordem. Os dirigentes mantém salários astronômicos a técnicos e jogadores, abrindo mais ainda o buraco.

O Maracanã está na berlinda faz tempo e agora que a Odebrecth resolveu sair fora depois de amargar enorme prejuízo, vive que nem peteca disputado por dois grupos, um francês e outro brasileiro. E virou manchete nas páginas de política porque o Maracanã, além de outras obras, seria fonte de corrupção do ex-governador Sérgio Cabral.

Alguns estádios construídos para a Copa-2014 justificam o apelido de elefantes brancos. Dois anos depois da abertura da Copa esses estádios não levam público e já há especialistas defendendo que o melhor seria implodir as arenas. Manaus, Brasília, Cuiabá e Natal não têm times na primeira divisão, os campeonatos regionais não despertam atenção e a manutenção caríssima cabe às prefeituras falidas. Não foi por falta de aviso.

No Itaquerão a situação é pra lá de complicada. A Odebrecht tirou o corpo fora sem concluir várias obras, há risco de um vazamento de água que causaria enorme deslizamento de terra na Radial Leste, importante via na zona leste, e o Corinthians não sabe como saldar a dívida estratosférica de mais de R$ 1,5 bilhão.

A CBF continua sendo um lugar onde um bando de cartolas se locupleta, se mantém no cargo por anos a fio e não contribui em nada para a melhoria do futebol brasileiro. E com um presidente que não pode viajar para fora do país para não ser preso.

Os homens da CBF não dialogam com os jogadores, não resolvem os problemas do calendário, não renovam os dirigentes e venderam a seleção para empresários internacionais.

O Brasil organizou em sequência Pan-Americano, Jogos Militares Mundiais, Copa do Mundo, Jogos Olímpicos e Jogos Paralímpicos. E o que ficou de legado para o esporte brasileiro? Quase nada. Na ocasião das Olimpíadas, os atletas viram chegar recursos de todos os lados. Empresascomo Petrobrás, Caixa Econômica, BNDES, Banco do Brasil, Eletrobrás bancaram diversos esportes, foram criadas bolsas de apoio, como bolsa-atleta, bolsa medalha, etc.

Com o fim do ciclo olímpico as notícias são as piores possíveis: cancelamento do plano de saúde para os atletas, encerramento de algumas bolsas, fuga dos patrocinadores, denúncias de mau uso de verbas em diversas confederações, como a de natação, vôlei, levantamento de peso, judô e taekwondo.

As instalações no Parque Olímpico estão à deriva. Já houve três tentativas de licitação para definir quem irá administrar o espaço, mas a iniciativa privada foge como o diabo da cruz. A construção numa área de preservação ambiental do campo de golfe na Barraprovocou pela Justiça do Rio o bloqueio dos bens do prefeito Eduardo Paes por improbidade administrativa.

E os atletas, como ficam? Alguns conseguiram patrocínios individuais, como a medalhista de ouro Rafaela Silva, e conseguem se manter, mas a maioria vive de pires na mão. Há gente que recebe apoio do Ministério do Esporte ou das Forças Armadas. Mas é tudo aqui e ali, não há uma política de esportes no País, não há um trabalho de base, o esporte educacional está abandonado e a educação física nas escolas é tratada com desdém pelo governo.

Tenho poucas esperanças para 2017. A única certeza que tenho é que milhões de brasileiros estarão torcendo para que a Chapecoense dê a volta por cima. Força, Chape! Outra certeza é que, a cada vez que assistir à beleza de um gênio como Messi ou a um grupo mais fraco empenhado em bater uma superpotência, como os japoneses do Kashima contra o Real, esse amargor que sinto, mesmo que temporariamente, diminuirá.

JOSÉ TRAJANO, JORNALISTA, CRIADOR DA ESPN-BRASIL, PRODUZ O CANAL ONLINE ULTRAJANO

Colocava ponto final no texto que enviaria ao Aliás, quando chegou o domingo, o último antes do Natal.

Logo cedo, lembrei que seria disputada a decisão entre Kashima e Real Madrid e me acomodei no sofá diante da televisão antes mesmo de tomar um gole de café. O Real já ganhava por 1 a 0. Fiquei surpreso com a ousadia japonesa. Os caras não são mais bobos, não. Não tiveram medo de encarar os favoritaços e foram para cima. No fim, por mais que os japoneses quisessem, aconteceu o que se previa: Real, campeão, e Cristiano Ronaldo, herói, fazendo três dos quatro gols do campeoníssimo time espanhol.

  Foto:  

À tarde, depois do almoço, assisti a outra partida, o clássico catalão entre Barcelona e o Espanyol. E pude vibrar e me deliciar com jogadas geniais do baixinho Messi, comandando goleada de 4 a 1 do poderoso Barcelona. O argentino mostrou que não é deste planeta, fazendo coisas que até Deus duvida.

A eficiência extraordinária de Cristiano, a genialidade de Messi e o empenho admirável dos japoneses me fizeram mudar o tom terrivelmente amargo do texto que iria enviar! Ainda vestia luto pela maior tragédia da história do esporte brasileiro em todos os tempos. E andava com certa bronca do futebol. Havia perdido o ânimo para assistir a jogos depois do terrível acidente na Colômbia. 

Voltei ao texto, sem abrir mão da enorme desilusão que carrego com relação ao esporte brasileiro. E isso já faz tempo!

Vejo pouca coisa com bons olhos para este ano. A melhor delas é a volta do prestígio da seleção brasileira, o que já aconteceu com a entrada tardia de Tite no lugar do ranzinza Dunga. Tite tirou a seleção do ridículo sexto lugar e a colocou no topo da tabela de classificação, tranquilizando a torcida brasileira e acalmando os críticos. 

Além da seleção, surge uma notícia auspiciosa: a chegada de novos treinadores em grandes times. Zé Ricardo, Roger Machado, Jair Ventura e Fábio Carille têm chance de se afirmar depois de um bom começo. A maior expectativa recai sobre Rogério Ceni, que desconfio que pode dar certo. Apoio da torcida são-paulina certamente não irá faltar.

Nossos jovens craques e revelações continuam fazendo as malas e se mandando para a Europa. Agora é a vez de Gabriel Jesus, o melhor jogador do Campeonato Brasileiro, que, aos 19 anos, irá jogar no Manchester City. Vai se juntar a Neymar, Douglas Costa, William, Philipe Coutinho e a outros talentos que se foram nos últimos anos. Mal tirou as fraldas, já vai embora. Pena!

Os clubes permanecem administrados pelos malfadados cartolas de sempre e não conseguem tirar o pé do atoleiro, com raras exceções, a melhor delas o Flamengo, que pôs as finanças em ordem. Os dirigentes mantém salários astronômicos a técnicos e jogadores, abrindo mais ainda o buraco.

O Maracanã está na berlinda faz tempo e agora que a Odebrecth resolveu sair fora depois de amargar enorme prejuízo, vive que nem peteca disputado por dois grupos, um francês e outro brasileiro. E virou manchete nas páginas de política porque o Maracanã, além de outras obras, seria fonte de corrupção do ex-governador Sérgio Cabral.

Alguns estádios construídos para a Copa-2014 justificam o apelido de elefantes brancos. Dois anos depois da abertura da Copa esses estádios não levam público e já há especialistas defendendo que o melhor seria implodir as arenas. Manaus, Brasília, Cuiabá e Natal não têm times na primeira divisão, os campeonatos regionais não despertam atenção e a manutenção caríssima cabe às prefeituras falidas. Não foi por falta de aviso.

No Itaquerão a situação é pra lá de complicada. A Odebrecht tirou o corpo fora sem concluir várias obras, há risco de um vazamento de água que causaria enorme deslizamento de terra na Radial Leste, importante via na zona leste, e o Corinthians não sabe como saldar a dívida estratosférica de mais de R$ 1,5 bilhão.

A CBF continua sendo um lugar onde um bando de cartolas se locupleta, se mantém no cargo por anos a fio e não contribui em nada para a melhoria do futebol brasileiro. E com um presidente que não pode viajar para fora do país para não ser preso.

Os homens da CBF não dialogam com os jogadores, não resolvem os problemas do calendário, não renovam os dirigentes e venderam a seleção para empresários internacionais.

O Brasil organizou em sequência Pan-Americano, Jogos Militares Mundiais, Copa do Mundo, Jogos Olímpicos e Jogos Paralímpicos. E o que ficou de legado para o esporte brasileiro? Quase nada. Na ocasião das Olimpíadas, os atletas viram chegar recursos de todos os lados. Empresascomo Petrobrás, Caixa Econômica, BNDES, Banco do Brasil, Eletrobrás bancaram diversos esportes, foram criadas bolsas de apoio, como bolsa-atleta, bolsa medalha, etc.

Com o fim do ciclo olímpico as notícias são as piores possíveis: cancelamento do plano de saúde para os atletas, encerramento de algumas bolsas, fuga dos patrocinadores, denúncias de mau uso de verbas em diversas confederações, como a de natação, vôlei, levantamento de peso, judô e taekwondo.

As instalações no Parque Olímpico estão à deriva. Já houve três tentativas de licitação para definir quem irá administrar o espaço, mas a iniciativa privada foge como o diabo da cruz. A construção numa área de preservação ambiental do campo de golfe na Barraprovocou pela Justiça do Rio o bloqueio dos bens do prefeito Eduardo Paes por improbidade administrativa.

E os atletas, como ficam? Alguns conseguiram patrocínios individuais, como a medalhista de ouro Rafaela Silva, e conseguem se manter, mas a maioria vive de pires na mão. Há gente que recebe apoio do Ministério do Esporte ou das Forças Armadas. Mas é tudo aqui e ali, não há uma política de esportes no País, não há um trabalho de base, o esporte educacional está abandonado e a educação física nas escolas é tratada com desdém pelo governo.

Tenho poucas esperanças para 2017. A única certeza que tenho é que milhões de brasileiros estarão torcendo para que a Chapecoense dê a volta por cima. Força, Chape! Outra certeza é que, a cada vez que assistir à beleza de um gênio como Messi ou a um grupo mais fraco empenhado em bater uma superpotência, como os japoneses do Kashima contra o Real, esse amargor que sinto, mesmo que temporariamente, diminuirá.

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