Coluna semanal da jornalista Maria Fernanda Rodrigues com dicas de leitura

Opinião|Qual é o sentido da vida? Livro póstumo de Contardo Calligaris busca responder


O psicanalista italiano entregou os originais de ‘O Sentido da Vida’ à editora um pouco antes de morrer, de câncer, em 2021

Por Maria Fernanda Rodrigues
Atualização:

Tem algo de triste e de bonito em ler o último texto que uma pessoa, diante da morte, entrega a uma editora para que seja publicado postumamente. É assim que percorro O Sentido da Vida, livro do psicanalista italiano Contardo Calligaris que chega às livrarias, pouco mais de dois anos depois de sua morte – em março de 2021, aos 72 anos.

Ele estava doente, sabia que não tinha volta. E retomou uma questão que o atormentou em seus últimos anos – não exatamente porque sabia que caminhava para o fim, mas porque, em 2014, ele disse em uma entrevista que o importante não era ter uma vida feliz, e, sim, uma vida interessante.

”Desde essa minha resposta, sou condenado a falar dessa questão – ou seja, do que seria, então, a felicidade – e da importância que ela teria (ou não) para mim”, ele escreveu no primeiro dos três textos do livro: Felicidade, Uma Preocupação Desnecessária. Os outros dois são Un Bel Morir e O Sentido da Vida e a Bizarra Obrigação de Sermos Felizes.

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Nesses ensaios, independentes, mas nem tanto, ele aborda questões como: O que é uma vida boa?, O que é uma vida plena?, O que é uma morte boa? Contardo cita Ana Claudia Quintana Arantes, médica de cuidados paliativos que defende que as pessoas deveriam poder, sem dor, viver a própria morte, e autora do best-seller A Morte É Um Dia Que Vale a Pena Viver (Sextante). “Porque, afinal de contas, é uma coisa que vai acontecer com você só uma vez na vida. E por que você seria privado dessa experiência?”, comenta o autor.

Ele segue: “Ninguém garante que seja uma experiência agradável ou desagradável, mas valorizar essa experiência única faz completo sentido para mim e anda junto com a ideia de ter uma vida interessante. Então eu preferiria, claro, se fosse possível, não apenas não sofrer (é meio ridículo dizer isso), mas estar vivo quando morrer”.

Em textos profundos e acessíveis, ele recorre a Sêneca e a Sócrates, fala de religião, história, filosofia, arte, liberdade e transcendência. Fala de redes sociais. E fala do pai. Uma das lições que ele deixou o ajudaria a pensar sobre como juízos estéticos, mais do que os éticos, podem orientar uma vida. “Os fascistas eram muito vulgares”, foi o que respondeu quando o filho questionou por que ele, que não era nem comunista nem socialista, arriscou tudo e lutou na Segunda Guerra.

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Ao refletir sobre todas essas questões, Contardo sugere que o sentido da vida está nela, em nós. Que a busca pela felicidade (e a vida online) nos distrai do que importa: a vida concreta. E que “fruir da vida só é possível para quem não se distrai; para quem, ao contrário, mantém um esforço constante de atenção à vida”.

O Sentido da Vida, de Contardo Calligaris, chegou às livrarias no início de maio Foto: Paidós

O Sentido da Vida

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Autor: Contardo Calligaris

Editora: Paidós (144 págs., R$ 51,90 R$ 34,90 o e-book)

Tem algo de triste e de bonito em ler o último texto que uma pessoa, diante da morte, entrega a uma editora para que seja publicado postumamente. É assim que percorro O Sentido da Vida, livro do psicanalista italiano Contardo Calligaris que chega às livrarias, pouco mais de dois anos depois de sua morte – em março de 2021, aos 72 anos.

Ele estava doente, sabia que não tinha volta. E retomou uma questão que o atormentou em seus últimos anos – não exatamente porque sabia que caminhava para o fim, mas porque, em 2014, ele disse em uma entrevista que o importante não era ter uma vida feliz, e, sim, uma vida interessante.

”Desde essa minha resposta, sou condenado a falar dessa questão – ou seja, do que seria, então, a felicidade – e da importância que ela teria (ou não) para mim”, ele escreveu no primeiro dos três textos do livro: Felicidade, Uma Preocupação Desnecessária. Os outros dois são Un Bel Morir e O Sentido da Vida e a Bizarra Obrigação de Sermos Felizes.

Nesses ensaios, independentes, mas nem tanto, ele aborda questões como: O que é uma vida boa?, O que é uma vida plena?, O que é uma morte boa? Contardo cita Ana Claudia Quintana Arantes, médica de cuidados paliativos que defende que as pessoas deveriam poder, sem dor, viver a própria morte, e autora do best-seller A Morte É Um Dia Que Vale a Pena Viver (Sextante). “Porque, afinal de contas, é uma coisa que vai acontecer com você só uma vez na vida. E por que você seria privado dessa experiência?”, comenta o autor.

Ele segue: “Ninguém garante que seja uma experiência agradável ou desagradável, mas valorizar essa experiência única faz completo sentido para mim e anda junto com a ideia de ter uma vida interessante. Então eu preferiria, claro, se fosse possível, não apenas não sofrer (é meio ridículo dizer isso), mas estar vivo quando morrer”.

Em textos profundos e acessíveis, ele recorre a Sêneca e a Sócrates, fala de religião, história, filosofia, arte, liberdade e transcendência. Fala de redes sociais. E fala do pai. Uma das lições que ele deixou o ajudaria a pensar sobre como juízos estéticos, mais do que os éticos, podem orientar uma vida. “Os fascistas eram muito vulgares”, foi o que respondeu quando o filho questionou por que ele, que não era nem comunista nem socialista, arriscou tudo e lutou na Segunda Guerra.

Ao refletir sobre todas essas questões, Contardo sugere que o sentido da vida está nela, em nós. Que a busca pela felicidade (e a vida online) nos distrai do que importa: a vida concreta. E que “fruir da vida só é possível para quem não se distrai; para quem, ao contrário, mantém um esforço constante de atenção à vida”.

O Sentido da Vida, de Contardo Calligaris, chegou às livrarias no início de maio Foto: Paidós

O Sentido da Vida

Autor: Contardo Calligaris

Editora: Paidós (144 págs., R$ 51,90 R$ 34,90 o e-book)

Tem algo de triste e de bonito em ler o último texto que uma pessoa, diante da morte, entrega a uma editora para que seja publicado postumamente. É assim que percorro O Sentido da Vida, livro do psicanalista italiano Contardo Calligaris que chega às livrarias, pouco mais de dois anos depois de sua morte – em março de 2021, aos 72 anos.

Ele estava doente, sabia que não tinha volta. E retomou uma questão que o atormentou em seus últimos anos – não exatamente porque sabia que caminhava para o fim, mas porque, em 2014, ele disse em uma entrevista que o importante não era ter uma vida feliz, e, sim, uma vida interessante.

”Desde essa minha resposta, sou condenado a falar dessa questão – ou seja, do que seria, então, a felicidade – e da importância que ela teria (ou não) para mim”, ele escreveu no primeiro dos três textos do livro: Felicidade, Uma Preocupação Desnecessária. Os outros dois são Un Bel Morir e O Sentido da Vida e a Bizarra Obrigação de Sermos Felizes.

Nesses ensaios, independentes, mas nem tanto, ele aborda questões como: O que é uma vida boa?, O que é uma vida plena?, O que é uma morte boa? Contardo cita Ana Claudia Quintana Arantes, médica de cuidados paliativos que defende que as pessoas deveriam poder, sem dor, viver a própria morte, e autora do best-seller A Morte É Um Dia Que Vale a Pena Viver (Sextante). “Porque, afinal de contas, é uma coisa que vai acontecer com você só uma vez na vida. E por que você seria privado dessa experiência?”, comenta o autor.

Ele segue: “Ninguém garante que seja uma experiência agradável ou desagradável, mas valorizar essa experiência única faz completo sentido para mim e anda junto com a ideia de ter uma vida interessante. Então eu preferiria, claro, se fosse possível, não apenas não sofrer (é meio ridículo dizer isso), mas estar vivo quando morrer”.

Em textos profundos e acessíveis, ele recorre a Sêneca e a Sócrates, fala de religião, história, filosofia, arte, liberdade e transcendência. Fala de redes sociais. E fala do pai. Uma das lições que ele deixou o ajudaria a pensar sobre como juízos estéticos, mais do que os éticos, podem orientar uma vida. “Os fascistas eram muito vulgares”, foi o que respondeu quando o filho questionou por que ele, que não era nem comunista nem socialista, arriscou tudo e lutou na Segunda Guerra.

Ao refletir sobre todas essas questões, Contardo sugere que o sentido da vida está nela, em nós. Que a busca pela felicidade (e a vida online) nos distrai do que importa: a vida concreta. E que “fruir da vida só é possível para quem não se distrai; para quem, ao contrário, mantém um esforço constante de atenção à vida”.

O Sentido da Vida, de Contardo Calligaris, chegou às livrarias no início de maio Foto: Paidós

O Sentido da Vida

Autor: Contardo Calligaris

Editora: Paidós (144 págs., R$ 51,90 R$ 34,90 o e-book)

Tem algo de triste e de bonito em ler o último texto que uma pessoa, diante da morte, entrega a uma editora para que seja publicado postumamente. É assim que percorro O Sentido da Vida, livro do psicanalista italiano Contardo Calligaris que chega às livrarias, pouco mais de dois anos depois de sua morte – em março de 2021, aos 72 anos.

Ele estava doente, sabia que não tinha volta. E retomou uma questão que o atormentou em seus últimos anos – não exatamente porque sabia que caminhava para o fim, mas porque, em 2014, ele disse em uma entrevista que o importante não era ter uma vida feliz, e, sim, uma vida interessante.

”Desde essa minha resposta, sou condenado a falar dessa questão – ou seja, do que seria, então, a felicidade – e da importância que ela teria (ou não) para mim”, ele escreveu no primeiro dos três textos do livro: Felicidade, Uma Preocupação Desnecessária. Os outros dois são Un Bel Morir e O Sentido da Vida e a Bizarra Obrigação de Sermos Felizes.

Nesses ensaios, independentes, mas nem tanto, ele aborda questões como: O que é uma vida boa?, O que é uma vida plena?, O que é uma morte boa? Contardo cita Ana Claudia Quintana Arantes, médica de cuidados paliativos que defende que as pessoas deveriam poder, sem dor, viver a própria morte, e autora do best-seller A Morte É Um Dia Que Vale a Pena Viver (Sextante). “Porque, afinal de contas, é uma coisa que vai acontecer com você só uma vez na vida. E por que você seria privado dessa experiência?”, comenta o autor.

Ele segue: “Ninguém garante que seja uma experiência agradável ou desagradável, mas valorizar essa experiência única faz completo sentido para mim e anda junto com a ideia de ter uma vida interessante. Então eu preferiria, claro, se fosse possível, não apenas não sofrer (é meio ridículo dizer isso), mas estar vivo quando morrer”.

Em textos profundos e acessíveis, ele recorre a Sêneca e a Sócrates, fala de religião, história, filosofia, arte, liberdade e transcendência. Fala de redes sociais. E fala do pai. Uma das lições que ele deixou o ajudaria a pensar sobre como juízos estéticos, mais do que os éticos, podem orientar uma vida. “Os fascistas eram muito vulgares”, foi o que respondeu quando o filho questionou por que ele, que não era nem comunista nem socialista, arriscou tudo e lutou na Segunda Guerra.

Ao refletir sobre todas essas questões, Contardo sugere que o sentido da vida está nela, em nós. Que a busca pela felicidade (e a vida online) nos distrai do que importa: a vida concreta. E que “fruir da vida só é possível para quem não se distrai; para quem, ao contrário, mantém um esforço constante de atenção à vida”.

O Sentido da Vida, de Contardo Calligaris, chegou às livrarias no início de maio Foto: Paidós

O Sentido da Vida

Autor: Contardo Calligaris

Editora: Paidós (144 págs., R$ 51,90 R$ 34,90 o e-book)

Opinião por Maria Fernanda Rodrigues

Jornalista especializada em literatura e mercado editorial

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