Como o cenário externo mais difícil pode prejudicar a queda de juros no Brasil


Alta recente do preço do petróleo pode representar uma nova pressão numa conjuntura em que a batalha dos bancos centrais contra a inflação ainda não está vencida

Por Luiz Guilherme Gerbelli
Atualização:

A recente alta das cotações do petróleo deixou o cenário externo ainda mais incerto. Para as economias emergentes, como a brasileira, a nova conjuntura internacional pode significar uma dificuldade adicional para que os bancos centrais promovam uma esperada queda dos juros.

Com o corte de produção de petróleo liderada pela Rússia e Arábia Saudita, o valor do barril chegou a se aproximar de US$ 100 (embora esta semana tenha recuado para uma faixa de US$ 85). A movimentação do preço representa uma nova pressão numa conjuntura em que a batalha dos bancos centrais contra a inflação ainda não está vencida, o que pode levar o mundo a permanecer com juros mais altos por um período prolongado. Nos Estados Unidos, por exemplo, o Federal Reserve (Fed), em sua última reunião, deixou a porta aberta para novas altas dos juros.

No Brasil, boa parte dos analistas espera que o Comitê de Política Monetária (Copom) leve a Selic - atualmente, em 12,75% ao ano - para 9% ao fim do de 2024, como revela a pesquisa Focus, conduzida pelo Banco Central. Mas no mercado financeiro os sinais de preocupação já estavam mais evidentes. Nesta semana, os juros eram precificados em 10,5% ao fim do próximo ano.

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“Na hora em que o (preço do) petróleo piora um pouco a cara da inflação, pelo menos no curto prazo, pode alimentar expectativas adicionais de postergação do momento da queda de juros. Pode contribuir para fortalecer as expectativas de manutenção dos juros elevados por mais tempo”, afirma José Júlio Senna, ex-diretor do Banco Central e chefe do Centro de Estudos Monetários do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).

Nos Estados Unidos, a alta do preço do petróleo costuma ter um impacto quase imediato para o consumidor e, portanto, nos índices de inflação, ao contrário do Brasil, em que o repasse depende de uma decisão da Petrobras.

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A subida de preço do produto é apenas mais um ingrediente numa economia que tem mostrado fragilidade nas contas públicas - diante do crescente déficit público e dos impasses em relação ao orçamento - e observado uma subida dos juros longos, numa clara indicação entre os investidores de que o caminho para o Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano) também tende a ser mais difícil.

Na reunião de setembro, o Fed manteve as taxas de juros na faixa de 5,25% a 5,5% ao ano, mas deixou claro que pode voltar a subir os juros. A economia norte-americana ainda dá alguns sinais de aquecimento - com dados fortes da indústria e uma baixa taxa de desemprego, por exemplo -, e a inflação está longe da meta, que é de 2%. Na leitura de agosto, o índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês), a medida de inflação preferida do BC dos EUA, subiu 0,4%. Na comparação anual, a alta apurada foi de 3,5%.

Sede do Federal Reserve; banco central dos EUA manteve as taxas de juros na faixa de 5,25% a 5,5% ao ano na última reunião  Foto: Mandel Ngan/AFP
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“Os americanos têm acumulado problemas na área fiscal, seja no tamanho da dívida em si, mas também na polarização que se apresenta nas discussões no Congresso”, afirma Sergio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados. “Quanto mais tempos de juros curtos e longos elevados nos EUA, maior o risco de recessão.”

Em junho, a agência Fitch rebaixou a classificação de crédito do governo norte-americano, destacando o aumento da dívida federal, estadual e dos municípios. A classificação foi reduzida um nível de AAA (a mais alta possível) para AA+.

Trava para emergentes

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A permanência de juros mais elevados nos EUA impõe uma espécie de trava para a queda dos juros ao redor do mundo. As taxas mais altas lá fora tendem, por exemplo, a enfraquecer a moeda de países emergentes, o que obriga os bancos centrais a segurarem os juros em patamares elevados. Por aqui, nesta semana, o dólar superou a barreira de R$ 5,10.

No Brasil, o ciclo de queda dos juros, chamada no mercado de “afrouxamento monetário”, é uma das grandes apostas da equipe econômica para acelerar o crescimento econômico. Neste ano, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro deve crescer cerca de 3%. Em 2024, deve ocorrer uma importante desaceleração na economia. A expectativa dos analistas é de um crescimento de 1,5%.

“O que mais atrapalha o Banco Central são os juros lá fora. É claro não só para o Brasil, mas para todos os países da América Latina, como Chile, Colômbia, México”, afirma Luciano Sobral, economista-chefe da Neo Investimentos. “Os bancos centrais não vão conseguir cortar os juros quanto gostariam se os EUA ficarem muito tempo parado com o juro no patamar atual.”

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Na última ata, o Copom sinalizou um cenário externo mais difícil e já deixou um caminho traçado, de redução da Selic em 0,5 ponto porcentual nas reuniões de novembro e dezembro, as últimas do ano. Antes do documento, uma parte do mercado chegou a projetar um corte de 0,75 ponto em um dos encontros. Na ata, o comitê chamou a atenção para a subida da taxa de juros de longo prazo nos EUA.

“Esse desconforto que está surgindo no mercado externo, com um ambiente mais incerto, deixa mais explícita a limitação que o BC brasileiro tem para levar os juros para baixo”, afirma Senna. Na segunda-feira, 2, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reconheceu que o impacto do aumento de preços da energia na inflação global deixou a barra para corte de juros mais alta no mundo.

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A economia brasileira ainda lida com incertezas no campo das contas públicas. A equipe econômica promete zerar o déficit primário no próximo ano, mas os economistas estão descrentes dessa promessa. Se quiser cumprir esse plano, o governo precisará arrecadar R$ 168,5 bilhões extras, em medidas que dependem do aval do Congresso.

“Talvez 2023 tenha sido um ano calmo, dado o que pode vir ainda no ano que vem”, afirma Sergio Vale. “Para o Brasil, é sinal de mais volatilidade no câmbio que se junta ao nosso fiscal mal encaminhado. Está dado o cenário de um câmbio pressionado. A ideia de câmbio a R$ 4,50 com o cenário internacional arisco fica fora do radar e devemos manter a previsão de taxa em torno de R$ 5 por um tempo.”

A recente alta das cotações do petróleo deixou o cenário externo ainda mais incerto. Para as economias emergentes, como a brasileira, a nova conjuntura internacional pode significar uma dificuldade adicional para que os bancos centrais promovam uma esperada queda dos juros.

Com o corte de produção de petróleo liderada pela Rússia e Arábia Saudita, o valor do barril chegou a se aproximar de US$ 100 (embora esta semana tenha recuado para uma faixa de US$ 85). A movimentação do preço representa uma nova pressão numa conjuntura em que a batalha dos bancos centrais contra a inflação ainda não está vencida, o que pode levar o mundo a permanecer com juros mais altos por um período prolongado. Nos Estados Unidos, por exemplo, o Federal Reserve (Fed), em sua última reunião, deixou a porta aberta para novas altas dos juros.

No Brasil, boa parte dos analistas espera que o Comitê de Política Monetária (Copom) leve a Selic - atualmente, em 12,75% ao ano - para 9% ao fim do de 2024, como revela a pesquisa Focus, conduzida pelo Banco Central. Mas no mercado financeiro os sinais de preocupação já estavam mais evidentes. Nesta semana, os juros eram precificados em 10,5% ao fim do próximo ano.

“Na hora em que o (preço do) petróleo piora um pouco a cara da inflação, pelo menos no curto prazo, pode alimentar expectativas adicionais de postergação do momento da queda de juros. Pode contribuir para fortalecer as expectativas de manutenção dos juros elevados por mais tempo”, afirma José Júlio Senna, ex-diretor do Banco Central e chefe do Centro de Estudos Monetários do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).

Nos Estados Unidos, a alta do preço do petróleo costuma ter um impacto quase imediato para o consumidor e, portanto, nos índices de inflação, ao contrário do Brasil, em que o repasse depende de uma decisão da Petrobras.

A subida de preço do produto é apenas mais um ingrediente numa economia que tem mostrado fragilidade nas contas públicas - diante do crescente déficit público e dos impasses em relação ao orçamento - e observado uma subida dos juros longos, numa clara indicação entre os investidores de que o caminho para o Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano) também tende a ser mais difícil.

Na reunião de setembro, o Fed manteve as taxas de juros na faixa de 5,25% a 5,5% ao ano, mas deixou claro que pode voltar a subir os juros. A economia norte-americana ainda dá alguns sinais de aquecimento - com dados fortes da indústria e uma baixa taxa de desemprego, por exemplo -, e a inflação está longe da meta, que é de 2%. Na leitura de agosto, o índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês), a medida de inflação preferida do BC dos EUA, subiu 0,4%. Na comparação anual, a alta apurada foi de 3,5%.

Sede do Federal Reserve; banco central dos EUA manteve as taxas de juros na faixa de 5,25% a 5,5% ao ano na última reunião  Foto: Mandel Ngan/AFP

“Os americanos têm acumulado problemas na área fiscal, seja no tamanho da dívida em si, mas também na polarização que se apresenta nas discussões no Congresso”, afirma Sergio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados. “Quanto mais tempos de juros curtos e longos elevados nos EUA, maior o risco de recessão.”

Em junho, a agência Fitch rebaixou a classificação de crédito do governo norte-americano, destacando o aumento da dívida federal, estadual e dos municípios. A classificação foi reduzida um nível de AAA (a mais alta possível) para AA+.

Trava para emergentes

A permanência de juros mais elevados nos EUA impõe uma espécie de trava para a queda dos juros ao redor do mundo. As taxas mais altas lá fora tendem, por exemplo, a enfraquecer a moeda de países emergentes, o que obriga os bancos centrais a segurarem os juros em patamares elevados. Por aqui, nesta semana, o dólar superou a barreira de R$ 5,10.

No Brasil, o ciclo de queda dos juros, chamada no mercado de “afrouxamento monetário”, é uma das grandes apostas da equipe econômica para acelerar o crescimento econômico. Neste ano, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro deve crescer cerca de 3%. Em 2024, deve ocorrer uma importante desaceleração na economia. A expectativa dos analistas é de um crescimento de 1,5%.

“O que mais atrapalha o Banco Central são os juros lá fora. É claro não só para o Brasil, mas para todos os países da América Latina, como Chile, Colômbia, México”, afirma Luciano Sobral, economista-chefe da Neo Investimentos. “Os bancos centrais não vão conseguir cortar os juros quanto gostariam se os EUA ficarem muito tempo parado com o juro no patamar atual.”

Na última ata, o Copom sinalizou um cenário externo mais difícil e já deixou um caminho traçado, de redução da Selic em 0,5 ponto porcentual nas reuniões de novembro e dezembro, as últimas do ano. Antes do documento, uma parte do mercado chegou a projetar um corte de 0,75 ponto em um dos encontros. Na ata, o comitê chamou a atenção para a subida da taxa de juros de longo prazo nos EUA.

“Esse desconforto que está surgindo no mercado externo, com um ambiente mais incerto, deixa mais explícita a limitação que o BC brasileiro tem para levar os juros para baixo”, afirma Senna. Na segunda-feira, 2, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reconheceu que o impacto do aumento de preços da energia na inflação global deixou a barra para corte de juros mais alta no mundo.

A economia brasileira ainda lida com incertezas no campo das contas públicas. A equipe econômica promete zerar o déficit primário no próximo ano, mas os economistas estão descrentes dessa promessa. Se quiser cumprir esse plano, o governo precisará arrecadar R$ 168,5 bilhões extras, em medidas que dependem do aval do Congresso.

“Talvez 2023 tenha sido um ano calmo, dado o que pode vir ainda no ano que vem”, afirma Sergio Vale. “Para o Brasil, é sinal de mais volatilidade no câmbio que se junta ao nosso fiscal mal encaminhado. Está dado o cenário de um câmbio pressionado. A ideia de câmbio a R$ 4,50 com o cenário internacional arisco fica fora do radar e devemos manter a previsão de taxa em torno de R$ 5 por um tempo.”

A recente alta das cotações do petróleo deixou o cenário externo ainda mais incerto. Para as economias emergentes, como a brasileira, a nova conjuntura internacional pode significar uma dificuldade adicional para que os bancos centrais promovam uma esperada queda dos juros.

Com o corte de produção de petróleo liderada pela Rússia e Arábia Saudita, o valor do barril chegou a se aproximar de US$ 100 (embora esta semana tenha recuado para uma faixa de US$ 85). A movimentação do preço representa uma nova pressão numa conjuntura em que a batalha dos bancos centrais contra a inflação ainda não está vencida, o que pode levar o mundo a permanecer com juros mais altos por um período prolongado. Nos Estados Unidos, por exemplo, o Federal Reserve (Fed), em sua última reunião, deixou a porta aberta para novas altas dos juros.

No Brasil, boa parte dos analistas espera que o Comitê de Política Monetária (Copom) leve a Selic - atualmente, em 12,75% ao ano - para 9% ao fim do de 2024, como revela a pesquisa Focus, conduzida pelo Banco Central. Mas no mercado financeiro os sinais de preocupação já estavam mais evidentes. Nesta semana, os juros eram precificados em 10,5% ao fim do próximo ano.

“Na hora em que o (preço do) petróleo piora um pouco a cara da inflação, pelo menos no curto prazo, pode alimentar expectativas adicionais de postergação do momento da queda de juros. Pode contribuir para fortalecer as expectativas de manutenção dos juros elevados por mais tempo”, afirma José Júlio Senna, ex-diretor do Banco Central e chefe do Centro de Estudos Monetários do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).

Nos Estados Unidos, a alta do preço do petróleo costuma ter um impacto quase imediato para o consumidor e, portanto, nos índices de inflação, ao contrário do Brasil, em que o repasse depende de uma decisão da Petrobras.

A subida de preço do produto é apenas mais um ingrediente numa economia que tem mostrado fragilidade nas contas públicas - diante do crescente déficit público e dos impasses em relação ao orçamento - e observado uma subida dos juros longos, numa clara indicação entre os investidores de que o caminho para o Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano) também tende a ser mais difícil.

Na reunião de setembro, o Fed manteve as taxas de juros na faixa de 5,25% a 5,5% ao ano, mas deixou claro que pode voltar a subir os juros. A economia norte-americana ainda dá alguns sinais de aquecimento - com dados fortes da indústria e uma baixa taxa de desemprego, por exemplo -, e a inflação está longe da meta, que é de 2%. Na leitura de agosto, o índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês), a medida de inflação preferida do BC dos EUA, subiu 0,4%. Na comparação anual, a alta apurada foi de 3,5%.

Sede do Federal Reserve; banco central dos EUA manteve as taxas de juros na faixa de 5,25% a 5,5% ao ano na última reunião  Foto: Mandel Ngan/AFP

“Os americanos têm acumulado problemas na área fiscal, seja no tamanho da dívida em si, mas também na polarização que se apresenta nas discussões no Congresso”, afirma Sergio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados. “Quanto mais tempos de juros curtos e longos elevados nos EUA, maior o risco de recessão.”

Em junho, a agência Fitch rebaixou a classificação de crédito do governo norte-americano, destacando o aumento da dívida federal, estadual e dos municípios. A classificação foi reduzida um nível de AAA (a mais alta possível) para AA+.

Trava para emergentes

A permanência de juros mais elevados nos EUA impõe uma espécie de trava para a queda dos juros ao redor do mundo. As taxas mais altas lá fora tendem, por exemplo, a enfraquecer a moeda de países emergentes, o que obriga os bancos centrais a segurarem os juros em patamares elevados. Por aqui, nesta semana, o dólar superou a barreira de R$ 5,10.

No Brasil, o ciclo de queda dos juros, chamada no mercado de “afrouxamento monetário”, é uma das grandes apostas da equipe econômica para acelerar o crescimento econômico. Neste ano, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro deve crescer cerca de 3%. Em 2024, deve ocorrer uma importante desaceleração na economia. A expectativa dos analistas é de um crescimento de 1,5%.

“O que mais atrapalha o Banco Central são os juros lá fora. É claro não só para o Brasil, mas para todos os países da América Latina, como Chile, Colômbia, México”, afirma Luciano Sobral, economista-chefe da Neo Investimentos. “Os bancos centrais não vão conseguir cortar os juros quanto gostariam se os EUA ficarem muito tempo parado com o juro no patamar atual.”

Na última ata, o Copom sinalizou um cenário externo mais difícil e já deixou um caminho traçado, de redução da Selic em 0,5 ponto porcentual nas reuniões de novembro e dezembro, as últimas do ano. Antes do documento, uma parte do mercado chegou a projetar um corte de 0,75 ponto em um dos encontros. Na ata, o comitê chamou a atenção para a subida da taxa de juros de longo prazo nos EUA.

“Esse desconforto que está surgindo no mercado externo, com um ambiente mais incerto, deixa mais explícita a limitação que o BC brasileiro tem para levar os juros para baixo”, afirma Senna. Na segunda-feira, 2, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reconheceu que o impacto do aumento de preços da energia na inflação global deixou a barra para corte de juros mais alta no mundo.

A economia brasileira ainda lida com incertezas no campo das contas públicas. A equipe econômica promete zerar o déficit primário no próximo ano, mas os economistas estão descrentes dessa promessa. Se quiser cumprir esse plano, o governo precisará arrecadar R$ 168,5 bilhões extras, em medidas que dependem do aval do Congresso.

“Talvez 2023 tenha sido um ano calmo, dado o que pode vir ainda no ano que vem”, afirma Sergio Vale. “Para o Brasil, é sinal de mais volatilidade no câmbio que se junta ao nosso fiscal mal encaminhado. Está dado o cenário de um câmbio pressionado. A ideia de câmbio a R$ 4,50 com o cenário internacional arisco fica fora do radar e devemos manter a previsão de taxa em torno de R$ 5 por um tempo.”

A recente alta das cotações do petróleo deixou o cenário externo ainda mais incerto. Para as economias emergentes, como a brasileira, a nova conjuntura internacional pode significar uma dificuldade adicional para que os bancos centrais promovam uma esperada queda dos juros.

Com o corte de produção de petróleo liderada pela Rússia e Arábia Saudita, o valor do barril chegou a se aproximar de US$ 100 (embora esta semana tenha recuado para uma faixa de US$ 85). A movimentação do preço representa uma nova pressão numa conjuntura em que a batalha dos bancos centrais contra a inflação ainda não está vencida, o que pode levar o mundo a permanecer com juros mais altos por um período prolongado. Nos Estados Unidos, por exemplo, o Federal Reserve (Fed), em sua última reunião, deixou a porta aberta para novas altas dos juros.

No Brasil, boa parte dos analistas espera que o Comitê de Política Monetária (Copom) leve a Selic - atualmente, em 12,75% ao ano - para 9% ao fim do de 2024, como revela a pesquisa Focus, conduzida pelo Banco Central. Mas no mercado financeiro os sinais de preocupação já estavam mais evidentes. Nesta semana, os juros eram precificados em 10,5% ao fim do próximo ano.

“Na hora em que o (preço do) petróleo piora um pouco a cara da inflação, pelo menos no curto prazo, pode alimentar expectativas adicionais de postergação do momento da queda de juros. Pode contribuir para fortalecer as expectativas de manutenção dos juros elevados por mais tempo”, afirma José Júlio Senna, ex-diretor do Banco Central e chefe do Centro de Estudos Monetários do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).

Nos Estados Unidos, a alta do preço do petróleo costuma ter um impacto quase imediato para o consumidor e, portanto, nos índices de inflação, ao contrário do Brasil, em que o repasse depende de uma decisão da Petrobras.

A subida de preço do produto é apenas mais um ingrediente numa economia que tem mostrado fragilidade nas contas públicas - diante do crescente déficit público e dos impasses em relação ao orçamento - e observado uma subida dos juros longos, numa clara indicação entre os investidores de que o caminho para o Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano) também tende a ser mais difícil.

Na reunião de setembro, o Fed manteve as taxas de juros na faixa de 5,25% a 5,5% ao ano, mas deixou claro que pode voltar a subir os juros. A economia norte-americana ainda dá alguns sinais de aquecimento - com dados fortes da indústria e uma baixa taxa de desemprego, por exemplo -, e a inflação está longe da meta, que é de 2%. Na leitura de agosto, o índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês), a medida de inflação preferida do BC dos EUA, subiu 0,4%. Na comparação anual, a alta apurada foi de 3,5%.

Sede do Federal Reserve; banco central dos EUA manteve as taxas de juros na faixa de 5,25% a 5,5% ao ano na última reunião  Foto: Mandel Ngan/AFP

“Os americanos têm acumulado problemas na área fiscal, seja no tamanho da dívida em si, mas também na polarização que se apresenta nas discussões no Congresso”, afirma Sergio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados. “Quanto mais tempos de juros curtos e longos elevados nos EUA, maior o risco de recessão.”

Em junho, a agência Fitch rebaixou a classificação de crédito do governo norte-americano, destacando o aumento da dívida federal, estadual e dos municípios. A classificação foi reduzida um nível de AAA (a mais alta possível) para AA+.

Trava para emergentes

A permanência de juros mais elevados nos EUA impõe uma espécie de trava para a queda dos juros ao redor do mundo. As taxas mais altas lá fora tendem, por exemplo, a enfraquecer a moeda de países emergentes, o que obriga os bancos centrais a segurarem os juros em patamares elevados. Por aqui, nesta semana, o dólar superou a barreira de R$ 5,10.

No Brasil, o ciclo de queda dos juros, chamada no mercado de “afrouxamento monetário”, é uma das grandes apostas da equipe econômica para acelerar o crescimento econômico. Neste ano, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro deve crescer cerca de 3%. Em 2024, deve ocorrer uma importante desaceleração na economia. A expectativa dos analistas é de um crescimento de 1,5%.

“O que mais atrapalha o Banco Central são os juros lá fora. É claro não só para o Brasil, mas para todos os países da América Latina, como Chile, Colômbia, México”, afirma Luciano Sobral, economista-chefe da Neo Investimentos. “Os bancos centrais não vão conseguir cortar os juros quanto gostariam se os EUA ficarem muito tempo parado com o juro no patamar atual.”

Na última ata, o Copom sinalizou um cenário externo mais difícil e já deixou um caminho traçado, de redução da Selic em 0,5 ponto porcentual nas reuniões de novembro e dezembro, as últimas do ano. Antes do documento, uma parte do mercado chegou a projetar um corte de 0,75 ponto em um dos encontros. Na ata, o comitê chamou a atenção para a subida da taxa de juros de longo prazo nos EUA.

“Esse desconforto que está surgindo no mercado externo, com um ambiente mais incerto, deixa mais explícita a limitação que o BC brasileiro tem para levar os juros para baixo”, afirma Senna. Na segunda-feira, 2, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reconheceu que o impacto do aumento de preços da energia na inflação global deixou a barra para corte de juros mais alta no mundo.

A economia brasileira ainda lida com incertezas no campo das contas públicas. A equipe econômica promete zerar o déficit primário no próximo ano, mas os economistas estão descrentes dessa promessa. Se quiser cumprir esse plano, o governo precisará arrecadar R$ 168,5 bilhões extras, em medidas que dependem do aval do Congresso.

“Talvez 2023 tenha sido um ano calmo, dado o que pode vir ainda no ano que vem”, afirma Sergio Vale. “Para o Brasil, é sinal de mais volatilidade no câmbio que se junta ao nosso fiscal mal encaminhado. Está dado o cenário de um câmbio pressionado. A ideia de câmbio a R$ 4,50 com o cenário internacional arisco fica fora do radar e devemos manter a previsão de taxa em torno de R$ 5 por um tempo.”

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