Da URV à PEC do Teto


É até intrigante, pode-se dizer – e não sei se os economistas concordam –, mas num período de pouco mais de 20 anos os governos brasileiros tiveram, por duas vezes, de adotar medidas ou “pacotes” – expressão antiga – de natureza heterodoxa para tentar corrigir ou consertar estragos feitos por governanças anteriores que adotavam políticas também heterodoxas.

Por Marco Antonio Rocha

No dia 1.º de março de 1994 surgia no Brasil uma estranha “moeda”, a Unidade Real de Valor (URV), que ninguém punha no bolso porque não tinha existência física. Era uma unidade monetária apenas contábil e foi recebida como um lance de extremada heterodoxia em matéria de política macroeconômica. Pérsio Arida, André Lara Resende e Edmar Bacha apareceram como os arquitetos da ousada artimanha de combate à inflação. A eles se juntariam, depois, Gustavo Franco e Pedro Malan. Ou seja, ao invés de cortar gastos públicos e aumentar juros (terapia clássica), inventaram uma “não moeda” para os preços se estabilizarem nesta não moeda, depois de totalmente perdida a noção de valor da moeda então corrente, o cruzeiro real (CR$).

Nos dias seguintes à implantação da URV, baixou no mercado e na população, ao lado de consumada perplexidade, a grande pergunta: O que é isso? Secundada por irrespondíveis incertezas: Dará certo? Até quando dura? É mais um “plano” destinado ao fracasso?

O tempo se encarregou de dissipar a perplexidade. E a boa administração da ousadia, pelo governo da época, assegurou o sucesso do que se buscava com ela: a queda quase que abrupta da inflação astronômica que vigorava no Brasil.

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Agora, no governo Temer, o ministro Henrique Meirelles apresenta a segunda ousadia heterodoxa. Não tão surpreendente como a URV, nem tão inesperada, e que atende pelo nome de PEC do Teto. Não há dúvida, porém, de que se trata de novidade em termos de política macroeconômica – e muito pouco ortodoxa.

Ao invés de baixar um “pacote” de corte de gastos, de “ajuste” rápido das contas fiscais – que talvez fosse o plano do ex-ministro da ex-presidente Dilma Rousseff Joaquim Levy, e que por isso foi demitido, ou como o então ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso fizera, antes da implantação do Plano Real –, Meirelles apresenta um “plano de contenção do crescimento endógeno dos gastos públicos”.

Teoricamente, a PEC pode ter dois efeitos ao longo do tempo: tolher o crescimento dos gastos públicos e forçar o combate à inflação, ano a ano, pois, na medida em que esta diminui, seguindo a equação da PEC, a licença para gastar vai ficando cada vez mais limitada.

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Mas a diferença entre a URV e a PEC cessa no fato de serem formas heterodoxas de ajuste e reequilíbrio.

Os contextos histórico e político de ambas são totalmente diferentes. O cansaço e a irritação pública com o problema da inflação, em 1994, eram de tal ordem que qualquer coisa que o governo Itamar fizesse seria aceita com aplausos. Já o estado de espírito da população em relação ao excesso de gastos públicos e de déficits orçamentários, bem mais leniente, permite que se discuta se a PEC é realmente necessária. Além disso, tem a diferença entre Itamar e Temer. A legitimidade de Itamar em assumir a Presidência da República não estava em discussão por nenhuma parcela da população e ele não sucedera a uma presidente e um partido político que há décadas fazem proselitismo de salvadores do povo. Fernando Collor era um político “normal”, como o próprio Itamar e como Temer. Lula, Dilma e o PT capturaram, porém, fidelidades e crenças que beiram o endeusamento, sobrepõem-se ao raciocínio político e equiparam-se a uma espécie de devoção evangélica. Muito do movimento “Fora Temer” não é apenas contra Temer, mas contra tudo e todos que infelicitam o Brasil há décadas.

Eis por que a PEC 241 precisa funcionar para, mais do que restaurar a economia destruída, aliviar as tensões que se formaram na política brasileira e que, no limite, levam a atitudes tipo black blocs – de resto, inúteis.

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JORNALISTA

No dia 1.º de março de 1994 surgia no Brasil uma estranha “moeda”, a Unidade Real de Valor (URV), que ninguém punha no bolso porque não tinha existência física. Era uma unidade monetária apenas contábil e foi recebida como um lance de extremada heterodoxia em matéria de política macroeconômica. Pérsio Arida, André Lara Resende e Edmar Bacha apareceram como os arquitetos da ousada artimanha de combate à inflação. A eles se juntariam, depois, Gustavo Franco e Pedro Malan. Ou seja, ao invés de cortar gastos públicos e aumentar juros (terapia clássica), inventaram uma “não moeda” para os preços se estabilizarem nesta não moeda, depois de totalmente perdida a noção de valor da moeda então corrente, o cruzeiro real (CR$).

Nos dias seguintes à implantação da URV, baixou no mercado e na população, ao lado de consumada perplexidade, a grande pergunta: O que é isso? Secundada por irrespondíveis incertezas: Dará certo? Até quando dura? É mais um “plano” destinado ao fracasso?

O tempo se encarregou de dissipar a perplexidade. E a boa administração da ousadia, pelo governo da época, assegurou o sucesso do que se buscava com ela: a queda quase que abrupta da inflação astronômica que vigorava no Brasil.

Agora, no governo Temer, o ministro Henrique Meirelles apresenta a segunda ousadia heterodoxa. Não tão surpreendente como a URV, nem tão inesperada, e que atende pelo nome de PEC do Teto. Não há dúvida, porém, de que se trata de novidade em termos de política macroeconômica – e muito pouco ortodoxa.

Ao invés de baixar um “pacote” de corte de gastos, de “ajuste” rápido das contas fiscais – que talvez fosse o plano do ex-ministro da ex-presidente Dilma Rousseff Joaquim Levy, e que por isso foi demitido, ou como o então ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso fizera, antes da implantação do Plano Real –, Meirelles apresenta um “plano de contenção do crescimento endógeno dos gastos públicos”.

Teoricamente, a PEC pode ter dois efeitos ao longo do tempo: tolher o crescimento dos gastos públicos e forçar o combate à inflação, ano a ano, pois, na medida em que esta diminui, seguindo a equação da PEC, a licença para gastar vai ficando cada vez mais limitada.

Mas a diferença entre a URV e a PEC cessa no fato de serem formas heterodoxas de ajuste e reequilíbrio.

Os contextos histórico e político de ambas são totalmente diferentes. O cansaço e a irritação pública com o problema da inflação, em 1994, eram de tal ordem que qualquer coisa que o governo Itamar fizesse seria aceita com aplausos. Já o estado de espírito da população em relação ao excesso de gastos públicos e de déficits orçamentários, bem mais leniente, permite que se discuta se a PEC é realmente necessária. Além disso, tem a diferença entre Itamar e Temer. A legitimidade de Itamar em assumir a Presidência da República não estava em discussão por nenhuma parcela da população e ele não sucedera a uma presidente e um partido político que há décadas fazem proselitismo de salvadores do povo. Fernando Collor era um político “normal”, como o próprio Itamar e como Temer. Lula, Dilma e o PT capturaram, porém, fidelidades e crenças que beiram o endeusamento, sobrepõem-se ao raciocínio político e equiparam-se a uma espécie de devoção evangélica. Muito do movimento “Fora Temer” não é apenas contra Temer, mas contra tudo e todos que infelicitam o Brasil há décadas.

Eis por que a PEC 241 precisa funcionar para, mais do que restaurar a economia destruída, aliviar as tensões que se formaram na política brasileira e que, no limite, levam a atitudes tipo black blocs – de resto, inúteis.

JORNALISTA

No dia 1.º de março de 1994 surgia no Brasil uma estranha “moeda”, a Unidade Real de Valor (URV), que ninguém punha no bolso porque não tinha existência física. Era uma unidade monetária apenas contábil e foi recebida como um lance de extremada heterodoxia em matéria de política macroeconômica. Pérsio Arida, André Lara Resende e Edmar Bacha apareceram como os arquitetos da ousada artimanha de combate à inflação. A eles se juntariam, depois, Gustavo Franco e Pedro Malan. Ou seja, ao invés de cortar gastos públicos e aumentar juros (terapia clássica), inventaram uma “não moeda” para os preços se estabilizarem nesta não moeda, depois de totalmente perdida a noção de valor da moeda então corrente, o cruzeiro real (CR$).

Nos dias seguintes à implantação da URV, baixou no mercado e na população, ao lado de consumada perplexidade, a grande pergunta: O que é isso? Secundada por irrespondíveis incertezas: Dará certo? Até quando dura? É mais um “plano” destinado ao fracasso?

O tempo se encarregou de dissipar a perplexidade. E a boa administração da ousadia, pelo governo da época, assegurou o sucesso do que se buscava com ela: a queda quase que abrupta da inflação astronômica que vigorava no Brasil.

Agora, no governo Temer, o ministro Henrique Meirelles apresenta a segunda ousadia heterodoxa. Não tão surpreendente como a URV, nem tão inesperada, e que atende pelo nome de PEC do Teto. Não há dúvida, porém, de que se trata de novidade em termos de política macroeconômica – e muito pouco ortodoxa.

Ao invés de baixar um “pacote” de corte de gastos, de “ajuste” rápido das contas fiscais – que talvez fosse o plano do ex-ministro da ex-presidente Dilma Rousseff Joaquim Levy, e que por isso foi demitido, ou como o então ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso fizera, antes da implantação do Plano Real –, Meirelles apresenta um “plano de contenção do crescimento endógeno dos gastos públicos”.

Teoricamente, a PEC pode ter dois efeitos ao longo do tempo: tolher o crescimento dos gastos públicos e forçar o combate à inflação, ano a ano, pois, na medida em que esta diminui, seguindo a equação da PEC, a licença para gastar vai ficando cada vez mais limitada.

Mas a diferença entre a URV e a PEC cessa no fato de serem formas heterodoxas de ajuste e reequilíbrio.

Os contextos histórico e político de ambas são totalmente diferentes. O cansaço e a irritação pública com o problema da inflação, em 1994, eram de tal ordem que qualquer coisa que o governo Itamar fizesse seria aceita com aplausos. Já o estado de espírito da população em relação ao excesso de gastos públicos e de déficits orçamentários, bem mais leniente, permite que se discuta se a PEC é realmente necessária. Além disso, tem a diferença entre Itamar e Temer. A legitimidade de Itamar em assumir a Presidência da República não estava em discussão por nenhuma parcela da população e ele não sucedera a uma presidente e um partido político que há décadas fazem proselitismo de salvadores do povo. Fernando Collor era um político “normal”, como o próprio Itamar e como Temer. Lula, Dilma e o PT capturaram, porém, fidelidades e crenças que beiram o endeusamento, sobrepõem-se ao raciocínio político e equiparam-se a uma espécie de devoção evangélica. Muito do movimento “Fora Temer” não é apenas contra Temer, mas contra tudo e todos que infelicitam o Brasil há décadas.

Eis por que a PEC 241 precisa funcionar para, mais do que restaurar a economia destruída, aliviar as tensões que se formaram na política brasileira e que, no limite, levam a atitudes tipo black blocs – de resto, inúteis.

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No dia 1.º de março de 1994 surgia no Brasil uma estranha “moeda”, a Unidade Real de Valor (URV), que ninguém punha no bolso porque não tinha existência física. Era uma unidade monetária apenas contábil e foi recebida como um lance de extremada heterodoxia em matéria de política macroeconômica. Pérsio Arida, André Lara Resende e Edmar Bacha apareceram como os arquitetos da ousada artimanha de combate à inflação. A eles se juntariam, depois, Gustavo Franco e Pedro Malan. Ou seja, ao invés de cortar gastos públicos e aumentar juros (terapia clássica), inventaram uma “não moeda” para os preços se estabilizarem nesta não moeda, depois de totalmente perdida a noção de valor da moeda então corrente, o cruzeiro real (CR$).

Nos dias seguintes à implantação da URV, baixou no mercado e na população, ao lado de consumada perplexidade, a grande pergunta: O que é isso? Secundada por irrespondíveis incertezas: Dará certo? Até quando dura? É mais um “plano” destinado ao fracasso?

O tempo se encarregou de dissipar a perplexidade. E a boa administração da ousadia, pelo governo da época, assegurou o sucesso do que se buscava com ela: a queda quase que abrupta da inflação astronômica que vigorava no Brasil.

Agora, no governo Temer, o ministro Henrique Meirelles apresenta a segunda ousadia heterodoxa. Não tão surpreendente como a URV, nem tão inesperada, e que atende pelo nome de PEC do Teto. Não há dúvida, porém, de que se trata de novidade em termos de política macroeconômica – e muito pouco ortodoxa.

Ao invés de baixar um “pacote” de corte de gastos, de “ajuste” rápido das contas fiscais – que talvez fosse o plano do ex-ministro da ex-presidente Dilma Rousseff Joaquim Levy, e que por isso foi demitido, ou como o então ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso fizera, antes da implantação do Plano Real –, Meirelles apresenta um “plano de contenção do crescimento endógeno dos gastos públicos”.

Teoricamente, a PEC pode ter dois efeitos ao longo do tempo: tolher o crescimento dos gastos públicos e forçar o combate à inflação, ano a ano, pois, na medida em que esta diminui, seguindo a equação da PEC, a licença para gastar vai ficando cada vez mais limitada.

Mas a diferença entre a URV e a PEC cessa no fato de serem formas heterodoxas de ajuste e reequilíbrio.

Os contextos histórico e político de ambas são totalmente diferentes. O cansaço e a irritação pública com o problema da inflação, em 1994, eram de tal ordem que qualquer coisa que o governo Itamar fizesse seria aceita com aplausos. Já o estado de espírito da população em relação ao excesso de gastos públicos e de déficits orçamentários, bem mais leniente, permite que se discuta se a PEC é realmente necessária. Além disso, tem a diferença entre Itamar e Temer. A legitimidade de Itamar em assumir a Presidência da República não estava em discussão por nenhuma parcela da população e ele não sucedera a uma presidente e um partido político que há décadas fazem proselitismo de salvadores do povo. Fernando Collor era um político “normal”, como o próprio Itamar e como Temer. Lula, Dilma e o PT capturaram, porém, fidelidades e crenças que beiram o endeusamento, sobrepõem-se ao raciocínio político e equiparam-se a uma espécie de devoção evangélica. Muito do movimento “Fora Temer” não é apenas contra Temer, mas contra tudo e todos que infelicitam o Brasil há décadas.

Eis por que a PEC 241 precisa funcionar para, mais do que restaurar a economia destruída, aliviar as tensões que se formaram na política brasileira e que, no limite, levam a atitudes tipo black blocs – de resto, inúteis.

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