Americanas: plano de recuperação prevê aporte de R$ 10 bi de trio de sócios e venda de jato


Valor ainda está em discussão com bancos credores e é um dos principais entraves da negociação; dívidas da varejista somam R$ 42 bilhões

Por Talita Nascimento
Atualização:

A Americanas protocolou nesta segunda-feira, 20, seu plano de recuperação judicial, que conta com cerca de R$ 42 bilhões em dívidas. A proposta é baseada no aporte de R$ 10 bilhões dos acionistas de referência, o trio formado por Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira. Esse valor, porém, ainda está em discussão com os bancos credores e é atualmente um dos principais entraves para o sucesso do plano. Além disso, no documento, a empresa afirma que ainda terá a receber de R$ 2 bilhões a R$ 3 bilhões pelo Hortifruti, por sua participação na Uni.co (dona das marcas Imaginarium e Puket) e por um jatinho - os três serão vendidos. Se o plano for aprovado como está, a companhia passará a contar com R$ 5,8 bilhões de dívida bruta em seu balanço, com a relação dívida líquida sobre o Ebitda de 2,5 vezes.

“Para toda essa mecânica funcionar, é preciso dinheiro novo. A quantidade de dinheiro novo impacta o tamanho do ‘recovery’ (redução da dívida) de todos os credores. Esse é um dos principais pontos de discussão”, disse o novo CEO da companhia, Leonardo Coelho, ao Estadão/Broadcast. Experiente, ele se diz ciente de que processos de recuperação judicial têm fases e que elas envolvem chegar muito próximo a um acordo e ver uma das partes retroagir.

“Esse não deve ser o plano final, mas tampouco é algo apenas para cumprir uma obrigação legal. Ele já tem muito do que foi discutido com os credores financeiros e fornecedores até agora. A conversa está equilibrada embora ainda não haja aceite das partes”, afirmou. Sua expectativa é que o plano seja aprovado até o terceiro trimestre. A primeira assembleia de credores para avaliar o assunto acontecerá em junho.

continua após a publicidade

Sobre o dia a dia da empresa hoje, ele diz que a situação de caixa não é confortável, mas foi normalizada. A principal razão para isso foi o empréstimo feito pelo trio de investidores no modelo DIP, específico para financiar empresas em recuperação judicial. Dos R$ 2 bilhões emprestados - que seriam descontados dos R$ 10 bilhões de aporte sinalizados até aqui - a Americanas sacou R$ 1 bilhão. Com a aprovação da Recuperação Judicial, a empresa não precisou pagar o que tinha em estoque, o que também deu alívio ao caixa. Assim, a empresa tem conseguido operar, pagando seus fornecedores praticamente à vista para novas compras.

Coelho diz que o plano existe para garantir a operação da empresa, mas que, sim, pode haver fechamento de lojas e redução de Centros de Distribuição, ainda que esse não seja o direcionamento inicial. “A operação tem de ser rentável e, hoje, precisa de ajustes para isso. O plano de transformação tem o potencial de recuperar a rentabilidade do nosso digital. Se não recuperar, terei de resolver de outro jeito. Carregar uma operação deficitária não é uma opção para um empresa em Recuperação Judicial”, afirmou.

continua após a publicidade

Ele diz acreditar ter alavancas suficientes para não enveredar por um caminho de “detonar o digital 100%”, ou seja, acabar com a operação. Hoje, um dos maiores desafios da companhia é retomar a confiança do consumidor digital. As tentativas para isso envolvem preços atrativos e bom sortimento de produtos.

O plano

Há cerca de 40 dias, as discussões voltadas ao Plano de Recuperação Judicial, conta Coelho, se dão em torno de valores mais específicos e não no formato do plano, que já está mais maduro. A proposta da companhia dá três opções aos fornecedores e quatro aos credores financeiros. Para os fornecedores, a primeira saída se destina àqueles que tem até R$ 12 mil para receber, ou que aceitam esse valor pelos seus débitos. Eles serão pagos sem deságio em até 30 dias depois da homologação do plano.

continua após a publicidade

A segunda opção é se tornar um “fornecedor colaborador” e é destinada às fabricantes estratégicas para a empresa. Propõe-se o pagamento em uma parcela única, sem deságio, em até 360 dias. No entanto, essas empresas têm de garantir, em novas vendas para a Americanas, preços equivalentes aos praticados em 2022 (com correção pela inflação), além de quantidades e condições comerciais também equivalentes. Soma-se a isso ainda o dever de voltar a conceder prazo de pagamento equivalente ao que a companhia tinha no passado, na medida em que for feito o pagamento da dívida. “Se a Americanas quitar o equivalente a 10% da dívida, esse fornecedor tem de conceder 10% do prazo de antes para novas compras”, explica Coelho.

Quem não topar nenhuma das outras duas opções, tem o deságio de 50% sobre a dívida, e o restante será pago em 48 parcelas corrigidas pelo IPCA, a partir da homologação do plano.

Financeiros

continua após a publicidade

A primeira opção para os credores financeiros, que a companhia avalia ser mais voltada para os detentores de títulos de dívida em dólar (bondholders), é o “leilão reverso voluntário”. Nele, o desconto mínimo é 70%. A companhia vai estabelecer o limite de até R$ 2,5 bilhões de pagamentos para essa modalidade.

A segunda saída, destinada principalmente aos grandes bancos, prevê a conversão de dívida em participação na Americanas. Para cada R$ 1 da capitalização a ser feita pelo trio de acionistas de referência, os credores poderão converter R$ 1 de dívida em ações. Além disso, poderão receber uma parte do saldo a vista, com deságio de 60% e converter o restante do saldo em nova dívida, a ser paga em 5 anos com 128% do CDI de remuneração.

Plano de Recuperação Judicial leva em conta aporta de R$ 10 bilhões de Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira Foto: Reprodução/Forbes; Reprodução/Youtube; e Paulo Giandalia/AE]
continua após a publicidade

Outra vantagem seria que, quem escolher essa opção, ainda terá acesso a 50% do valor arrecadado com a venda do Hortifruti, da participação da Unico e do jatinho da companhia. Esse montante será usado para recomprar dívidas desses credores, sem deságio. Nessa última cláusula, porém, é necessário que o credor volte a oferecer fiança bancária para a companhia.

Restam ainda 2 opções: a de dívida subordinada, com deságio de 60% e pagamento em 20 anos com correção pela inflação (opção que deve atender a credores que não podem converter dívidas em ação); e o ‘default option’, no qual a dívida tem 80% de desconto e é convertida em um novo título, a ser pago em 20 anos, com remuneração pela TR. A dívida subordinada garante 40% do valor devido ao credor, enquanto a última opção tem valor de “recovery virtualmente zero”.

A empresa tentou tirar da Recuperação Judicial os credores de classe 1 e 4, que se tratam de dívidas trabalhistas e com os micro e pequenos fornecedores. Ao todo, esse valor chegaria a R$ 240 milhões, mas a empresa só conseguiu pagar R$ 121 milhões até que o banco Safra conseguisse bloquear esse procedimento na Justiça. A empresa ainda vai tentar realizar esses pagamentos, mas, se não for possível, esse saldo entra no processo de recuperação também.

A Americanas protocolou nesta segunda-feira, 20, seu plano de recuperação judicial, que conta com cerca de R$ 42 bilhões em dívidas. A proposta é baseada no aporte de R$ 10 bilhões dos acionistas de referência, o trio formado por Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira. Esse valor, porém, ainda está em discussão com os bancos credores e é atualmente um dos principais entraves para o sucesso do plano. Além disso, no documento, a empresa afirma que ainda terá a receber de R$ 2 bilhões a R$ 3 bilhões pelo Hortifruti, por sua participação na Uni.co (dona das marcas Imaginarium e Puket) e por um jatinho - os três serão vendidos. Se o plano for aprovado como está, a companhia passará a contar com R$ 5,8 bilhões de dívida bruta em seu balanço, com a relação dívida líquida sobre o Ebitda de 2,5 vezes.

“Para toda essa mecânica funcionar, é preciso dinheiro novo. A quantidade de dinheiro novo impacta o tamanho do ‘recovery’ (redução da dívida) de todos os credores. Esse é um dos principais pontos de discussão”, disse o novo CEO da companhia, Leonardo Coelho, ao Estadão/Broadcast. Experiente, ele se diz ciente de que processos de recuperação judicial têm fases e que elas envolvem chegar muito próximo a um acordo e ver uma das partes retroagir.

“Esse não deve ser o plano final, mas tampouco é algo apenas para cumprir uma obrigação legal. Ele já tem muito do que foi discutido com os credores financeiros e fornecedores até agora. A conversa está equilibrada embora ainda não haja aceite das partes”, afirmou. Sua expectativa é que o plano seja aprovado até o terceiro trimestre. A primeira assembleia de credores para avaliar o assunto acontecerá em junho.

Sobre o dia a dia da empresa hoje, ele diz que a situação de caixa não é confortável, mas foi normalizada. A principal razão para isso foi o empréstimo feito pelo trio de investidores no modelo DIP, específico para financiar empresas em recuperação judicial. Dos R$ 2 bilhões emprestados - que seriam descontados dos R$ 10 bilhões de aporte sinalizados até aqui - a Americanas sacou R$ 1 bilhão. Com a aprovação da Recuperação Judicial, a empresa não precisou pagar o que tinha em estoque, o que também deu alívio ao caixa. Assim, a empresa tem conseguido operar, pagando seus fornecedores praticamente à vista para novas compras.

Coelho diz que o plano existe para garantir a operação da empresa, mas que, sim, pode haver fechamento de lojas e redução de Centros de Distribuição, ainda que esse não seja o direcionamento inicial. “A operação tem de ser rentável e, hoje, precisa de ajustes para isso. O plano de transformação tem o potencial de recuperar a rentabilidade do nosso digital. Se não recuperar, terei de resolver de outro jeito. Carregar uma operação deficitária não é uma opção para um empresa em Recuperação Judicial”, afirmou.

Ele diz acreditar ter alavancas suficientes para não enveredar por um caminho de “detonar o digital 100%”, ou seja, acabar com a operação. Hoje, um dos maiores desafios da companhia é retomar a confiança do consumidor digital. As tentativas para isso envolvem preços atrativos e bom sortimento de produtos.

O plano

Há cerca de 40 dias, as discussões voltadas ao Plano de Recuperação Judicial, conta Coelho, se dão em torno de valores mais específicos e não no formato do plano, que já está mais maduro. A proposta da companhia dá três opções aos fornecedores e quatro aos credores financeiros. Para os fornecedores, a primeira saída se destina àqueles que tem até R$ 12 mil para receber, ou que aceitam esse valor pelos seus débitos. Eles serão pagos sem deságio em até 30 dias depois da homologação do plano.

A segunda opção é se tornar um “fornecedor colaborador” e é destinada às fabricantes estratégicas para a empresa. Propõe-se o pagamento em uma parcela única, sem deságio, em até 360 dias. No entanto, essas empresas têm de garantir, em novas vendas para a Americanas, preços equivalentes aos praticados em 2022 (com correção pela inflação), além de quantidades e condições comerciais também equivalentes. Soma-se a isso ainda o dever de voltar a conceder prazo de pagamento equivalente ao que a companhia tinha no passado, na medida em que for feito o pagamento da dívida. “Se a Americanas quitar o equivalente a 10% da dívida, esse fornecedor tem de conceder 10% do prazo de antes para novas compras”, explica Coelho.

Quem não topar nenhuma das outras duas opções, tem o deságio de 50% sobre a dívida, e o restante será pago em 48 parcelas corrigidas pelo IPCA, a partir da homologação do plano.

Financeiros

A primeira opção para os credores financeiros, que a companhia avalia ser mais voltada para os detentores de títulos de dívida em dólar (bondholders), é o “leilão reverso voluntário”. Nele, o desconto mínimo é 70%. A companhia vai estabelecer o limite de até R$ 2,5 bilhões de pagamentos para essa modalidade.

A segunda saída, destinada principalmente aos grandes bancos, prevê a conversão de dívida em participação na Americanas. Para cada R$ 1 da capitalização a ser feita pelo trio de acionistas de referência, os credores poderão converter R$ 1 de dívida em ações. Além disso, poderão receber uma parte do saldo a vista, com deságio de 60% e converter o restante do saldo em nova dívida, a ser paga em 5 anos com 128% do CDI de remuneração.

Plano de Recuperação Judicial leva em conta aporta de R$ 10 bilhões de Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira Foto: Reprodução/Forbes; Reprodução/Youtube; e Paulo Giandalia/AE]

Outra vantagem seria que, quem escolher essa opção, ainda terá acesso a 50% do valor arrecadado com a venda do Hortifruti, da participação da Unico e do jatinho da companhia. Esse montante será usado para recomprar dívidas desses credores, sem deságio. Nessa última cláusula, porém, é necessário que o credor volte a oferecer fiança bancária para a companhia.

Restam ainda 2 opções: a de dívida subordinada, com deságio de 60% e pagamento em 20 anos com correção pela inflação (opção que deve atender a credores que não podem converter dívidas em ação); e o ‘default option’, no qual a dívida tem 80% de desconto e é convertida em um novo título, a ser pago em 20 anos, com remuneração pela TR. A dívida subordinada garante 40% do valor devido ao credor, enquanto a última opção tem valor de “recovery virtualmente zero”.

A empresa tentou tirar da Recuperação Judicial os credores de classe 1 e 4, que se tratam de dívidas trabalhistas e com os micro e pequenos fornecedores. Ao todo, esse valor chegaria a R$ 240 milhões, mas a empresa só conseguiu pagar R$ 121 milhões até que o banco Safra conseguisse bloquear esse procedimento na Justiça. A empresa ainda vai tentar realizar esses pagamentos, mas, se não for possível, esse saldo entra no processo de recuperação também.

A Americanas protocolou nesta segunda-feira, 20, seu plano de recuperação judicial, que conta com cerca de R$ 42 bilhões em dívidas. A proposta é baseada no aporte de R$ 10 bilhões dos acionistas de referência, o trio formado por Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira. Esse valor, porém, ainda está em discussão com os bancos credores e é atualmente um dos principais entraves para o sucesso do plano. Além disso, no documento, a empresa afirma que ainda terá a receber de R$ 2 bilhões a R$ 3 bilhões pelo Hortifruti, por sua participação na Uni.co (dona das marcas Imaginarium e Puket) e por um jatinho - os três serão vendidos. Se o plano for aprovado como está, a companhia passará a contar com R$ 5,8 bilhões de dívida bruta em seu balanço, com a relação dívida líquida sobre o Ebitda de 2,5 vezes.

“Para toda essa mecânica funcionar, é preciso dinheiro novo. A quantidade de dinheiro novo impacta o tamanho do ‘recovery’ (redução da dívida) de todos os credores. Esse é um dos principais pontos de discussão”, disse o novo CEO da companhia, Leonardo Coelho, ao Estadão/Broadcast. Experiente, ele se diz ciente de que processos de recuperação judicial têm fases e que elas envolvem chegar muito próximo a um acordo e ver uma das partes retroagir.

“Esse não deve ser o plano final, mas tampouco é algo apenas para cumprir uma obrigação legal. Ele já tem muito do que foi discutido com os credores financeiros e fornecedores até agora. A conversa está equilibrada embora ainda não haja aceite das partes”, afirmou. Sua expectativa é que o plano seja aprovado até o terceiro trimestre. A primeira assembleia de credores para avaliar o assunto acontecerá em junho.

Sobre o dia a dia da empresa hoje, ele diz que a situação de caixa não é confortável, mas foi normalizada. A principal razão para isso foi o empréstimo feito pelo trio de investidores no modelo DIP, específico para financiar empresas em recuperação judicial. Dos R$ 2 bilhões emprestados - que seriam descontados dos R$ 10 bilhões de aporte sinalizados até aqui - a Americanas sacou R$ 1 bilhão. Com a aprovação da Recuperação Judicial, a empresa não precisou pagar o que tinha em estoque, o que também deu alívio ao caixa. Assim, a empresa tem conseguido operar, pagando seus fornecedores praticamente à vista para novas compras.

Coelho diz que o plano existe para garantir a operação da empresa, mas que, sim, pode haver fechamento de lojas e redução de Centros de Distribuição, ainda que esse não seja o direcionamento inicial. “A operação tem de ser rentável e, hoje, precisa de ajustes para isso. O plano de transformação tem o potencial de recuperar a rentabilidade do nosso digital. Se não recuperar, terei de resolver de outro jeito. Carregar uma operação deficitária não é uma opção para um empresa em Recuperação Judicial”, afirmou.

Ele diz acreditar ter alavancas suficientes para não enveredar por um caminho de “detonar o digital 100%”, ou seja, acabar com a operação. Hoje, um dos maiores desafios da companhia é retomar a confiança do consumidor digital. As tentativas para isso envolvem preços atrativos e bom sortimento de produtos.

O plano

Há cerca de 40 dias, as discussões voltadas ao Plano de Recuperação Judicial, conta Coelho, se dão em torno de valores mais específicos e não no formato do plano, que já está mais maduro. A proposta da companhia dá três opções aos fornecedores e quatro aos credores financeiros. Para os fornecedores, a primeira saída se destina àqueles que tem até R$ 12 mil para receber, ou que aceitam esse valor pelos seus débitos. Eles serão pagos sem deságio em até 30 dias depois da homologação do plano.

A segunda opção é se tornar um “fornecedor colaborador” e é destinada às fabricantes estratégicas para a empresa. Propõe-se o pagamento em uma parcela única, sem deságio, em até 360 dias. No entanto, essas empresas têm de garantir, em novas vendas para a Americanas, preços equivalentes aos praticados em 2022 (com correção pela inflação), além de quantidades e condições comerciais também equivalentes. Soma-se a isso ainda o dever de voltar a conceder prazo de pagamento equivalente ao que a companhia tinha no passado, na medida em que for feito o pagamento da dívida. “Se a Americanas quitar o equivalente a 10% da dívida, esse fornecedor tem de conceder 10% do prazo de antes para novas compras”, explica Coelho.

Quem não topar nenhuma das outras duas opções, tem o deságio de 50% sobre a dívida, e o restante será pago em 48 parcelas corrigidas pelo IPCA, a partir da homologação do plano.

Financeiros

A primeira opção para os credores financeiros, que a companhia avalia ser mais voltada para os detentores de títulos de dívida em dólar (bondholders), é o “leilão reverso voluntário”. Nele, o desconto mínimo é 70%. A companhia vai estabelecer o limite de até R$ 2,5 bilhões de pagamentos para essa modalidade.

A segunda saída, destinada principalmente aos grandes bancos, prevê a conversão de dívida em participação na Americanas. Para cada R$ 1 da capitalização a ser feita pelo trio de acionistas de referência, os credores poderão converter R$ 1 de dívida em ações. Além disso, poderão receber uma parte do saldo a vista, com deságio de 60% e converter o restante do saldo em nova dívida, a ser paga em 5 anos com 128% do CDI de remuneração.

Plano de Recuperação Judicial leva em conta aporta de R$ 10 bilhões de Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira Foto: Reprodução/Forbes; Reprodução/Youtube; e Paulo Giandalia/AE]

Outra vantagem seria que, quem escolher essa opção, ainda terá acesso a 50% do valor arrecadado com a venda do Hortifruti, da participação da Unico e do jatinho da companhia. Esse montante será usado para recomprar dívidas desses credores, sem deságio. Nessa última cláusula, porém, é necessário que o credor volte a oferecer fiança bancária para a companhia.

Restam ainda 2 opções: a de dívida subordinada, com deságio de 60% e pagamento em 20 anos com correção pela inflação (opção que deve atender a credores que não podem converter dívidas em ação); e o ‘default option’, no qual a dívida tem 80% de desconto e é convertida em um novo título, a ser pago em 20 anos, com remuneração pela TR. A dívida subordinada garante 40% do valor devido ao credor, enquanto a última opção tem valor de “recovery virtualmente zero”.

A empresa tentou tirar da Recuperação Judicial os credores de classe 1 e 4, que se tratam de dívidas trabalhistas e com os micro e pequenos fornecedores. Ao todo, esse valor chegaria a R$ 240 milhões, mas a empresa só conseguiu pagar R$ 121 milhões até que o banco Safra conseguisse bloquear esse procedimento na Justiça. A empresa ainda vai tentar realizar esses pagamentos, mas, se não for possível, esse saldo entra no processo de recuperação também.

A Americanas protocolou nesta segunda-feira, 20, seu plano de recuperação judicial, que conta com cerca de R$ 42 bilhões em dívidas. A proposta é baseada no aporte de R$ 10 bilhões dos acionistas de referência, o trio formado por Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira. Esse valor, porém, ainda está em discussão com os bancos credores e é atualmente um dos principais entraves para o sucesso do plano. Além disso, no documento, a empresa afirma que ainda terá a receber de R$ 2 bilhões a R$ 3 bilhões pelo Hortifruti, por sua participação na Uni.co (dona das marcas Imaginarium e Puket) e por um jatinho - os três serão vendidos. Se o plano for aprovado como está, a companhia passará a contar com R$ 5,8 bilhões de dívida bruta em seu balanço, com a relação dívida líquida sobre o Ebitda de 2,5 vezes.

“Para toda essa mecânica funcionar, é preciso dinheiro novo. A quantidade de dinheiro novo impacta o tamanho do ‘recovery’ (redução da dívida) de todos os credores. Esse é um dos principais pontos de discussão”, disse o novo CEO da companhia, Leonardo Coelho, ao Estadão/Broadcast. Experiente, ele se diz ciente de que processos de recuperação judicial têm fases e que elas envolvem chegar muito próximo a um acordo e ver uma das partes retroagir.

“Esse não deve ser o plano final, mas tampouco é algo apenas para cumprir uma obrigação legal. Ele já tem muito do que foi discutido com os credores financeiros e fornecedores até agora. A conversa está equilibrada embora ainda não haja aceite das partes”, afirmou. Sua expectativa é que o plano seja aprovado até o terceiro trimestre. A primeira assembleia de credores para avaliar o assunto acontecerá em junho.

Sobre o dia a dia da empresa hoje, ele diz que a situação de caixa não é confortável, mas foi normalizada. A principal razão para isso foi o empréstimo feito pelo trio de investidores no modelo DIP, específico para financiar empresas em recuperação judicial. Dos R$ 2 bilhões emprestados - que seriam descontados dos R$ 10 bilhões de aporte sinalizados até aqui - a Americanas sacou R$ 1 bilhão. Com a aprovação da Recuperação Judicial, a empresa não precisou pagar o que tinha em estoque, o que também deu alívio ao caixa. Assim, a empresa tem conseguido operar, pagando seus fornecedores praticamente à vista para novas compras.

Coelho diz que o plano existe para garantir a operação da empresa, mas que, sim, pode haver fechamento de lojas e redução de Centros de Distribuição, ainda que esse não seja o direcionamento inicial. “A operação tem de ser rentável e, hoje, precisa de ajustes para isso. O plano de transformação tem o potencial de recuperar a rentabilidade do nosso digital. Se não recuperar, terei de resolver de outro jeito. Carregar uma operação deficitária não é uma opção para um empresa em Recuperação Judicial”, afirmou.

Ele diz acreditar ter alavancas suficientes para não enveredar por um caminho de “detonar o digital 100%”, ou seja, acabar com a operação. Hoje, um dos maiores desafios da companhia é retomar a confiança do consumidor digital. As tentativas para isso envolvem preços atrativos e bom sortimento de produtos.

O plano

Há cerca de 40 dias, as discussões voltadas ao Plano de Recuperação Judicial, conta Coelho, se dão em torno de valores mais específicos e não no formato do plano, que já está mais maduro. A proposta da companhia dá três opções aos fornecedores e quatro aos credores financeiros. Para os fornecedores, a primeira saída se destina àqueles que tem até R$ 12 mil para receber, ou que aceitam esse valor pelos seus débitos. Eles serão pagos sem deságio em até 30 dias depois da homologação do plano.

A segunda opção é se tornar um “fornecedor colaborador” e é destinada às fabricantes estratégicas para a empresa. Propõe-se o pagamento em uma parcela única, sem deságio, em até 360 dias. No entanto, essas empresas têm de garantir, em novas vendas para a Americanas, preços equivalentes aos praticados em 2022 (com correção pela inflação), além de quantidades e condições comerciais também equivalentes. Soma-se a isso ainda o dever de voltar a conceder prazo de pagamento equivalente ao que a companhia tinha no passado, na medida em que for feito o pagamento da dívida. “Se a Americanas quitar o equivalente a 10% da dívida, esse fornecedor tem de conceder 10% do prazo de antes para novas compras”, explica Coelho.

Quem não topar nenhuma das outras duas opções, tem o deságio de 50% sobre a dívida, e o restante será pago em 48 parcelas corrigidas pelo IPCA, a partir da homologação do plano.

Financeiros

A primeira opção para os credores financeiros, que a companhia avalia ser mais voltada para os detentores de títulos de dívida em dólar (bondholders), é o “leilão reverso voluntário”. Nele, o desconto mínimo é 70%. A companhia vai estabelecer o limite de até R$ 2,5 bilhões de pagamentos para essa modalidade.

A segunda saída, destinada principalmente aos grandes bancos, prevê a conversão de dívida em participação na Americanas. Para cada R$ 1 da capitalização a ser feita pelo trio de acionistas de referência, os credores poderão converter R$ 1 de dívida em ações. Além disso, poderão receber uma parte do saldo a vista, com deságio de 60% e converter o restante do saldo em nova dívida, a ser paga em 5 anos com 128% do CDI de remuneração.

Plano de Recuperação Judicial leva em conta aporta de R$ 10 bilhões de Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira Foto: Reprodução/Forbes; Reprodução/Youtube; e Paulo Giandalia/AE]

Outra vantagem seria que, quem escolher essa opção, ainda terá acesso a 50% do valor arrecadado com a venda do Hortifruti, da participação da Unico e do jatinho da companhia. Esse montante será usado para recomprar dívidas desses credores, sem deságio. Nessa última cláusula, porém, é necessário que o credor volte a oferecer fiança bancária para a companhia.

Restam ainda 2 opções: a de dívida subordinada, com deságio de 60% e pagamento em 20 anos com correção pela inflação (opção que deve atender a credores que não podem converter dívidas em ação); e o ‘default option’, no qual a dívida tem 80% de desconto e é convertida em um novo título, a ser pago em 20 anos, com remuneração pela TR. A dívida subordinada garante 40% do valor devido ao credor, enquanto a última opção tem valor de “recovery virtualmente zero”.

A empresa tentou tirar da Recuperação Judicial os credores de classe 1 e 4, que se tratam de dívidas trabalhistas e com os micro e pequenos fornecedores. Ao todo, esse valor chegaria a R$ 240 milhões, mas a empresa só conseguiu pagar R$ 121 milhões até que o banco Safra conseguisse bloquear esse procedimento na Justiça. A empresa ainda vai tentar realizar esses pagamentos, mas, se não for possível, esse saldo entra no processo de recuperação também.

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.