GENEBRA - Após os ataques cometidos pelo Estado Islâmico deixarem ao menos 60 mortos neste domingo, 31, nas proximidades de Damasco, na Síria, a reunião para tentar acabar com os cinco anos de guerra no país começou na Suíça em um impasse, com governo e oposição síria usando o atentado para justificarem suas intransigências.
Os representantes do governo de Bashar Assad não aceitam a imposição de precondições para sentar à mesa e a oposição insiste que não vai negociar enquanto não tiver atendidas suas “exigências humanitárias”.
Neste domingo, o mediador da ONU, Staffan de Mistura, realizou a primeira reunião com o grupo opositor Alto-Comitê de Negociações. Mas as conversas logo chegaram a um impasse em Genebra, após homens-bomba do EI matarem ao menos 60 pessoas e ferirem mais de 110 perto do santuário xiita mais sagrado da Síria. Pelo menos 25 vítimas eram combatentes xiitas.
O grupo jihadista reivindicou a autoria das três explosões, que ocorreram no bairro de Sayeda Zeinab, uma das principais bases de milícias e local de peregrinação de xiitas para verem o túmulo da filha de Ali ibn Abi Talib, considerado pelos xiitas o sucessor de Maomé. A disputa sobre a sucessão do profeta deu início ao racha entre sunitas e xiitas.
Após os ataques, o governo sírio acusou a oposição. “Isso confirma que existe uma ligação entre o terrorismo e aqueles que o financiam e grupos políticos que fingem estar contra o terrorismo”, disse o chefe da delegação do governo, Bashar Jaafari.
“Não vamos lidar com terroristas. Potências estrangeiras estão endossando agendas externas, com a meta de colocar pressão política sobre o governo ao usar o terrorismo como arma política”, afirmou, acusando a oposição de “não ser séria”.
Continuidade. Na ONU, a decisão foi manter as negociações, que, segundo os mediadores, podem levar seis meses para chegar a uma solução política que encerre o conflito que deixou mais de 260 mil mortos. O objetivo imediato das conversas é conseguir um cessar-fogo.
No início da noite, ainda havia dúvidas sobre a realização de reuniões que estavam confirmadas para hoje. A ideia era que oposição e governo se encontrassem com Mistura em reuniões separadas, mas, por e-mail, a ONU admitiu que não havia confirmação de que isso ocorreria.
A oposição não deu garantias de que continuaria negociando. “Se as violações ao povo sírio continuarem, não existe motivo para ficar e o Alto-Comitê de Negociações poderia abandonar o processo”, disse o coordenador do grupo, Riad Hijab.
Jaafari afirmou que Damasco considera a criação de corredores humanitários, acordos de cessar-fogo e troca de prisioneiros. Mas isso, segundo ele, seria resultado das negociações e não uma precondição. A oposição diz que o principal obstáculo é chegar enfraquecida ao processo. O grupo acusa os russos de terem intensificado os ataques aéreos nas semanas anteriores às reuniões.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, fez um apelo às delegações para não desistirem do processo. O secretário de Estado dos EUA, John Kerry, ressaltou que não existe solução militar para a guerra síria e pediu o fim dos bloqueios do governo em cidades do país.
Para Kerry, um avanço nas negociações minaria o poder do EI. “Um êxito em Genebra não está garantido. Mas pedimos que todos usem essa oportunidade”.
Seu navegador não suporta esse video.
Um novo comboio de ajuda humanitária com remédios e comida chegou à cidade síria de Madaya, onde os habitantes sofrem com a fome após meses de cerco das forças governamentais