‘Países latino-americanos devem superar raiva dos EUA’


Para historiador e especialista em América Latina, EUA e América Latina  têm histórico de relações ruins, mas já é hora de virar a página e iniciar um novo capítulo. Ele lança livro em São Paulo

Por Renata Tranches 

Os países da América Latina e os Estados Unidos têm histórico de relações ruins, mas já é hora de virar a página e iniciar um novo capítulo. A opinião é do historiador e especialista em América Latina, Joseph Tulchin, autor de América Latina x Estados Unidos – Uma relação turbulenta, que ele lança hoje na Livraria da Vila. Antes de embarcar para o Brasil, Tulchin conversou com o Estado

O historiador e especialista em América Latina Joseph Tulchin Foto: Divulgação

Qual o impacto das mudanças políticas recentes na região para as relações com os EUA?  Eu não focaria nas últimas mudanças e suas guinadas à esquerda, guinadas à direita. Isso é muito exagerado na  América Latina. Os dois amigos mais próximos dos Estados Unidos na região hoje são governos de esquerda: Chile e Uruguai. Eles têm excelentes relações, mutuamente benéficas. Ao mesmo tempo, (os Estados Unidos) vão muito bem também com Argentina e Colômbia, e esperamos que seja assim com (Pedro Pablo) Kuczynski, no Peru. Não se trata de esquerda contra direita. A razão dessa relação ser tão forte com Chile e Uruguai é que são ambos países que gostam do Estado de direito, têm Judiciários fortes, marcos regulatórios claros e são grandes defensores dos direitos civis e humanos. A única diferença é que Chile é muito conservador em questões sociais em razão do grande poder da Igreja. Somos (EUA) muito familiares com esses dois países porque compartilhamos os mesmos valores e eles estão à esquerda.

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Como a ‘Doutrina Obama’ mudou as relações com a região? Foi importante apenas porque estabeleceu um novo estágio. Mas não teve muito sucesso. Primeiro, porque os países na  América Latina estavam amplamente despreparados para compartilhar com essa cooperação oferecida pelo governo  Obama. Em segundo, igualmente importante, Obama herdou duas guerras. E esses são eventos políticos que ocuparam sua energia, seu tempo e a riqueza do país. Quer dizer, não tínhamos as mesmas preocupações, mas agora não sabemos. O conflito na Síria, Iraque, Líbia são problemas que não irão embora amanhã, não importa que será o próximo presidente (dos EUA). A questão é como a comunidade internacional tem intenção de lidar com esses problemas. Mas esse será outro artigo completamente diferente. Como os tipos de colonizações afetaram a forma como os países lidam com suas relações exteriores?  A coisa mais importante para se compreender é como os países na América Latina entendem sua capacidade para agir no sistema mundial. O conceito de como uma nação entende o que são ‘interesses’ e como elas agem nos sistemas internacionais. Meu livro é sobre como as nações na América Latina dão valor ao seu protagonismo. Tenho dois argumentos principais. O primeiro é que todas as nações têm capacidade de serem protagonistas. Pode ter mais ou menos, mas nunca zero poder. Todas as nações podem ser protagonistas. A questão é como fazer isso.Qual é o segundo argumento?  O segundo argumento é que as relações dos Estados Unidos com a América Latina são, historicamente, muito importantes. E os Estados Unidos têm se comportado muito mal com relação à região nos últimos 150 anos. Têm se comportado como uma potência hegemônica e os países latino-americanos não gostam disso. Eles ficam com raiva. Mas minha principal mensagem é: ‘Não se preocupe, isso é passado’. Países como o Brasil poderiam ser uma grande potência.Como são as relações entre esses dois países hoje?  Vou dar um exemplo. Os Estados Unidos se comportaram muito mal com Dilma (Rousseff), com a história da espionagem de telefonemas e e-mails. Mas Dilma, em vez de condenar aquele comportamento e pedir para renegociar uma relação melhor, se fechou em seu quarto, em sentido metafórico. Eu critico isso (no livro). Qual é a crítica?  Meu argumento é que você deve ser protagonista, deve entender seu lugar no mundo, ninguém é autônomo. Você deve aprender a superar sua raiva com os Estados Unidos porque isso é improdutivo. 

Os países da América Latina e os Estados Unidos têm histórico de relações ruins, mas já é hora de virar a página e iniciar um novo capítulo. A opinião é do historiador e especialista em América Latina, Joseph Tulchin, autor de América Latina x Estados Unidos – Uma relação turbulenta, que ele lança hoje na Livraria da Vila. Antes de embarcar para o Brasil, Tulchin conversou com o Estado

O historiador e especialista em América Latina Joseph Tulchin Foto: Divulgação

Qual o impacto das mudanças políticas recentes na região para as relações com os EUA?  Eu não focaria nas últimas mudanças e suas guinadas à esquerda, guinadas à direita. Isso é muito exagerado na  América Latina. Os dois amigos mais próximos dos Estados Unidos na região hoje são governos de esquerda: Chile e Uruguai. Eles têm excelentes relações, mutuamente benéficas. Ao mesmo tempo, (os Estados Unidos) vão muito bem também com Argentina e Colômbia, e esperamos que seja assim com (Pedro Pablo) Kuczynski, no Peru. Não se trata de esquerda contra direita. A razão dessa relação ser tão forte com Chile e Uruguai é que são ambos países que gostam do Estado de direito, têm Judiciários fortes, marcos regulatórios claros e são grandes defensores dos direitos civis e humanos. A única diferença é que Chile é muito conservador em questões sociais em razão do grande poder da Igreja. Somos (EUA) muito familiares com esses dois países porque compartilhamos os mesmos valores e eles estão à esquerda.

Como a ‘Doutrina Obama’ mudou as relações com a região? Foi importante apenas porque estabeleceu um novo estágio. Mas não teve muito sucesso. Primeiro, porque os países na  América Latina estavam amplamente despreparados para compartilhar com essa cooperação oferecida pelo governo  Obama. Em segundo, igualmente importante, Obama herdou duas guerras. E esses são eventos políticos que ocuparam sua energia, seu tempo e a riqueza do país. Quer dizer, não tínhamos as mesmas preocupações, mas agora não sabemos. O conflito na Síria, Iraque, Líbia são problemas que não irão embora amanhã, não importa que será o próximo presidente (dos EUA). A questão é como a comunidade internacional tem intenção de lidar com esses problemas. Mas esse será outro artigo completamente diferente. Como os tipos de colonizações afetaram a forma como os países lidam com suas relações exteriores?  A coisa mais importante para se compreender é como os países na América Latina entendem sua capacidade para agir no sistema mundial. O conceito de como uma nação entende o que são ‘interesses’ e como elas agem nos sistemas internacionais. Meu livro é sobre como as nações na América Latina dão valor ao seu protagonismo. Tenho dois argumentos principais. O primeiro é que todas as nações têm capacidade de serem protagonistas. Pode ter mais ou menos, mas nunca zero poder. Todas as nações podem ser protagonistas. A questão é como fazer isso.Qual é o segundo argumento?  O segundo argumento é que as relações dos Estados Unidos com a América Latina são, historicamente, muito importantes. E os Estados Unidos têm se comportado muito mal com relação à região nos últimos 150 anos. Têm se comportado como uma potência hegemônica e os países latino-americanos não gostam disso. Eles ficam com raiva. Mas minha principal mensagem é: ‘Não se preocupe, isso é passado’. Países como o Brasil poderiam ser uma grande potência.Como são as relações entre esses dois países hoje?  Vou dar um exemplo. Os Estados Unidos se comportaram muito mal com Dilma (Rousseff), com a história da espionagem de telefonemas e e-mails. Mas Dilma, em vez de condenar aquele comportamento e pedir para renegociar uma relação melhor, se fechou em seu quarto, em sentido metafórico. Eu critico isso (no livro). Qual é a crítica?  Meu argumento é que você deve ser protagonista, deve entender seu lugar no mundo, ninguém é autônomo. Você deve aprender a superar sua raiva com os Estados Unidos porque isso é improdutivo. 

Os países da América Latina e os Estados Unidos têm histórico de relações ruins, mas já é hora de virar a página e iniciar um novo capítulo. A opinião é do historiador e especialista em América Latina, Joseph Tulchin, autor de América Latina x Estados Unidos – Uma relação turbulenta, que ele lança hoje na Livraria da Vila. Antes de embarcar para o Brasil, Tulchin conversou com o Estado

O historiador e especialista em América Latina Joseph Tulchin Foto: Divulgação

Qual o impacto das mudanças políticas recentes na região para as relações com os EUA?  Eu não focaria nas últimas mudanças e suas guinadas à esquerda, guinadas à direita. Isso é muito exagerado na  América Latina. Os dois amigos mais próximos dos Estados Unidos na região hoje são governos de esquerda: Chile e Uruguai. Eles têm excelentes relações, mutuamente benéficas. Ao mesmo tempo, (os Estados Unidos) vão muito bem também com Argentina e Colômbia, e esperamos que seja assim com (Pedro Pablo) Kuczynski, no Peru. Não se trata de esquerda contra direita. A razão dessa relação ser tão forte com Chile e Uruguai é que são ambos países que gostam do Estado de direito, têm Judiciários fortes, marcos regulatórios claros e são grandes defensores dos direitos civis e humanos. A única diferença é que Chile é muito conservador em questões sociais em razão do grande poder da Igreja. Somos (EUA) muito familiares com esses dois países porque compartilhamos os mesmos valores e eles estão à esquerda.

Como a ‘Doutrina Obama’ mudou as relações com a região? Foi importante apenas porque estabeleceu um novo estágio. Mas não teve muito sucesso. Primeiro, porque os países na  América Latina estavam amplamente despreparados para compartilhar com essa cooperação oferecida pelo governo  Obama. Em segundo, igualmente importante, Obama herdou duas guerras. E esses são eventos políticos que ocuparam sua energia, seu tempo e a riqueza do país. Quer dizer, não tínhamos as mesmas preocupações, mas agora não sabemos. O conflito na Síria, Iraque, Líbia são problemas que não irão embora amanhã, não importa que será o próximo presidente (dos EUA). A questão é como a comunidade internacional tem intenção de lidar com esses problemas. Mas esse será outro artigo completamente diferente. Como os tipos de colonizações afetaram a forma como os países lidam com suas relações exteriores?  A coisa mais importante para se compreender é como os países na América Latina entendem sua capacidade para agir no sistema mundial. O conceito de como uma nação entende o que são ‘interesses’ e como elas agem nos sistemas internacionais. Meu livro é sobre como as nações na América Latina dão valor ao seu protagonismo. Tenho dois argumentos principais. O primeiro é que todas as nações têm capacidade de serem protagonistas. Pode ter mais ou menos, mas nunca zero poder. Todas as nações podem ser protagonistas. A questão é como fazer isso.Qual é o segundo argumento?  O segundo argumento é que as relações dos Estados Unidos com a América Latina são, historicamente, muito importantes. E os Estados Unidos têm se comportado muito mal com relação à região nos últimos 150 anos. Têm se comportado como uma potência hegemônica e os países latino-americanos não gostam disso. Eles ficam com raiva. Mas minha principal mensagem é: ‘Não se preocupe, isso é passado’. Países como o Brasil poderiam ser uma grande potência.Como são as relações entre esses dois países hoje?  Vou dar um exemplo. Os Estados Unidos se comportaram muito mal com Dilma (Rousseff), com a história da espionagem de telefonemas e e-mails. Mas Dilma, em vez de condenar aquele comportamento e pedir para renegociar uma relação melhor, se fechou em seu quarto, em sentido metafórico. Eu critico isso (no livro). Qual é a crítica?  Meu argumento é que você deve ser protagonista, deve entender seu lugar no mundo, ninguém é autônomo. Você deve aprender a superar sua raiva com os Estados Unidos porque isso é improdutivo. 

Os países da América Latina e os Estados Unidos têm histórico de relações ruins, mas já é hora de virar a página e iniciar um novo capítulo. A opinião é do historiador e especialista em América Latina, Joseph Tulchin, autor de América Latina x Estados Unidos – Uma relação turbulenta, que ele lança hoje na Livraria da Vila. Antes de embarcar para o Brasil, Tulchin conversou com o Estado

O historiador e especialista em América Latina Joseph Tulchin Foto: Divulgação

Qual o impacto das mudanças políticas recentes na região para as relações com os EUA?  Eu não focaria nas últimas mudanças e suas guinadas à esquerda, guinadas à direita. Isso é muito exagerado na  América Latina. Os dois amigos mais próximos dos Estados Unidos na região hoje são governos de esquerda: Chile e Uruguai. Eles têm excelentes relações, mutuamente benéficas. Ao mesmo tempo, (os Estados Unidos) vão muito bem também com Argentina e Colômbia, e esperamos que seja assim com (Pedro Pablo) Kuczynski, no Peru. Não se trata de esquerda contra direita. A razão dessa relação ser tão forte com Chile e Uruguai é que são ambos países que gostam do Estado de direito, têm Judiciários fortes, marcos regulatórios claros e são grandes defensores dos direitos civis e humanos. A única diferença é que Chile é muito conservador em questões sociais em razão do grande poder da Igreja. Somos (EUA) muito familiares com esses dois países porque compartilhamos os mesmos valores e eles estão à esquerda.

Como a ‘Doutrina Obama’ mudou as relações com a região? Foi importante apenas porque estabeleceu um novo estágio. Mas não teve muito sucesso. Primeiro, porque os países na  América Latina estavam amplamente despreparados para compartilhar com essa cooperação oferecida pelo governo  Obama. Em segundo, igualmente importante, Obama herdou duas guerras. E esses são eventos políticos que ocuparam sua energia, seu tempo e a riqueza do país. Quer dizer, não tínhamos as mesmas preocupações, mas agora não sabemos. O conflito na Síria, Iraque, Líbia são problemas que não irão embora amanhã, não importa que será o próximo presidente (dos EUA). A questão é como a comunidade internacional tem intenção de lidar com esses problemas. Mas esse será outro artigo completamente diferente. Como os tipos de colonizações afetaram a forma como os países lidam com suas relações exteriores?  A coisa mais importante para se compreender é como os países na América Latina entendem sua capacidade para agir no sistema mundial. O conceito de como uma nação entende o que são ‘interesses’ e como elas agem nos sistemas internacionais. Meu livro é sobre como as nações na América Latina dão valor ao seu protagonismo. Tenho dois argumentos principais. O primeiro é que todas as nações têm capacidade de serem protagonistas. Pode ter mais ou menos, mas nunca zero poder. Todas as nações podem ser protagonistas. A questão é como fazer isso.Qual é o segundo argumento?  O segundo argumento é que as relações dos Estados Unidos com a América Latina são, historicamente, muito importantes. E os Estados Unidos têm se comportado muito mal com relação à região nos últimos 150 anos. Têm se comportado como uma potência hegemônica e os países latino-americanos não gostam disso. Eles ficam com raiva. Mas minha principal mensagem é: ‘Não se preocupe, isso é passado’. Países como o Brasil poderiam ser uma grande potência.Como são as relações entre esses dois países hoje?  Vou dar um exemplo. Os Estados Unidos se comportaram muito mal com Dilma (Rousseff), com a história da espionagem de telefonemas e e-mails. Mas Dilma, em vez de condenar aquele comportamento e pedir para renegociar uma relação melhor, se fechou em seu quarto, em sentido metafórico. Eu critico isso (no livro). Qual é a crítica?  Meu argumento é que você deve ser protagonista, deve entender seu lugar no mundo, ninguém é autônomo. Você deve aprender a superar sua raiva com os Estados Unidos porque isso é improdutivo. 

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