Opinião|A excitação do fim de um ciclo


Agora que renascemos para uma nova realidade, queremos viver democraticamente

Por Aloísio de Toledo César

Quando um ciclo se encerra, seja cultural, seja político, um novo ciclo imediatamente se inicia. É esse o momento excitante, quase mágico, que estamos vivendo no Brasil com a eleição de um presidente da República que parece representar o oposto do que temos conhecido nos últimos anos.

Também foram eleitos para a Câmara dos Deputados e para o Senado representantes do povo em número que sugere a possibilidade de aprovação de importantes leis, capazes, quem sabe, de trazer mais igualdade aos brasileiros. O otimismo faz bem ao coração e à alma.

Muitas vezes a vida nos ensina que ao surgir um propósito superior, de interesse do País, convém relevar e passar por cima de antigos ódios e divergências pessoais. Como a Justiça tem o olhar comprido e o dever de não esquecer, é preferível deixar que ela exerça o seu papel e continue a punir aquelas pessoas de mãos cabeludas que durante 13 anos tomaram para si dinheiro do País (mão cabeluda, na linguagem policial, é aquela que vai levando todo o dinheiro que encontra pelo caminho).

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Neste momento de esperança em nossa vida, não haverá proveito algum no gesto de dar chicotadas e renovar imputações a pessoas nada honestas que cometeram erros graves, mas ficaram para trás ou atrás das grades. O ciclo dessas pessoas chegou ao fim, incluído o daquele senhor já de avançada idade que obteve o inaceitável e ilegal privilégio de permanecer não preso, e sim hospedado, num cômodo da Polícia Federal em Curitiba.

Possivelmente o tempo dele no cenário político nacional se esgotou, embora seja forçoso reconhecer sua incomparável capacidade de convencer e de ser visto com lentes de aumento por uma enorme faixa da população brasileira. Agora que renascemos para uma nova realidade, não nos podemos esquecer de que queremos viver democraticamente e que a igualdade de uma democracia é uma igualdade de diferenças, não de uniformidades. Temos de aceitar uns aos outros.

Já se levantou que a democracia clássica seria deformada porque na realidade não exige que os cidadãos propriamente ditos governem. Sob certo aspecto, a representação reduz mesmo o papel do cidadão, por permitir a delegação e a criação da estrutura na qual os ocupantes dos principais cargos de governo desenvolverão a seu gosto as políticas nem sempre desejadas pelos representados.

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Mas isso não é um defeito da democracia, e sim do inconformismo que acompanha a rotatividade dos cargos. Eleito o representante, aqueles que não o escolheram raramente demonstram a grandeza de aceitar, democraticamente, a opção feita pela maioria e se colocam em posições radicais, que acabam por prejudicar a todos.

Surgem daí desavenças políticas e partidárias, nascedouro de condenações ao sistema democrático. Chega a ser desconfortável a convicção do famoso Norberto Bobbio, quando proclama: “A democracia como autogoverno do povo é um mito que a História desmente categoricamente”. 

Felizmente, não são todos que assim pensam. No livro A Democracia e a Democracia em Norberto Bobbio, o estudioso de temas sociais João Antonio da Silva Filho relembra: “As experiências políticas vividas pela humanidade apontam que a convivência harmônica da diversidade social só ocorre na democracia e é no dinamismo dialético e na valorização da diferença que esta vai ajustando seu próprio caminho”.

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Na busca do aperfeiçoamento do regime democrático, temos de afastar a aceitação entre nós, brasileiros, da vocação autoritária ou que pretenda punições a pessoas que não sejam julgadas pelo único Poder escolhido pela Constituição brasileira para fazê-lo, o Judiciário.

Talvez a mais dramática, concisa e ideal declaração da ideologia democrática seja a de Thomas Jefferson, na declaração de independência norte-americana, que foi acolhida e expressada com diferentes palavras na Declaração Universal dos Direitos Humanos, das Nações Unidas, e merece ser relembrada sempre: “... todos os homens são criados iguais, são dotados por seu Criador de certos direitos inalienáveis, que entre eles estão a Vida, Liberdade e a procura da Felicidade; que, para assegurar esses direitos, são instituídos entre Homens Governos, que derivam seus justos poderes do consentimento dos governados; que, sempre que qualquer forma de governo tornar-se destrutiva desses fins, é direito do povo alterá-la ou aboli-la, e instituir novo governo, repousando seus fundamentos sobre os princípios e organizando seus poderes na forma que lhes pareça ter mais probabilidade de promover sua segurança e felicidade”.

Debruça-se sobre nossos olhos, neste momento em que teremos Jair Bolsonaro presidente da República, a clara visão de que o fechamento do ciclo que passou nos abre a oportunidade de revisar, dar novo significado e novo sentido ao governo democrático no Brasil que a maioria da Nação deseja. Não adiantará investir contra pessoas em geral apontadas como responsáveis por nossa infelicidade.

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Essa cobrança e essa responsabilização nunca se deverão efetivar por cada um de nós. Nem mesmo o novo presidente poderá assumir tal vocação, porque, para o governante eleito, o objetivo principal deve ser fazer o bem, uma vez que o consentimento dos eleitores tem esse propósito. Quando o governante faz o bem em busca de reconhecimento, conduta repetida no ciclo político e administrativo que se encerrou, esse é o primeiro sinal de que ele não serve, porque sinaliza propósitos continuístas.

Desde aquele momento em que as estrelas foram espalhadas pelo espaço há gente que agarra o poder com todas as forças e demonstra não querer deixá-lo para ninguém. Temos visto isso ao longo dos séculos, repetidamente. Enfim, o poder é mesmo como mulher bonita, ninguém quer deixar para o outro.

*DESEMBARGADOR APOSENTADO DO TJSP, ALOÍSIO DE TOLEDO CÉSAR FOI SECRETÁRIO DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO. E-MAIL: ALOISIO.PARANA@GMAIL.COM

Quando um ciclo se encerra, seja cultural, seja político, um novo ciclo imediatamente se inicia. É esse o momento excitante, quase mágico, que estamos vivendo no Brasil com a eleição de um presidente da República que parece representar o oposto do que temos conhecido nos últimos anos.

Também foram eleitos para a Câmara dos Deputados e para o Senado representantes do povo em número que sugere a possibilidade de aprovação de importantes leis, capazes, quem sabe, de trazer mais igualdade aos brasileiros. O otimismo faz bem ao coração e à alma.

Muitas vezes a vida nos ensina que ao surgir um propósito superior, de interesse do País, convém relevar e passar por cima de antigos ódios e divergências pessoais. Como a Justiça tem o olhar comprido e o dever de não esquecer, é preferível deixar que ela exerça o seu papel e continue a punir aquelas pessoas de mãos cabeludas que durante 13 anos tomaram para si dinheiro do País (mão cabeluda, na linguagem policial, é aquela que vai levando todo o dinheiro que encontra pelo caminho).

Neste momento de esperança em nossa vida, não haverá proveito algum no gesto de dar chicotadas e renovar imputações a pessoas nada honestas que cometeram erros graves, mas ficaram para trás ou atrás das grades. O ciclo dessas pessoas chegou ao fim, incluído o daquele senhor já de avançada idade que obteve o inaceitável e ilegal privilégio de permanecer não preso, e sim hospedado, num cômodo da Polícia Federal em Curitiba.

Possivelmente o tempo dele no cenário político nacional se esgotou, embora seja forçoso reconhecer sua incomparável capacidade de convencer e de ser visto com lentes de aumento por uma enorme faixa da população brasileira. Agora que renascemos para uma nova realidade, não nos podemos esquecer de que queremos viver democraticamente e que a igualdade de uma democracia é uma igualdade de diferenças, não de uniformidades. Temos de aceitar uns aos outros.

Já se levantou que a democracia clássica seria deformada porque na realidade não exige que os cidadãos propriamente ditos governem. Sob certo aspecto, a representação reduz mesmo o papel do cidadão, por permitir a delegação e a criação da estrutura na qual os ocupantes dos principais cargos de governo desenvolverão a seu gosto as políticas nem sempre desejadas pelos representados.

Mas isso não é um defeito da democracia, e sim do inconformismo que acompanha a rotatividade dos cargos. Eleito o representante, aqueles que não o escolheram raramente demonstram a grandeza de aceitar, democraticamente, a opção feita pela maioria e se colocam em posições radicais, que acabam por prejudicar a todos.

Surgem daí desavenças políticas e partidárias, nascedouro de condenações ao sistema democrático. Chega a ser desconfortável a convicção do famoso Norberto Bobbio, quando proclama: “A democracia como autogoverno do povo é um mito que a História desmente categoricamente”. 

Felizmente, não são todos que assim pensam. No livro A Democracia e a Democracia em Norberto Bobbio, o estudioso de temas sociais João Antonio da Silva Filho relembra: “As experiências políticas vividas pela humanidade apontam que a convivência harmônica da diversidade social só ocorre na democracia e é no dinamismo dialético e na valorização da diferença que esta vai ajustando seu próprio caminho”.

Na busca do aperfeiçoamento do regime democrático, temos de afastar a aceitação entre nós, brasileiros, da vocação autoritária ou que pretenda punições a pessoas que não sejam julgadas pelo único Poder escolhido pela Constituição brasileira para fazê-lo, o Judiciário.

Talvez a mais dramática, concisa e ideal declaração da ideologia democrática seja a de Thomas Jefferson, na declaração de independência norte-americana, que foi acolhida e expressada com diferentes palavras na Declaração Universal dos Direitos Humanos, das Nações Unidas, e merece ser relembrada sempre: “... todos os homens são criados iguais, são dotados por seu Criador de certos direitos inalienáveis, que entre eles estão a Vida, Liberdade e a procura da Felicidade; que, para assegurar esses direitos, são instituídos entre Homens Governos, que derivam seus justos poderes do consentimento dos governados; que, sempre que qualquer forma de governo tornar-se destrutiva desses fins, é direito do povo alterá-la ou aboli-la, e instituir novo governo, repousando seus fundamentos sobre os princípios e organizando seus poderes na forma que lhes pareça ter mais probabilidade de promover sua segurança e felicidade”.

Debruça-se sobre nossos olhos, neste momento em que teremos Jair Bolsonaro presidente da República, a clara visão de que o fechamento do ciclo que passou nos abre a oportunidade de revisar, dar novo significado e novo sentido ao governo democrático no Brasil que a maioria da Nação deseja. Não adiantará investir contra pessoas em geral apontadas como responsáveis por nossa infelicidade.

Essa cobrança e essa responsabilização nunca se deverão efetivar por cada um de nós. Nem mesmo o novo presidente poderá assumir tal vocação, porque, para o governante eleito, o objetivo principal deve ser fazer o bem, uma vez que o consentimento dos eleitores tem esse propósito. Quando o governante faz o bem em busca de reconhecimento, conduta repetida no ciclo político e administrativo que se encerrou, esse é o primeiro sinal de que ele não serve, porque sinaliza propósitos continuístas.

Desde aquele momento em que as estrelas foram espalhadas pelo espaço há gente que agarra o poder com todas as forças e demonstra não querer deixá-lo para ninguém. Temos visto isso ao longo dos séculos, repetidamente. Enfim, o poder é mesmo como mulher bonita, ninguém quer deixar para o outro.

*DESEMBARGADOR APOSENTADO DO TJSP, ALOÍSIO DE TOLEDO CÉSAR FOI SECRETÁRIO DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO. E-MAIL: ALOISIO.PARANA@GMAIL.COM

Quando um ciclo se encerra, seja cultural, seja político, um novo ciclo imediatamente se inicia. É esse o momento excitante, quase mágico, que estamos vivendo no Brasil com a eleição de um presidente da República que parece representar o oposto do que temos conhecido nos últimos anos.

Também foram eleitos para a Câmara dos Deputados e para o Senado representantes do povo em número que sugere a possibilidade de aprovação de importantes leis, capazes, quem sabe, de trazer mais igualdade aos brasileiros. O otimismo faz bem ao coração e à alma.

Muitas vezes a vida nos ensina que ao surgir um propósito superior, de interesse do País, convém relevar e passar por cima de antigos ódios e divergências pessoais. Como a Justiça tem o olhar comprido e o dever de não esquecer, é preferível deixar que ela exerça o seu papel e continue a punir aquelas pessoas de mãos cabeludas que durante 13 anos tomaram para si dinheiro do País (mão cabeluda, na linguagem policial, é aquela que vai levando todo o dinheiro que encontra pelo caminho).

Neste momento de esperança em nossa vida, não haverá proveito algum no gesto de dar chicotadas e renovar imputações a pessoas nada honestas que cometeram erros graves, mas ficaram para trás ou atrás das grades. O ciclo dessas pessoas chegou ao fim, incluído o daquele senhor já de avançada idade que obteve o inaceitável e ilegal privilégio de permanecer não preso, e sim hospedado, num cômodo da Polícia Federal em Curitiba.

Possivelmente o tempo dele no cenário político nacional se esgotou, embora seja forçoso reconhecer sua incomparável capacidade de convencer e de ser visto com lentes de aumento por uma enorme faixa da população brasileira. Agora que renascemos para uma nova realidade, não nos podemos esquecer de que queremos viver democraticamente e que a igualdade de uma democracia é uma igualdade de diferenças, não de uniformidades. Temos de aceitar uns aos outros.

Já se levantou que a democracia clássica seria deformada porque na realidade não exige que os cidadãos propriamente ditos governem. Sob certo aspecto, a representação reduz mesmo o papel do cidadão, por permitir a delegação e a criação da estrutura na qual os ocupantes dos principais cargos de governo desenvolverão a seu gosto as políticas nem sempre desejadas pelos representados.

Mas isso não é um defeito da democracia, e sim do inconformismo que acompanha a rotatividade dos cargos. Eleito o representante, aqueles que não o escolheram raramente demonstram a grandeza de aceitar, democraticamente, a opção feita pela maioria e se colocam em posições radicais, que acabam por prejudicar a todos.

Surgem daí desavenças políticas e partidárias, nascedouro de condenações ao sistema democrático. Chega a ser desconfortável a convicção do famoso Norberto Bobbio, quando proclama: “A democracia como autogoverno do povo é um mito que a História desmente categoricamente”. 

Felizmente, não são todos que assim pensam. No livro A Democracia e a Democracia em Norberto Bobbio, o estudioso de temas sociais João Antonio da Silva Filho relembra: “As experiências políticas vividas pela humanidade apontam que a convivência harmônica da diversidade social só ocorre na democracia e é no dinamismo dialético e na valorização da diferença que esta vai ajustando seu próprio caminho”.

Na busca do aperfeiçoamento do regime democrático, temos de afastar a aceitação entre nós, brasileiros, da vocação autoritária ou que pretenda punições a pessoas que não sejam julgadas pelo único Poder escolhido pela Constituição brasileira para fazê-lo, o Judiciário.

Talvez a mais dramática, concisa e ideal declaração da ideologia democrática seja a de Thomas Jefferson, na declaração de independência norte-americana, que foi acolhida e expressada com diferentes palavras na Declaração Universal dos Direitos Humanos, das Nações Unidas, e merece ser relembrada sempre: “... todos os homens são criados iguais, são dotados por seu Criador de certos direitos inalienáveis, que entre eles estão a Vida, Liberdade e a procura da Felicidade; que, para assegurar esses direitos, são instituídos entre Homens Governos, que derivam seus justos poderes do consentimento dos governados; que, sempre que qualquer forma de governo tornar-se destrutiva desses fins, é direito do povo alterá-la ou aboli-la, e instituir novo governo, repousando seus fundamentos sobre os princípios e organizando seus poderes na forma que lhes pareça ter mais probabilidade de promover sua segurança e felicidade”.

Debruça-se sobre nossos olhos, neste momento em que teremos Jair Bolsonaro presidente da República, a clara visão de que o fechamento do ciclo que passou nos abre a oportunidade de revisar, dar novo significado e novo sentido ao governo democrático no Brasil que a maioria da Nação deseja. Não adiantará investir contra pessoas em geral apontadas como responsáveis por nossa infelicidade.

Essa cobrança e essa responsabilização nunca se deverão efetivar por cada um de nós. Nem mesmo o novo presidente poderá assumir tal vocação, porque, para o governante eleito, o objetivo principal deve ser fazer o bem, uma vez que o consentimento dos eleitores tem esse propósito. Quando o governante faz o bem em busca de reconhecimento, conduta repetida no ciclo político e administrativo que se encerrou, esse é o primeiro sinal de que ele não serve, porque sinaliza propósitos continuístas.

Desde aquele momento em que as estrelas foram espalhadas pelo espaço há gente que agarra o poder com todas as forças e demonstra não querer deixá-lo para ninguém. Temos visto isso ao longo dos séculos, repetidamente. Enfim, o poder é mesmo como mulher bonita, ninguém quer deixar para o outro.

*DESEMBARGADOR APOSENTADO DO TJSP, ALOÍSIO DE TOLEDO CÉSAR FOI SECRETÁRIO DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO. E-MAIL: ALOISIO.PARANA@GMAIL.COM

Quando um ciclo se encerra, seja cultural, seja político, um novo ciclo imediatamente se inicia. É esse o momento excitante, quase mágico, que estamos vivendo no Brasil com a eleição de um presidente da República que parece representar o oposto do que temos conhecido nos últimos anos.

Também foram eleitos para a Câmara dos Deputados e para o Senado representantes do povo em número que sugere a possibilidade de aprovação de importantes leis, capazes, quem sabe, de trazer mais igualdade aos brasileiros. O otimismo faz bem ao coração e à alma.

Muitas vezes a vida nos ensina que ao surgir um propósito superior, de interesse do País, convém relevar e passar por cima de antigos ódios e divergências pessoais. Como a Justiça tem o olhar comprido e o dever de não esquecer, é preferível deixar que ela exerça o seu papel e continue a punir aquelas pessoas de mãos cabeludas que durante 13 anos tomaram para si dinheiro do País (mão cabeluda, na linguagem policial, é aquela que vai levando todo o dinheiro que encontra pelo caminho).

Neste momento de esperança em nossa vida, não haverá proveito algum no gesto de dar chicotadas e renovar imputações a pessoas nada honestas que cometeram erros graves, mas ficaram para trás ou atrás das grades. O ciclo dessas pessoas chegou ao fim, incluído o daquele senhor já de avançada idade que obteve o inaceitável e ilegal privilégio de permanecer não preso, e sim hospedado, num cômodo da Polícia Federal em Curitiba.

Possivelmente o tempo dele no cenário político nacional se esgotou, embora seja forçoso reconhecer sua incomparável capacidade de convencer e de ser visto com lentes de aumento por uma enorme faixa da população brasileira. Agora que renascemos para uma nova realidade, não nos podemos esquecer de que queremos viver democraticamente e que a igualdade de uma democracia é uma igualdade de diferenças, não de uniformidades. Temos de aceitar uns aos outros.

Já se levantou que a democracia clássica seria deformada porque na realidade não exige que os cidadãos propriamente ditos governem. Sob certo aspecto, a representação reduz mesmo o papel do cidadão, por permitir a delegação e a criação da estrutura na qual os ocupantes dos principais cargos de governo desenvolverão a seu gosto as políticas nem sempre desejadas pelos representados.

Mas isso não é um defeito da democracia, e sim do inconformismo que acompanha a rotatividade dos cargos. Eleito o representante, aqueles que não o escolheram raramente demonstram a grandeza de aceitar, democraticamente, a opção feita pela maioria e se colocam em posições radicais, que acabam por prejudicar a todos.

Surgem daí desavenças políticas e partidárias, nascedouro de condenações ao sistema democrático. Chega a ser desconfortável a convicção do famoso Norberto Bobbio, quando proclama: “A democracia como autogoverno do povo é um mito que a História desmente categoricamente”. 

Felizmente, não são todos que assim pensam. No livro A Democracia e a Democracia em Norberto Bobbio, o estudioso de temas sociais João Antonio da Silva Filho relembra: “As experiências políticas vividas pela humanidade apontam que a convivência harmônica da diversidade social só ocorre na democracia e é no dinamismo dialético e na valorização da diferença que esta vai ajustando seu próprio caminho”.

Na busca do aperfeiçoamento do regime democrático, temos de afastar a aceitação entre nós, brasileiros, da vocação autoritária ou que pretenda punições a pessoas que não sejam julgadas pelo único Poder escolhido pela Constituição brasileira para fazê-lo, o Judiciário.

Talvez a mais dramática, concisa e ideal declaração da ideologia democrática seja a de Thomas Jefferson, na declaração de independência norte-americana, que foi acolhida e expressada com diferentes palavras na Declaração Universal dos Direitos Humanos, das Nações Unidas, e merece ser relembrada sempre: “... todos os homens são criados iguais, são dotados por seu Criador de certos direitos inalienáveis, que entre eles estão a Vida, Liberdade e a procura da Felicidade; que, para assegurar esses direitos, são instituídos entre Homens Governos, que derivam seus justos poderes do consentimento dos governados; que, sempre que qualquer forma de governo tornar-se destrutiva desses fins, é direito do povo alterá-la ou aboli-la, e instituir novo governo, repousando seus fundamentos sobre os princípios e organizando seus poderes na forma que lhes pareça ter mais probabilidade de promover sua segurança e felicidade”.

Debruça-se sobre nossos olhos, neste momento em que teremos Jair Bolsonaro presidente da República, a clara visão de que o fechamento do ciclo que passou nos abre a oportunidade de revisar, dar novo significado e novo sentido ao governo democrático no Brasil que a maioria da Nação deseja. Não adiantará investir contra pessoas em geral apontadas como responsáveis por nossa infelicidade.

Essa cobrança e essa responsabilização nunca se deverão efetivar por cada um de nós. Nem mesmo o novo presidente poderá assumir tal vocação, porque, para o governante eleito, o objetivo principal deve ser fazer o bem, uma vez que o consentimento dos eleitores tem esse propósito. Quando o governante faz o bem em busca de reconhecimento, conduta repetida no ciclo político e administrativo que se encerrou, esse é o primeiro sinal de que ele não serve, porque sinaliza propósitos continuístas.

Desde aquele momento em que as estrelas foram espalhadas pelo espaço há gente que agarra o poder com todas as forças e demonstra não querer deixá-lo para ninguém. Temos visto isso ao longo dos séculos, repetidamente. Enfim, o poder é mesmo como mulher bonita, ninguém quer deixar para o outro.

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