A menopausa está piorando? Cientistas dizem que sim


Estudos mostram que sintomas como ondas de calor estão mais frequentes; entenda o que pode estar por trás disso

Por Dra. Trisha Pasricha

THE WASHINGTON POST – A geração da minha mãe não parecia achar que a menopausa era um grande problema. Mas minhas amigas e eu sentimos que as ondas de calor e os suores noturnos são incrivelmente desconfortáveis. A menopausa está piorando?

Resposta: A maneira como vemos a menopausa com certeza mudou em termos culturais, mas alguma coisa também parece estar mudando em termos biológicos – particularmente no que diz respeito às ondas de calor e aos suores noturnos.

Os dados mais sólidos sobre essa questão vêm da Suécia. Pesquisadores estudaram grupos de mulheres nascidas em 1918 e 1930 e as compararam com mulheres nascidas em 1954 e 1966. Ao longo de várias décadas, entrevistaram essas mulheres sobre sua experiência com ondas de calor quando completaram 50 anos.

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Eles descobriram que as mulheres das gerações mais novas tinham ondas de calor significativamente mais frequentes do que as nascidas antes. Trinta e cinco por cento das mulheres nascidas mais tarde relataram ondas de calor diárias, em comparação com 24% das mulheres das gerações anteriores.

O fogacho, as famosas ondas de calor, é um dos principais sintomas da menopausa.  Foto: Monkey Business/Adobe Stock

Aí veio a pergunta: por quê?

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Outros estudos identificaram fatores que ligam as ondas de calor a certos aspectos da saúde: por exemplo, tabagismo e IMC alto estão associados a taxas mais elevadas, e ambos os fatores mudaram ao longo dos últimos 100 anos. O nível de estresse e medicamentos como anticoncepcionais e terapia de reposição hormonal também têm um papel importante nesse quadro.

Os pesquisadores então construíram um modelo estatístico para ajustar essas possibilidades dentro do grupo de mulheres suecas. Se qualquer um desses fatores pudesse explicar a diferença nas ondas de calor entre as gerações, essa mudança desapareceria, ou pelo menos diminuiria.

Mas não foi o que aconteceu. Mesmo depois de contabilizar coisas como o IMC e o uso de medicamentos, as mulheres nascidas mais tarde tinham quase duas vezes mais chances de sofrer ondas de calor diárias do que nas gerações anteriores.

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Susan Reed, médica-cientista em saúde da mulher e professora emérita de obstetrícia e ginecologia na Universidade de Washington, concorda com as conclusões do estudo: as mulheres de hoje provavelmente sofrem mais ondas de calor do que as de gerações anteriores. Ela acredita que isso está sendo impulsionado por fatores ambientais, genéticos e sociais que são difíceis de discernir.

“A menopausa é uma grande tapeçaria entrelaçada que junta muitos fios diferentes. Não é uma linha reta ligando duas coisas apenas”, disse ela.

Por que as ondas de calor estão ficando mais frequentes?

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Uma possibilidade é que as mulheres estejam cada vez mais propensas a relatar ondas de calor porque a forma como vemos a menopausa mudou. Percorremos um longo caminho desde que o termo ménopause foi cunhado por um médico francês do século 19. (Ele escreveu um capítulo inteiro sobre como a menopausa causa histeria).

As mulheres agora são encorajadas a falar mais abertamente sobre seus sintomas do que no passado.

Mas, se aceitarmos que as mulheres do estudo sueco relataram seus sintomas com precisão para efeitos de pesquisa médica, teremos de procurar outra explicação.

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Muito do que sabemos hoje sobre a menopausa vem do Estudo da Saúde da Mulher em Todo o País (SWAN, na sigla em inglês). Esse estudo começou em 1994 e procurou compreender a transição para a menopausa dentro de uma amostra étnica e racialmente diversificada de mulheres nos Estados Unidos. Inscreveu 3.302 mulheres com idades entre 42 e 52 anos cuja menstruação ainda não havia parado e ainda hoje as acompanha.

Esse estudo é monumental no mundo da saúde da mulher – existem poucas pesquisas como esta (o estudo sueco se baseou principalmente em mulheres brancas e relativamente magras). Com o SWAN, aprendemos que, em comparação com as mulheres brancas, as de origem chinesa e japonesa têm ciclos menstruais mais longos, e as mulheres negras têm uma transição para a menopausa mais demorada – com sintomas de ondas de calor e suores noturnos que duram em média dez anos. O estudo também descobriu que era menos provável que as mulheres negras recebessem tratamento para esses sintomas em comparação com as mulheres brancas.

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O SWAN revelou que vários fatores – como menor nível de escolaridade e maior estresse e ansiedade – estavam ligados a uma incidência de ondas de calor e suores noturnos por um período mais longo.

Segundo Reed, é importante conhecer essas associações. Por exemplo, tratamentos conhecidos por atenuar o estresse, como a terapia cognitivo-comportamental, podem melhorar as ondas de calor e os suores noturnos. Alguns cientistas também argumentam que as mudanças ambientais, como a poluição e o aumento das temperaturas globais, agravam a percepção das ondas de calor.

Mas esses fatores não explicam tudo, especialmente quando se trata de diferenças intergeracionais. Provavelmente são marcadores de algo que a ciência ainda não descobriu.

Uma dessas possibilidades são as mudanças epigenéticas – ou seja, mudanças que ocorrem no nosso DNA ao longo da vida.

“Nosso DNA é mais complexo do que aquilo que é transmitido por meio de óvulos e espermatozoides”, disse Reed. “Não resta dúvida de que a complexidade do ambiente está modificando nosso DNA, quando observamos o comportamento ao longo do tempo e como os organismos se adaptam”.

Por exemplo, explicou ela, os bebês nascidos de mães obesas sofrem modificações no DNA que podem aumentar o risco de obesidade e doenças cardiovasculares mais tarde na vida.

Os cientistas também observaram mudanças epigenéticas em pacientes que passam pela menopausa precoce e entre aquelas com ondas de calor mais graves. Mas resta saber exatamente o que está desencadeando tais mudanças – e qual papel elas podem ter na formação dos sintomas.

O que quero que minhas pacientes saibam

Viver a menopausa é um processo normal, mas nunca devemos normalizar o sofrimento. Se você está incomodada com as ondas de calor e elas estão diminuindo sua capacidade de aproveitar a vida cotidiana, converse com seu médico e procure ajuda.

Falar sobre seus sintomas pode indicar a seu médico outros fatores de risco potenciais – por exemplo, mulheres com ondas de calor intensas têm maior risco de ataque cardíaco ou derrame. Encontre um médico que leve seus sintomas a sério e não jogue suas experiências para debaixo do tapete. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

THE WASHINGTON POST – A geração da minha mãe não parecia achar que a menopausa era um grande problema. Mas minhas amigas e eu sentimos que as ondas de calor e os suores noturnos são incrivelmente desconfortáveis. A menopausa está piorando?

Resposta: A maneira como vemos a menopausa com certeza mudou em termos culturais, mas alguma coisa também parece estar mudando em termos biológicos – particularmente no que diz respeito às ondas de calor e aos suores noturnos.

Os dados mais sólidos sobre essa questão vêm da Suécia. Pesquisadores estudaram grupos de mulheres nascidas em 1918 e 1930 e as compararam com mulheres nascidas em 1954 e 1966. Ao longo de várias décadas, entrevistaram essas mulheres sobre sua experiência com ondas de calor quando completaram 50 anos.

Eles descobriram que as mulheres das gerações mais novas tinham ondas de calor significativamente mais frequentes do que as nascidas antes. Trinta e cinco por cento das mulheres nascidas mais tarde relataram ondas de calor diárias, em comparação com 24% das mulheres das gerações anteriores.

O fogacho, as famosas ondas de calor, é um dos principais sintomas da menopausa.  Foto: Monkey Business/Adobe Stock

Aí veio a pergunta: por quê?

Outros estudos identificaram fatores que ligam as ondas de calor a certos aspectos da saúde: por exemplo, tabagismo e IMC alto estão associados a taxas mais elevadas, e ambos os fatores mudaram ao longo dos últimos 100 anos. O nível de estresse e medicamentos como anticoncepcionais e terapia de reposição hormonal também têm um papel importante nesse quadro.

Os pesquisadores então construíram um modelo estatístico para ajustar essas possibilidades dentro do grupo de mulheres suecas. Se qualquer um desses fatores pudesse explicar a diferença nas ondas de calor entre as gerações, essa mudança desapareceria, ou pelo menos diminuiria.

Mas não foi o que aconteceu. Mesmo depois de contabilizar coisas como o IMC e o uso de medicamentos, as mulheres nascidas mais tarde tinham quase duas vezes mais chances de sofrer ondas de calor diárias do que nas gerações anteriores.

Susan Reed, médica-cientista em saúde da mulher e professora emérita de obstetrícia e ginecologia na Universidade de Washington, concorda com as conclusões do estudo: as mulheres de hoje provavelmente sofrem mais ondas de calor do que as de gerações anteriores. Ela acredita que isso está sendo impulsionado por fatores ambientais, genéticos e sociais que são difíceis de discernir.

“A menopausa é uma grande tapeçaria entrelaçada que junta muitos fios diferentes. Não é uma linha reta ligando duas coisas apenas”, disse ela.

Por que as ondas de calor estão ficando mais frequentes?

Uma possibilidade é que as mulheres estejam cada vez mais propensas a relatar ondas de calor porque a forma como vemos a menopausa mudou. Percorremos um longo caminho desde que o termo ménopause foi cunhado por um médico francês do século 19. (Ele escreveu um capítulo inteiro sobre como a menopausa causa histeria).

As mulheres agora são encorajadas a falar mais abertamente sobre seus sintomas do que no passado.

Mas, se aceitarmos que as mulheres do estudo sueco relataram seus sintomas com precisão para efeitos de pesquisa médica, teremos de procurar outra explicação.

Muito do que sabemos hoje sobre a menopausa vem do Estudo da Saúde da Mulher em Todo o País (SWAN, na sigla em inglês). Esse estudo começou em 1994 e procurou compreender a transição para a menopausa dentro de uma amostra étnica e racialmente diversificada de mulheres nos Estados Unidos. Inscreveu 3.302 mulheres com idades entre 42 e 52 anos cuja menstruação ainda não havia parado e ainda hoje as acompanha.

Esse estudo é monumental no mundo da saúde da mulher – existem poucas pesquisas como esta (o estudo sueco se baseou principalmente em mulheres brancas e relativamente magras). Com o SWAN, aprendemos que, em comparação com as mulheres brancas, as de origem chinesa e japonesa têm ciclos menstruais mais longos, e as mulheres negras têm uma transição para a menopausa mais demorada – com sintomas de ondas de calor e suores noturnos que duram em média dez anos. O estudo também descobriu que era menos provável que as mulheres negras recebessem tratamento para esses sintomas em comparação com as mulheres brancas.

O SWAN revelou que vários fatores – como menor nível de escolaridade e maior estresse e ansiedade – estavam ligados a uma incidência de ondas de calor e suores noturnos por um período mais longo.

Segundo Reed, é importante conhecer essas associações. Por exemplo, tratamentos conhecidos por atenuar o estresse, como a terapia cognitivo-comportamental, podem melhorar as ondas de calor e os suores noturnos. Alguns cientistas também argumentam que as mudanças ambientais, como a poluição e o aumento das temperaturas globais, agravam a percepção das ondas de calor.

Mas esses fatores não explicam tudo, especialmente quando se trata de diferenças intergeracionais. Provavelmente são marcadores de algo que a ciência ainda não descobriu.

Uma dessas possibilidades são as mudanças epigenéticas – ou seja, mudanças que ocorrem no nosso DNA ao longo da vida.

“Nosso DNA é mais complexo do que aquilo que é transmitido por meio de óvulos e espermatozoides”, disse Reed. “Não resta dúvida de que a complexidade do ambiente está modificando nosso DNA, quando observamos o comportamento ao longo do tempo e como os organismos se adaptam”.

Por exemplo, explicou ela, os bebês nascidos de mães obesas sofrem modificações no DNA que podem aumentar o risco de obesidade e doenças cardiovasculares mais tarde na vida.

Os cientistas também observaram mudanças epigenéticas em pacientes que passam pela menopausa precoce e entre aquelas com ondas de calor mais graves. Mas resta saber exatamente o que está desencadeando tais mudanças – e qual papel elas podem ter na formação dos sintomas.

O que quero que minhas pacientes saibam

Viver a menopausa é um processo normal, mas nunca devemos normalizar o sofrimento. Se você está incomodada com as ondas de calor e elas estão diminuindo sua capacidade de aproveitar a vida cotidiana, converse com seu médico e procure ajuda.

Falar sobre seus sintomas pode indicar a seu médico outros fatores de risco potenciais – por exemplo, mulheres com ondas de calor intensas têm maior risco de ataque cardíaco ou derrame. Encontre um médico que leve seus sintomas a sério e não jogue suas experiências para debaixo do tapete. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

THE WASHINGTON POST – A geração da minha mãe não parecia achar que a menopausa era um grande problema. Mas minhas amigas e eu sentimos que as ondas de calor e os suores noturnos são incrivelmente desconfortáveis. A menopausa está piorando?

Resposta: A maneira como vemos a menopausa com certeza mudou em termos culturais, mas alguma coisa também parece estar mudando em termos biológicos – particularmente no que diz respeito às ondas de calor e aos suores noturnos.

Os dados mais sólidos sobre essa questão vêm da Suécia. Pesquisadores estudaram grupos de mulheres nascidas em 1918 e 1930 e as compararam com mulheres nascidas em 1954 e 1966. Ao longo de várias décadas, entrevistaram essas mulheres sobre sua experiência com ondas de calor quando completaram 50 anos.

Eles descobriram que as mulheres das gerações mais novas tinham ondas de calor significativamente mais frequentes do que as nascidas antes. Trinta e cinco por cento das mulheres nascidas mais tarde relataram ondas de calor diárias, em comparação com 24% das mulheres das gerações anteriores.

O fogacho, as famosas ondas de calor, é um dos principais sintomas da menopausa.  Foto: Monkey Business/Adobe Stock

Aí veio a pergunta: por quê?

Outros estudos identificaram fatores que ligam as ondas de calor a certos aspectos da saúde: por exemplo, tabagismo e IMC alto estão associados a taxas mais elevadas, e ambos os fatores mudaram ao longo dos últimos 100 anos. O nível de estresse e medicamentos como anticoncepcionais e terapia de reposição hormonal também têm um papel importante nesse quadro.

Os pesquisadores então construíram um modelo estatístico para ajustar essas possibilidades dentro do grupo de mulheres suecas. Se qualquer um desses fatores pudesse explicar a diferença nas ondas de calor entre as gerações, essa mudança desapareceria, ou pelo menos diminuiria.

Mas não foi o que aconteceu. Mesmo depois de contabilizar coisas como o IMC e o uso de medicamentos, as mulheres nascidas mais tarde tinham quase duas vezes mais chances de sofrer ondas de calor diárias do que nas gerações anteriores.

Susan Reed, médica-cientista em saúde da mulher e professora emérita de obstetrícia e ginecologia na Universidade de Washington, concorda com as conclusões do estudo: as mulheres de hoje provavelmente sofrem mais ondas de calor do que as de gerações anteriores. Ela acredita que isso está sendo impulsionado por fatores ambientais, genéticos e sociais que são difíceis de discernir.

“A menopausa é uma grande tapeçaria entrelaçada que junta muitos fios diferentes. Não é uma linha reta ligando duas coisas apenas”, disse ela.

Por que as ondas de calor estão ficando mais frequentes?

Uma possibilidade é que as mulheres estejam cada vez mais propensas a relatar ondas de calor porque a forma como vemos a menopausa mudou. Percorremos um longo caminho desde que o termo ménopause foi cunhado por um médico francês do século 19. (Ele escreveu um capítulo inteiro sobre como a menopausa causa histeria).

As mulheres agora são encorajadas a falar mais abertamente sobre seus sintomas do que no passado.

Mas, se aceitarmos que as mulheres do estudo sueco relataram seus sintomas com precisão para efeitos de pesquisa médica, teremos de procurar outra explicação.

Muito do que sabemos hoje sobre a menopausa vem do Estudo da Saúde da Mulher em Todo o País (SWAN, na sigla em inglês). Esse estudo começou em 1994 e procurou compreender a transição para a menopausa dentro de uma amostra étnica e racialmente diversificada de mulheres nos Estados Unidos. Inscreveu 3.302 mulheres com idades entre 42 e 52 anos cuja menstruação ainda não havia parado e ainda hoje as acompanha.

Esse estudo é monumental no mundo da saúde da mulher – existem poucas pesquisas como esta (o estudo sueco se baseou principalmente em mulheres brancas e relativamente magras). Com o SWAN, aprendemos que, em comparação com as mulheres brancas, as de origem chinesa e japonesa têm ciclos menstruais mais longos, e as mulheres negras têm uma transição para a menopausa mais demorada – com sintomas de ondas de calor e suores noturnos que duram em média dez anos. O estudo também descobriu que era menos provável que as mulheres negras recebessem tratamento para esses sintomas em comparação com as mulheres brancas.

O SWAN revelou que vários fatores – como menor nível de escolaridade e maior estresse e ansiedade – estavam ligados a uma incidência de ondas de calor e suores noturnos por um período mais longo.

Segundo Reed, é importante conhecer essas associações. Por exemplo, tratamentos conhecidos por atenuar o estresse, como a terapia cognitivo-comportamental, podem melhorar as ondas de calor e os suores noturnos. Alguns cientistas também argumentam que as mudanças ambientais, como a poluição e o aumento das temperaturas globais, agravam a percepção das ondas de calor.

Mas esses fatores não explicam tudo, especialmente quando se trata de diferenças intergeracionais. Provavelmente são marcadores de algo que a ciência ainda não descobriu.

Uma dessas possibilidades são as mudanças epigenéticas – ou seja, mudanças que ocorrem no nosso DNA ao longo da vida.

“Nosso DNA é mais complexo do que aquilo que é transmitido por meio de óvulos e espermatozoides”, disse Reed. “Não resta dúvida de que a complexidade do ambiente está modificando nosso DNA, quando observamos o comportamento ao longo do tempo e como os organismos se adaptam”.

Por exemplo, explicou ela, os bebês nascidos de mães obesas sofrem modificações no DNA que podem aumentar o risco de obesidade e doenças cardiovasculares mais tarde na vida.

Os cientistas também observaram mudanças epigenéticas em pacientes que passam pela menopausa precoce e entre aquelas com ondas de calor mais graves. Mas resta saber exatamente o que está desencadeando tais mudanças – e qual papel elas podem ter na formação dos sintomas.

O que quero que minhas pacientes saibam

Viver a menopausa é um processo normal, mas nunca devemos normalizar o sofrimento. Se você está incomodada com as ondas de calor e elas estão diminuindo sua capacidade de aproveitar a vida cotidiana, converse com seu médico e procure ajuda.

Falar sobre seus sintomas pode indicar a seu médico outros fatores de risco potenciais – por exemplo, mulheres com ondas de calor intensas têm maior risco de ataque cardíaco ou derrame. Encontre um médico que leve seus sintomas a sério e não jogue suas experiências para debaixo do tapete. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

THE WASHINGTON POST – A geração da minha mãe não parecia achar que a menopausa era um grande problema. Mas minhas amigas e eu sentimos que as ondas de calor e os suores noturnos são incrivelmente desconfortáveis. A menopausa está piorando?

Resposta: A maneira como vemos a menopausa com certeza mudou em termos culturais, mas alguma coisa também parece estar mudando em termos biológicos – particularmente no que diz respeito às ondas de calor e aos suores noturnos.

Os dados mais sólidos sobre essa questão vêm da Suécia. Pesquisadores estudaram grupos de mulheres nascidas em 1918 e 1930 e as compararam com mulheres nascidas em 1954 e 1966. Ao longo de várias décadas, entrevistaram essas mulheres sobre sua experiência com ondas de calor quando completaram 50 anos.

Eles descobriram que as mulheres das gerações mais novas tinham ondas de calor significativamente mais frequentes do que as nascidas antes. Trinta e cinco por cento das mulheres nascidas mais tarde relataram ondas de calor diárias, em comparação com 24% das mulheres das gerações anteriores.

O fogacho, as famosas ondas de calor, é um dos principais sintomas da menopausa.  Foto: Monkey Business/Adobe Stock

Aí veio a pergunta: por quê?

Outros estudos identificaram fatores que ligam as ondas de calor a certos aspectos da saúde: por exemplo, tabagismo e IMC alto estão associados a taxas mais elevadas, e ambos os fatores mudaram ao longo dos últimos 100 anos. O nível de estresse e medicamentos como anticoncepcionais e terapia de reposição hormonal também têm um papel importante nesse quadro.

Os pesquisadores então construíram um modelo estatístico para ajustar essas possibilidades dentro do grupo de mulheres suecas. Se qualquer um desses fatores pudesse explicar a diferença nas ondas de calor entre as gerações, essa mudança desapareceria, ou pelo menos diminuiria.

Mas não foi o que aconteceu. Mesmo depois de contabilizar coisas como o IMC e o uso de medicamentos, as mulheres nascidas mais tarde tinham quase duas vezes mais chances de sofrer ondas de calor diárias do que nas gerações anteriores.

Susan Reed, médica-cientista em saúde da mulher e professora emérita de obstetrícia e ginecologia na Universidade de Washington, concorda com as conclusões do estudo: as mulheres de hoje provavelmente sofrem mais ondas de calor do que as de gerações anteriores. Ela acredita que isso está sendo impulsionado por fatores ambientais, genéticos e sociais que são difíceis de discernir.

“A menopausa é uma grande tapeçaria entrelaçada que junta muitos fios diferentes. Não é uma linha reta ligando duas coisas apenas”, disse ela.

Por que as ondas de calor estão ficando mais frequentes?

Uma possibilidade é que as mulheres estejam cada vez mais propensas a relatar ondas de calor porque a forma como vemos a menopausa mudou. Percorremos um longo caminho desde que o termo ménopause foi cunhado por um médico francês do século 19. (Ele escreveu um capítulo inteiro sobre como a menopausa causa histeria).

As mulheres agora são encorajadas a falar mais abertamente sobre seus sintomas do que no passado.

Mas, se aceitarmos que as mulheres do estudo sueco relataram seus sintomas com precisão para efeitos de pesquisa médica, teremos de procurar outra explicação.

Muito do que sabemos hoje sobre a menopausa vem do Estudo da Saúde da Mulher em Todo o País (SWAN, na sigla em inglês). Esse estudo começou em 1994 e procurou compreender a transição para a menopausa dentro de uma amostra étnica e racialmente diversificada de mulheres nos Estados Unidos. Inscreveu 3.302 mulheres com idades entre 42 e 52 anos cuja menstruação ainda não havia parado e ainda hoje as acompanha.

Esse estudo é monumental no mundo da saúde da mulher – existem poucas pesquisas como esta (o estudo sueco se baseou principalmente em mulheres brancas e relativamente magras). Com o SWAN, aprendemos que, em comparação com as mulheres brancas, as de origem chinesa e japonesa têm ciclos menstruais mais longos, e as mulheres negras têm uma transição para a menopausa mais demorada – com sintomas de ondas de calor e suores noturnos que duram em média dez anos. O estudo também descobriu que era menos provável que as mulheres negras recebessem tratamento para esses sintomas em comparação com as mulheres brancas.

O SWAN revelou que vários fatores – como menor nível de escolaridade e maior estresse e ansiedade – estavam ligados a uma incidência de ondas de calor e suores noturnos por um período mais longo.

Segundo Reed, é importante conhecer essas associações. Por exemplo, tratamentos conhecidos por atenuar o estresse, como a terapia cognitivo-comportamental, podem melhorar as ondas de calor e os suores noturnos. Alguns cientistas também argumentam que as mudanças ambientais, como a poluição e o aumento das temperaturas globais, agravam a percepção das ondas de calor.

Mas esses fatores não explicam tudo, especialmente quando se trata de diferenças intergeracionais. Provavelmente são marcadores de algo que a ciência ainda não descobriu.

Uma dessas possibilidades são as mudanças epigenéticas – ou seja, mudanças que ocorrem no nosso DNA ao longo da vida.

“Nosso DNA é mais complexo do que aquilo que é transmitido por meio de óvulos e espermatozoides”, disse Reed. “Não resta dúvida de que a complexidade do ambiente está modificando nosso DNA, quando observamos o comportamento ao longo do tempo e como os organismos se adaptam”.

Por exemplo, explicou ela, os bebês nascidos de mães obesas sofrem modificações no DNA que podem aumentar o risco de obesidade e doenças cardiovasculares mais tarde na vida.

Os cientistas também observaram mudanças epigenéticas em pacientes que passam pela menopausa precoce e entre aquelas com ondas de calor mais graves. Mas resta saber exatamente o que está desencadeando tais mudanças – e qual papel elas podem ter na formação dos sintomas.

O que quero que minhas pacientes saibam

Viver a menopausa é um processo normal, mas nunca devemos normalizar o sofrimento. Se você está incomodada com as ondas de calor e elas estão diminuindo sua capacidade de aproveitar a vida cotidiana, converse com seu médico e procure ajuda.

Falar sobre seus sintomas pode indicar a seu médico outros fatores de risco potenciais – por exemplo, mulheres com ondas de calor intensas têm maior risco de ataque cardíaco ou derrame. Encontre um médico que leve seus sintomas a sério e não jogue suas experiências para debaixo do tapete. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

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