Quantos anos você realmente tem? Entenda as diferenças entre idade cronológica e biológica


Enquanto não podemos fazer nada em relação à chamada idade cronológica, aquela do nosso RG, dá para alterar a idade biológica com mudanças no estilo de vida; ter um organismo mais jovem pode ser a chave para prevenção de inúmeras doenças

Por André Bernardo
Atualização:

Todas as manhãs, o irlandês Richard Morgan acorda cedo para remar. Quatro vezes campeão do mundo, ele treina uma média de 40 minutos por dia. Não satisfeito, duas ou três vezes por semana, ainda pratica musculação. Ah, um detalhe importante: Morgan tem 93 anos! Não por acaso, o padeiro aposentado virou objeto de estudo de um grupo de cientistas da Universidade de Limerick, na Irlanda. Nos laboratórios do Departamento de Educação Física e Ciências do Esporte, a equipe do professor Philip Jakeman descobriu que Morgan tem a idade biológica de um homem de 30 anos. Em outras palavras: seu coração, seus músculos e seus pulmões são comparáveis aos de alguém com um terço de sua idade. O corpo do nonagenário, de 74 quilos, tem 80% de músculos e 15% de gordura.

Outro dado curioso: Morgan não é daqueles que praticam atividade física desde muito jovem. Pelo contrário. Começou aos 73 e não parou mais. Estima-se que, ao longo dessas duas décadas, tenha remado o equivalente a dez voltas ao redor do mundo. “Comecei do nada e, de repente, descobri o quanto é prazeroso conquistar um campeonato mundial”, declarou o remador ao jornal The Washington Post.

Em um futuro não muito distante, quando alguém lhe perguntar “Qual é a sua idade?”, você poderá responder: “Qual delas?”. O caso de Richard Morgan, o irlandês de 93 anos com corpinho de 30, revela que há pelo menos duas maneiras de “calcular” a idade de uma pessoa: a cronológica e a biológica. Se a primeira é fácil (basta subtrair seu ano de nascimento do ano atual), a segunda é um pouco mais complexa: entram nessa conta, entre outras variáveis, a genética que a pessoa herdou dos pais, o ambiente em que ela vive e as escolhas que fez ao longo de sua vida.

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A idade cronológica, aquela que calculamos com base na data de nascimento, nem sempre é compatível com a idade biológica, que está associada aos hábitos de vida. Foto: EvgeniiAnd/Adobe Stock

Autora do livro A Nova Ciência da Longevidade – Viva Muito e Com Saúde (Cultrix, 2023), a geriatra irlandesa Rose Anne Kenny explica que, em geral, as células de nosso corpo envelhecem todas ao mesmo tempo. No entanto, as células de fumantes, obesos e sedentários, entre outros, tendem a envelhecer em um ritmo um pouco mais acelerado. “Se a sua idade biológica é menor do que a sua idade cronológica, é sinal de que você está fazendo tudo certo. Agora, se a biológica é maior do que a cronológica, atenção: algo está errado!”, alerta. “Nunca é tarde para mudar. Quanto mais cedo, aliás, melhor”.

Laboratórios do mundo inteiro já oferecem testes genéticos que prometem calcular, a partir de uma amostra de sangue, a idade biológica de qualquer pessoa. “A idade biológica é diferente da cronológica. A biológica é a idade de nosso corpo e a cronológica, de nosso RG”, define Ricardo di Lazzaro, diretor médico da Dasa Genômica. Cada teste, prossegue ele, emprega uma metodologia. Enquanto uns estudam alterações no DNA, outros investigam o tamanho do telômero – a extremidade de cada cromossomo. “Se uma mesma pessoa fizer dois ou mais testes, provavelmente terá dois ou mais resultados diferentes”, avisa o especialista.

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Por essas e outras, a eficácia dos testes ainda divide a opinião de especialistas. “Não acredito neles”, afirma a geneticista Mayana Zatz, coordenadora do Centro de Pesquisas sobre o Genoma Humano e Células-Tronco da Universidade de São Paulo (USP). “Não acho que consigam determinar, com segurança e precisão, nossa idade biológica”. Ricardo di Lazzaro, da Dasa Genômica, concorda: “É um campo que ainda tem muito a evoluir”.

Já Salmo Raskin, diretor do Centro de Aconselhamento e Laboratório Genetika, em Curitiba, pensa diferente. “Houve um grande avanço nos últimos anos”, afirma. No entanto, ele faz uma provocação: “O que fazer se a nossa idade biológica for maior do que a cronológica? É possível frear esse envelhecimento? Ou, na melhor das hipóteses, reduzir a velocidade dele? Bem, essa é a pergunta de um bilhão de dólares!”, brinca o médico.

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Um dos testes (ou biomarcadores, como preferem alguns cientistas) mais precisos que existem é o AltumAge. Foi desenvolvido por um estudante brasileiro de bioquímica da Universidade Brown, em Rhode Island (EUA), chamado Lucas Camillo. Um de seus trunfos sobre os demais é ter uma margem de erro de apenas dois anos e dois meses. O recorde anterior, por assim dizer, pertencia ao algoritmo desenvolvido pelo geneticista Steve Horvath, da Universidade de Berkeley, na Califórnia: três anos e meio.

“Quando eu tinha 23.9 anos cronológicos, calculei minha idade biológica: deu 22.4 anos”, orgulha-se Camillo, hoje aluno de medicina da Universidade de Cambridge e chefe de inteligência artificial da startup Shift Bioscience, ambos na Inglaterra. O uso atual do modelo desenvolvido pelo pesquisador brasileiro ainda está mais restrito às universidades, que têm mais facilidade de gerar as informações necessárias para a avaliação.

Mas, por que é tão importante saber nossa idade biológica? Quem responde é o próprio Camillo. “A idade é o principal fator de risco para doenças como câncer, diabetes e Alzheimer. Quanto mais cedo soubermos quantos anos biológicos temos, mais precocemente conseguiremos prever e tratar essas e outras doenças. Com apenas alguns ajustes em nosso estilo de vida, podemos modificar nossa idade biológica”, explica o futuro médico.

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Mas, quais “ajustes” seriam esses? Bem, vamos por partes: cientistas dinamarqueses realizaram um estudo com 2,8 mil gêmeos idênticos para avaliar o impacto da genética e do ambiente no envelhecimento saudável. A que conclusão eles chegaram? Simples: os genes que os participantes herdaram dos pais respondem por 20% do seu envelhecimento enquanto o ambiente em que vivem e as escolhas que fazem pelos 80% restantes.

O resultado agradou Mayana Zatz. Afinal, explica a geneticista da USP, o ambiente é mais fácil de ser controlado do que a genética. “Todo mundo sabe como controlar fatores ambientais: basta praticar exercícios, ter alimentação saudável e manter a mente ativa. Não há mistério algum”, ensina.

No momento, Zatz estuda centenários. Durante a pandemia, muitos foram expostos à covid-19 e não contraíram a doença. Ou, então, tiveram sintomas leves ou, ainda, não apresentaram sintomas. Por que isso acontece? “Estamos investigando os chamados ‘genes protetores’, que toleram todo e qualquer desaforo do ambiente. Por que alguns nascem com eles e outros, não? E como ajudar quem não teve a sorte de nascer com eles? É isso o que queremos descobrir”, afirma a médica.

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Presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), Marco Túlio Cintra explica que, no caso dos idosos, não é necessário fazer teste genético para saber se a idade biológica é compatível com a idade cronológica. Basta uma simples avaliação funcional. O idoso é considerado independente fisicamente quando toma banho, sobe escadas e faz compras, entre outras atividades, sozinho. E mais: é autônomo cognitivamente quando toma remédios, paga as contas e aprende novas tecnologias, entre outras tarefas, sem qualquer tipo de ajuda.

“Mais importante do que querer saber qual é a sua idade biológica, é procurar cuidar bem de sua saúde física e mental. Como? Cultivando bons hábitos, como praticar exercícios, dormir bem e ter uma alimentação saudável, e evitando os ruins, como fumar, beber em excesso e levar uma vida sedentária. Por essas e outras, há pessoas de 70 anos que se sentem como se tivessem mais de 80 enquanto outras, da mesma idade, que sentem como se tivessem menos de 60″, comenta o médico. O que importa não é a idade que a gente tem. Mas, a idade que a gente sente.

Todas as manhãs, o irlandês Richard Morgan acorda cedo para remar. Quatro vezes campeão do mundo, ele treina uma média de 40 minutos por dia. Não satisfeito, duas ou três vezes por semana, ainda pratica musculação. Ah, um detalhe importante: Morgan tem 93 anos! Não por acaso, o padeiro aposentado virou objeto de estudo de um grupo de cientistas da Universidade de Limerick, na Irlanda. Nos laboratórios do Departamento de Educação Física e Ciências do Esporte, a equipe do professor Philip Jakeman descobriu que Morgan tem a idade biológica de um homem de 30 anos. Em outras palavras: seu coração, seus músculos e seus pulmões são comparáveis aos de alguém com um terço de sua idade. O corpo do nonagenário, de 74 quilos, tem 80% de músculos e 15% de gordura.

Outro dado curioso: Morgan não é daqueles que praticam atividade física desde muito jovem. Pelo contrário. Começou aos 73 e não parou mais. Estima-se que, ao longo dessas duas décadas, tenha remado o equivalente a dez voltas ao redor do mundo. “Comecei do nada e, de repente, descobri o quanto é prazeroso conquistar um campeonato mundial”, declarou o remador ao jornal The Washington Post.

Em um futuro não muito distante, quando alguém lhe perguntar “Qual é a sua idade?”, você poderá responder: “Qual delas?”. O caso de Richard Morgan, o irlandês de 93 anos com corpinho de 30, revela que há pelo menos duas maneiras de “calcular” a idade de uma pessoa: a cronológica e a biológica. Se a primeira é fácil (basta subtrair seu ano de nascimento do ano atual), a segunda é um pouco mais complexa: entram nessa conta, entre outras variáveis, a genética que a pessoa herdou dos pais, o ambiente em que ela vive e as escolhas que fez ao longo de sua vida.

A idade cronológica, aquela que calculamos com base na data de nascimento, nem sempre é compatível com a idade biológica, que está associada aos hábitos de vida. Foto: EvgeniiAnd/Adobe Stock

Autora do livro A Nova Ciência da Longevidade – Viva Muito e Com Saúde (Cultrix, 2023), a geriatra irlandesa Rose Anne Kenny explica que, em geral, as células de nosso corpo envelhecem todas ao mesmo tempo. No entanto, as células de fumantes, obesos e sedentários, entre outros, tendem a envelhecer em um ritmo um pouco mais acelerado. “Se a sua idade biológica é menor do que a sua idade cronológica, é sinal de que você está fazendo tudo certo. Agora, se a biológica é maior do que a cronológica, atenção: algo está errado!”, alerta. “Nunca é tarde para mudar. Quanto mais cedo, aliás, melhor”.

Laboratórios do mundo inteiro já oferecem testes genéticos que prometem calcular, a partir de uma amostra de sangue, a idade biológica de qualquer pessoa. “A idade biológica é diferente da cronológica. A biológica é a idade de nosso corpo e a cronológica, de nosso RG”, define Ricardo di Lazzaro, diretor médico da Dasa Genômica. Cada teste, prossegue ele, emprega uma metodologia. Enquanto uns estudam alterações no DNA, outros investigam o tamanho do telômero – a extremidade de cada cromossomo. “Se uma mesma pessoa fizer dois ou mais testes, provavelmente terá dois ou mais resultados diferentes”, avisa o especialista.

Por essas e outras, a eficácia dos testes ainda divide a opinião de especialistas. “Não acredito neles”, afirma a geneticista Mayana Zatz, coordenadora do Centro de Pesquisas sobre o Genoma Humano e Células-Tronco da Universidade de São Paulo (USP). “Não acho que consigam determinar, com segurança e precisão, nossa idade biológica”. Ricardo di Lazzaro, da Dasa Genômica, concorda: “É um campo que ainda tem muito a evoluir”.

Já Salmo Raskin, diretor do Centro de Aconselhamento e Laboratório Genetika, em Curitiba, pensa diferente. “Houve um grande avanço nos últimos anos”, afirma. No entanto, ele faz uma provocação: “O que fazer se a nossa idade biológica for maior do que a cronológica? É possível frear esse envelhecimento? Ou, na melhor das hipóteses, reduzir a velocidade dele? Bem, essa é a pergunta de um bilhão de dólares!”, brinca o médico.

Um dos testes (ou biomarcadores, como preferem alguns cientistas) mais precisos que existem é o AltumAge. Foi desenvolvido por um estudante brasileiro de bioquímica da Universidade Brown, em Rhode Island (EUA), chamado Lucas Camillo. Um de seus trunfos sobre os demais é ter uma margem de erro de apenas dois anos e dois meses. O recorde anterior, por assim dizer, pertencia ao algoritmo desenvolvido pelo geneticista Steve Horvath, da Universidade de Berkeley, na Califórnia: três anos e meio.

“Quando eu tinha 23.9 anos cronológicos, calculei minha idade biológica: deu 22.4 anos”, orgulha-se Camillo, hoje aluno de medicina da Universidade de Cambridge e chefe de inteligência artificial da startup Shift Bioscience, ambos na Inglaterra. O uso atual do modelo desenvolvido pelo pesquisador brasileiro ainda está mais restrito às universidades, que têm mais facilidade de gerar as informações necessárias para a avaliação.

Mas, por que é tão importante saber nossa idade biológica? Quem responde é o próprio Camillo. “A idade é o principal fator de risco para doenças como câncer, diabetes e Alzheimer. Quanto mais cedo soubermos quantos anos biológicos temos, mais precocemente conseguiremos prever e tratar essas e outras doenças. Com apenas alguns ajustes em nosso estilo de vida, podemos modificar nossa idade biológica”, explica o futuro médico.

Mas, quais “ajustes” seriam esses? Bem, vamos por partes: cientistas dinamarqueses realizaram um estudo com 2,8 mil gêmeos idênticos para avaliar o impacto da genética e do ambiente no envelhecimento saudável. A que conclusão eles chegaram? Simples: os genes que os participantes herdaram dos pais respondem por 20% do seu envelhecimento enquanto o ambiente em que vivem e as escolhas que fazem pelos 80% restantes.

O resultado agradou Mayana Zatz. Afinal, explica a geneticista da USP, o ambiente é mais fácil de ser controlado do que a genética. “Todo mundo sabe como controlar fatores ambientais: basta praticar exercícios, ter alimentação saudável e manter a mente ativa. Não há mistério algum”, ensina.

No momento, Zatz estuda centenários. Durante a pandemia, muitos foram expostos à covid-19 e não contraíram a doença. Ou, então, tiveram sintomas leves ou, ainda, não apresentaram sintomas. Por que isso acontece? “Estamos investigando os chamados ‘genes protetores’, que toleram todo e qualquer desaforo do ambiente. Por que alguns nascem com eles e outros, não? E como ajudar quem não teve a sorte de nascer com eles? É isso o que queremos descobrir”, afirma a médica.

Presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), Marco Túlio Cintra explica que, no caso dos idosos, não é necessário fazer teste genético para saber se a idade biológica é compatível com a idade cronológica. Basta uma simples avaliação funcional. O idoso é considerado independente fisicamente quando toma banho, sobe escadas e faz compras, entre outras atividades, sozinho. E mais: é autônomo cognitivamente quando toma remédios, paga as contas e aprende novas tecnologias, entre outras tarefas, sem qualquer tipo de ajuda.

“Mais importante do que querer saber qual é a sua idade biológica, é procurar cuidar bem de sua saúde física e mental. Como? Cultivando bons hábitos, como praticar exercícios, dormir bem e ter uma alimentação saudável, e evitando os ruins, como fumar, beber em excesso e levar uma vida sedentária. Por essas e outras, há pessoas de 70 anos que se sentem como se tivessem mais de 80 enquanto outras, da mesma idade, que sentem como se tivessem menos de 60″, comenta o médico. O que importa não é a idade que a gente tem. Mas, a idade que a gente sente.

Todas as manhãs, o irlandês Richard Morgan acorda cedo para remar. Quatro vezes campeão do mundo, ele treina uma média de 40 minutos por dia. Não satisfeito, duas ou três vezes por semana, ainda pratica musculação. Ah, um detalhe importante: Morgan tem 93 anos! Não por acaso, o padeiro aposentado virou objeto de estudo de um grupo de cientistas da Universidade de Limerick, na Irlanda. Nos laboratórios do Departamento de Educação Física e Ciências do Esporte, a equipe do professor Philip Jakeman descobriu que Morgan tem a idade biológica de um homem de 30 anos. Em outras palavras: seu coração, seus músculos e seus pulmões são comparáveis aos de alguém com um terço de sua idade. O corpo do nonagenário, de 74 quilos, tem 80% de músculos e 15% de gordura.

Outro dado curioso: Morgan não é daqueles que praticam atividade física desde muito jovem. Pelo contrário. Começou aos 73 e não parou mais. Estima-se que, ao longo dessas duas décadas, tenha remado o equivalente a dez voltas ao redor do mundo. “Comecei do nada e, de repente, descobri o quanto é prazeroso conquistar um campeonato mundial”, declarou o remador ao jornal The Washington Post.

Em um futuro não muito distante, quando alguém lhe perguntar “Qual é a sua idade?”, você poderá responder: “Qual delas?”. O caso de Richard Morgan, o irlandês de 93 anos com corpinho de 30, revela que há pelo menos duas maneiras de “calcular” a idade de uma pessoa: a cronológica e a biológica. Se a primeira é fácil (basta subtrair seu ano de nascimento do ano atual), a segunda é um pouco mais complexa: entram nessa conta, entre outras variáveis, a genética que a pessoa herdou dos pais, o ambiente em que ela vive e as escolhas que fez ao longo de sua vida.

A idade cronológica, aquela que calculamos com base na data de nascimento, nem sempre é compatível com a idade biológica, que está associada aos hábitos de vida. Foto: EvgeniiAnd/Adobe Stock

Autora do livro A Nova Ciência da Longevidade – Viva Muito e Com Saúde (Cultrix, 2023), a geriatra irlandesa Rose Anne Kenny explica que, em geral, as células de nosso corpo envelhecem todas ao mesmo tempo. No entanto, as células de fumantes, obesos e sedentários, entre outros, tendem a envelhecer em um ritmo um pouco mais acelerado. “Se a sua idade biológica é menor do que a sua idade cronológica, é sinal de que você está fazendo tudo certo. Agora, se a biológica é maior do que a cronológica, atenção: algo está errado!”, alerta. “Nunca é tarde para mudar. Quanto mais cedo, aliás, melhor”.

Laboratórios do mundo inteiro já oferecem testes genéticos que prometem calcular, a partir de uma amostra de sangue, a idade biológica de qualquer pessoa. “A idade biológica é diferente da cronológica. A biológica é a idade de nosso corpo e a cronológica, de nosso RG”, define Ricardo di Lazzaro, diretor médico da Dasa Genômica. Cada teste, prossegue ele, emprega uma metodologia. Enquanto uns estudam alterações no DNA, outros investigam o tamanho do telômero – a extremidade de cada cromossomo. “Se uma mesma pessoa fizer dois ou mais testes, provavelmente terá dois ou mais resultados diferentes”, avisa o especialista.

Por essas e outras, a eficácia dos testes ainda divide a opinião de especialistas. “Não acredito neles”, afirma a geneticista Mayana Zatz, coordenadora do Centro de Pesquisas sobre o Genoma Humano e Células-Tronco da Universidade de São Paulo (USP). “Não acho que consigam determinar, com segurança e precisão, nossa idade biológica”. Ricardo di Lazzaro, da Dasa Genômica, concorda: “É um campo que ainda tem muito a evoluir”.

Já Salmo Raskin, diretor do Centro de Aconselhamento e Laboratório Genetika, em Curitiba, pensa diferente. “Houve um grande avanço nos últimos anos”, afirma. No entanto, ele faz uma provocação: “O que fazer se a nossa idade biológica for maior do que a cronológica? É possível frear esse envelhecimento? Ou, na melhor das hipóteses, reduzir a velocidade dele? Bem, essa é a pergunta de um bilhão de dólares!”, brinca o médico.

Um dos testes (ou biomarcadores, como preferem alguns cientistas) mais precisos que existem é o AltumAge. Foi desenvolvido por um estudante brasileiro de bioquímica da Universidade Brown, em Rhode Island (EUA), chamado Lucas Camillo. Um de seus trunfos sobre os demais é ter uma margem de erro de apenas dois anos e dois meses. O recorde anterior, por assim dizer, pertencia ao algoritmo desenvolvido pelo geneticista Steve Horvath, da Universidade de Berkeley, na Califórnia: três anos e meio.

“Quando eu tinha 23.9 anos cronológicos, calculei minha idade biológica: deu 22.4 anos”, orgulha-se Camillo, hoje aluno de medicina da Universidade de Cambridge e chefe de inteligência artificial da startup Shift Bioscience, ambos na Inglaterra. O uso atual do modelo desenvolvido pelo pesquisador brasileiro ainda está mais restrito às universidades, que têm mais facilidade de gerar as informações necessárias para a avaliação.

Mas, por que é tão importante saber nossa idade biológica? Quem responde é o próprio Camillo. “A idade é o principal fator de risco para doenças como câncer, diabetes e Alzheimer. Quanto mais cedo soubermos quantos anos biológicos temos, mais precocemente conseguiremos prever e tratar essas e outras doenças. Com apenas alguns ajustes em nosso estilo de vida, podemos modificar nossa idade biológica”, explica o futuro médico.

Mas, quais “ajustes” seriam esses? Bem, vamos por partes: cientistas dinamarqueses realizaram um estudo com 2,8 mil gêmeos idênticos para avaliar o impacto da genética e do ambiente no envelhecimento saudável. A que conclusão eles chegaram? Simples: os genes que os participantes herdaram dos pais respondem por 20% do seu envelhecimento enquanto o ambiente em que vivem e as escolhas que fazem pelos 80% restantes.

O resultado agradou Mayana Zatz. Afinal, explica a geneticista da USP, o ambiente é mais fácil de ser controlado do que a genética. “Todo mundo sabe como controlar fatores ambientais: basta praticar exercícios, ter alimentação saudável e manter a mente ativa. Não há mistério algum”, ensina.

No momento, Zatz estuda centenários. Durante a pandemia, muitos foram expostos à covid-19 e não contraíram a doença. Ou, então, tiveram sintomas leves ou, ainda, não apresentaram sintomas. Por que isso acontece? “Estamos investigando os chamados ‘genes protetores’, que toleram todo e qualquer desaforo do ambiente. Por que alguns nascem com eles e outros, não? E como ajudar quem não teve a sorte de nascer com eles? É isso o que queremos descobrir”, afirma a médica.

Presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), Marco Túlio Cintra explica que, no caso dos idosos, não é necessário fazer teste genético para saber se a idade biológica é compatível com a idade cronológica. Basta uma simples avaliação funcional. O idoso é considerado independente fisicamente quando toma banho, sobe escadas e faz compras, entre outras atividades, sozinho. E mais: é autônomo cognitivamente quando toma remédios, paga as contas e aprende novas tecnologias, entre outras tarefas, sem qualquer tipo de ajuda.

“Mais importante do que querer saber qual é a sua idade biológica, é procurar cuidar bem de sua saúde física e mental. Como? Cultivando bons hábitos, como praticar exercícios, dormir bem e ter uma alimentação saudável, e evitando os ruins, como fumar, beber em excesso e levar uma vida sedentária. Por essas e outras, há pessoas de 70 anos que se sentem como se tivessem mais de 80 enquanto outras, da mesma idade, que sentem como se tivessem menos de 60″, comenta o médico. O que importa não é a idade que a gente tem. Mas, a idade que a gente sente.

Todas as manhãs, o irlandês Richard Morgan acorda cedo para remar. Quatro vezes campeão do mundo, ele treina uma média de 40 minutos por dia. Não satisfeito, duas ou três vezes por semana, ainda pratica musculação. Ah, um detalhe importante: Morgan tem 93 anos! Não por acaso, o padeiro aposentado virou objeto de estudo de um grupo de cientistas da Universidade de Limerick, na Irlanda. Nos laboratórios do Departamento de Educação Física e Ciências do Esporte, a equipe do professor Philip Jakeman descobriu que Morgan tem a idade biológica de um homem de 30 anos. Em outras palavras: seu coração, seus músculos e seus pulmões são comparáveis aos de alguém com um terço de sua idade. O corpo do nonagenário, de 74 quilos, tem 80% de músculos e 15% de gordura.

Outro dado curioso: Morgan não é daqueles que praticam atividade física desde muito jovem. Pelo contrário. Começou aos 73 e não parou mais. Estima-se que, ao longo dessas duas décadas, tenha remado o equivalente a dez voltas ao redor do mundo. “Comecei do nada e, de repente, descobri o quanto é prazeroso conquistar um campeonato mundial”, declarou o remador ao jornal The Washington Post.

Em um futuro não muito distante, quando alguém lhe perguntar “Qual é a sua idade?”, você poderá responder: “Qual delas?”. O caso de Richard Morgan, o irlandês de 93 anos com corpinho de 30, revela que há pelo menos duas maneiras de “calcular” a idade de uma pessoa: a cronológica e a biológica. Se a primeira é fácil (basta subtrair seu ano de nascimento do ano atual), a segunda é um pouco mais complexa: entram nessa conta, entre outras variáveis, a genética que a pessoa herdou dos pais, o ambiente em que ela vive e as escolhas que fez ao longo de sua vida.

A idade cronológica, aquela que calculamos com base na data de nascimento, nem sempre é compatível com a idade biológica, que está associada aos hábitos de vida. Foto: EvgeniiAnd/Adobe Stock

Autora do livro A Nova Ciência da Longevidade – Viva Muito e Com Saúde (Cultrix, 2023), a geriatra irlandesa Rose Anne Kenny explica que, em geral, as células de nosso corpo envelhecem todas ao mesmo tempo. No entanto, as células de fumantes, obesos e sedentários, entre outros, tendem a envelhecer em um ritmo um pouco mais acelerado. “Se a sua idade biológica é menor do que a sua idade cronológica, é sinal de que você está fazendo tudo certo. Agora, se a biológica é maior do que a cronológica, atenção: algo está errado!”, alerta. “Nunca é tarde para mudar. Quanto mais cedo, aliás, melhor”.

Laboratórios do mundo inteiro já oferecem testes genéticos que prometem calcular, a partir de uma amostra de sangue, a idade biológica de qualquer pessoa. “A idade biológica é diferente da cronológica. A biológica é a idade de nosso corpo e a cronológica, de nosso RG”, define Ricardo di Lazzaro, diretor médico da Dasa Genômica. Cada teste, prossegue ele, emprega uma metodologia. Enquanto uns estudam alterações no DNA, outros investigam o tamanho do telômero – a extremidade de cada cromossomo. “Se uma mesma pessoa fizer dois ou mais testes, provavelmente terá dois ou mais resultados diferentes”, avisa o especialista.

Por essas e outras, a eficácia dos testes ainda divide a opinião de especialistas. “Não acredito neles”, afirma a geneticista Mayana Zatz, coordenadora do Centro de Pesquisas sobre o Genoma Humano e Células-Tronco da Universidade de São Paulo (USP). “Não acho que consigam determinar, com segurança e precisão, nossa idade biológica”. Ricardo di Lazzaro, da Dasa Genômica, concorda: “É um campo que ainda tem muito a evoluir”.

Já Salmo Raskin, diretor do Centro de Aconselhamento e Laboratório Genetika, em Curitiba, pensa diferente. “Houve um grande avanço nos últimos anos”, afirma. No entanto, ele faz uma provocação: “O que fazer se a nossa idade biológica for maior do que a cronológica? É possível frear esse envelhecimento? Ou, na melhor das hipóteses, reduzir a velocidade dele? Bem, essa é a pergunta de um bilhão de dólares!”, brinca o médico.

Um dos testes (ou biomarcadores, como preferem alguns cientistas) mais precisos que existem é o AltumAge. Foi desenvolvido por um estudante brasileiro de bioquímica da Universidade Brown, em Rhode Island (EUA), chamado Lucas Camillo. Um de seus trunfos sobre os demais é ter uma margem de erro de apenas dois anos e dois meses. O recorde anterior, por assim dizer, pertencia ao algoritmo desenvolvido pelo geneticista Steve Horvath, da Universidade de Berkeley, na Califórnia: três anos e meio.

“Quando eu tinha 23.9 anos cronológicos, calculei minha idade biológica: deu 22.4 anos”, orgulha-se Camillo, hoje aluno de medicina da Universidade de Cambridge e chefe de inteligência artificial da startup Shift Bioscience, ambos na Inglaterra. O uso atual do modelo desenvolvido pelo pesquisador brasileiro ainda está mais restrito às universidades, que têm mais facilidade de gerar as informações necessárias para a avaliação.

Mas, por que é tão importante saber nossa idade biológica? Quem responde é o próprio Camillo. “A idade é o principal fator de risco para doenças como câncer, diabetes e Alzheimer. Quanto mais cedo soubermos quantos anos biológicos temos, mais precocemente conseguiremos prever e tratar essas e outras doenças. Com apenas alguns ajustes em nosso estilo de vida, podemos modificar nossa idade biológica”, explica o futuro médico.

Mas, quais “ajustes” seriam esses? Bem, vamos por partes: cientistas dinamarqueses realizaram um estudo com 2,8 mil gêmeos idênticos para avaliar o impacto da genética e do ambiente no envelhecimento saudável. A que conclusão eles chegaram? Simples: os genes que os participantes herdaram dos pais respondem por 20% do seu envelhecimento enquanto o ambiente em que vivem e as escolhas que fazem pelos 80% restantes.

O resultado agradou Mayana Zatz. Afinal, explica a geneticista da USP, o ambiente é mais fácil de ser controlado do que a genética. “Todo mundo sabe como controlar fatores ambientais: basta praticar exercícios, ter alimentação saudável e manter a mente ativa. Não há mistério algum”, ensina.

No momento, Zatz estuda centenários. Durante a pandemia, muitos foram expostos à covid-19 e não contraíram a doença. Ou, então, tiveram sintomas leves ou, ainda, não apresentaram sintomas. Por que isso acontece? “Estamos investigando os chamados ‘genes protetores’, que toleram todo e qualquer desaforo do ambiente. Por que alguns nascem com eles e outros, não? E como ajudar quem não teve a sorte de nascer com eles? É isso o que queremos descobrir”, afirma a médica.

Presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), Marco Túlio Cintra explica que, no caso dos idosos, não é necessário fazer teste genético para saber se a idade biológica é compatível com a idade cronológica. Basta uma simples avaliação funcional. O idoso é considerado independente fisicamente quando toma banho, sobe escadas e faz compras, entre outras atividades, sozinho. E mais: é autônomo cognitivamente quando toma remédios, paga as contas e aprende novas tecnologias, entre outras tarefas, sem qualquer tipo de ajuda.

“Mais importante do que querer saber qual é a sua idade biológica, é procurar cuidar bem de sua saúde física e mental. Como? Cultivando bons hábitos, como praticar exercícios, dormir bem e ter uma alimentação saudável, e evitando os ruins, como fumar, beber em excesso e levar uma vida sedentária. Por essas e outras, há pessoas de 70 anos que se sentem como se tivessem mais de 80 enquanto outras, da mesma idade, que sentem como se tivessem menos de 60″, comenta o médico. O que importa não é a idade que a gente tem. Mas, a idade que a gente sente.

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