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Crônica, política e derivações

E as mulheres se calaram e sumiram

Por Paulo Rosenbaum
Atualização:

E as mulheres se calaram e sumiram: este era o seu lugar de fala

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A voz feminina não tem sido apenas insubstituível, mas de algum modo vem representando uma das manifestações mais importantes do espírito do nosso tempo. Enquanto o mundo e as vozes masculinas têm falhado, pecado por omissão, ou simplesmente perdido significado, as organizações femininas têm mostrado um protagonismo crescente. Não apenas único como essencial para suprir e reparar as injustiças históricas. Não se restringindo aos tópicos relativos às lutas históricas das mulheres como equidade, igualdade de gênero, mas também abordando assuntos relevantes para a ecologia, política, ciência e para as grandes causas humanitárias.

Até agora.

Em recente artigo publicado na revista Newsweek a primeira-dama de Israel, Sra. Michal Herzog, denunciou várias organizações feministas pela imperdoável complacência e omissão diante dos covardes ataques de 07/10 em Israel, quando meninas e mulheres judias foram assassinadas, sofreram abusos e estupros coletivos.

"Silêncio inconcebível e imperdoável destas organizações quando confrontadas com a violação e assassinato de mulheres israelitas. Declaração após declaração de organizações como a ONU Mulheres e a CEDAW não conseguiram condenar estes crimes." E adiante: "Eles falharam conosco e com todas as mulheres neste momento crítico."

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Este foi resumo do desabafo de Michal ao notar que o silêncio prevaleceu sobre a denúncia, e o viés ideológico sobre a justiça. O desinteresse sobre o desamparo daquelas meninas e mulheres atacadas no dia 07/10 adquiriu uma súbita aura de invisibilidade, e ela ocorreu sob as mais curiosas justificativas, na maioria das vezes, sem nenhuma.

Enquanto estas mesmas entidades (abaixo nomeadas) faziam relatos sobre a trágica situação das mulheres na faixa de Gaza, nenhuma palavra, nenhuma menção, nenhuma solidariedade com as vítimas israelenses e de muitas outras nacionalidades. O contraste não poderia ser mais absoluto.

Nada, por exemplo, sobre a jovem Shani Louk, a moça de dupla nacionalidade germano-israelense sequestrada no festival de música, covardemente trucidada e arrastada pelas ruas do território palestino numa caçamba, sob o êxtase selvagem da população. Depois de degolada, e ter seu corpo despedaçado ele foi exibido como um troféu macabro para os entusiastas de uma nova e inédita escala de perversão.

Para os observadores mais atentos algo foi rompido, e de forma irreversível, não apenas pela ferocidade e malignidade, mas pela eleição dos alvos preferenciais.

Nenhuma menção sobre os quadris fraturados de meninas  sob o impacto da violência sexual dos estupros coletivos executados pelos terroristas do Hamas. Nada sobre a abertura do abdome de uma mulher grávida e a retirada, por dissecção in vivo, e subsequente degola do bebê que estava em processo de gestação.

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Nada.

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Ora, este "nada" há de cobrar peso, gravidade, e, inevitavelmente, passará a ter significado histórico. Que ecoará de forma cada vez mais forte pois o som abafado das vitimas escapam com mais força a cada rodada de omissão.

É até provável que doravante algumas vozes, percebendo o erro, passem a tentar reparar o constrangedor equívoco. Reconhecer o erro já seria alguma coisa. Mesmo assim, ja terá sido tarde demais. Como toda ação sem timing, não pode haver reparo, uma vez que o retardo da justiça costuma corroer o ethos. Dilacera qualquer vigor moral. E, finalmente, retira fôlego  de muitas destas organizações que tinham preservadas, até então, credibilidade e representatividade. A regra é: que quando a justiça não é servida passa a cobrar crescente desconfiança de quem escolheu silenciar, e sumir.

Como resposta ao ruído parcial das entidades feministas, um grupo de mulheres judias criou a hastag #MetooUnlessURaJew, ao mesmo tempo irônica e critica aos critérios seletivos adotados.

As "causas" seletivamente determinadas (como a reiterada omissão do corpus institucional feminista quando se tratava de denunciar o abuso, violação e assassinatos de meninas e mulheres judias) auto evidenciou uma série de pontos e perguntas :

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1- O desvelamento da omissão que está por trás dos slogans (#metoo, "mexeu com uma mexeu com "quase" todas (sic)

2- Ao eleger quais mulheres merecem ou não defesa, rompeu-se o principio ético da isonomia,  equidade de tratamento e a aura humanitária que paira sobre organizações foi relativizada. Passaram a ser Instrumentalizadas por ideologias, ou preconceitos, para eleger suas prioridades.

3 - Qual será o impacto na estatura e na dignidade das futuras causas feministas diante da complacência demonstrada quando se tratava de denunciar os crimes do Hamas contra meninas e mulheres judias nos ataques de 07/10?

4 - A necessidade de mudanças estruturais nas diretrizes, pautas e defesa dos direitos femininos, se e quando, desejarem manter-se como instituições críveis. Doravante colocarão princípios acima das pautas ideológicas?

5- Severo comprometimento de agendas mais amplas como a discussão da igualdade de gênero, ambientalismo, propostas de prevenção da violência e discriminação.

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Por ultimo,  a pergunta mais pertinente: por que e por quais motivos as judias mereceram tanta desatenção e descuido?

Abaixo uma lista das agencias e organizações feministas que boicotaram e/ou omitiram as agressões, violações e ataques contra meninas e mulheres judias desde os crimes terroristas do hamas em 07/10:

ONU Mulheres (Orgão oficial da ONU)

CEDAW (Convention Against Discrimination of all Woman)

#MeToo

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Association para os direitos femininos development (AWID)

Center for Women's Global Leadership (CWGL)

Feminista Majority Foundation

Global Fund for Women

Que o tempo restaure as vozes das mulheres pelas mulheres. E por todos nós.

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