Dor nos olhos leva 230 pessoas a hospitais no Recife; produto para trança pode ter causado reação

Centenas relataram irritação nos olhos e buscaram unidades de saúde da capital pernambucana no fim de semana de prévias carnavalescas; casos são investigados

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Por Thati Teixeira
Atualização:

Mais de 230 pessoas procuraram atendimento em unidades de saúde do Recife e da região metropolitana após casos de irritação, dor e inflamação nos olhos. O uso de pomadas modeladoras para tranças capilares pode estar por trás das ocorrências, que aconteceram no fim de semana de prévias carnavalescas.

De acordo com o levantamento da Fundação Altino Ventura, grupo médico hospitalar referência no tratamento da saúde dos olhos, apenas no último fim de semana foram 72 atendimentos na UPA Ibura, 25 na UPA Paulista, 69 atendimentos no prédio próprio da Fundação (que atende paciente dos SUS e particular), além de mais de 70 casos no Hospital de Olhos Santa Luzia e Hospital de Olhos de Pernambuco (HOPE), que prestam atendimento particular.

Pacientes têm buscado atendimento especializado na Fundação Altino Ventura Foto: Google

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Uma das pacientes deste fim de semana foi Manuella Andrade, que foi atendida no Hospital Santa Luzia, em Casa Amarela, na zona norte do Recife. Manuella relatou que no último domingo, 5, contratou uma pessoa para fazer tranças em seu cabelo, com o objetivo de ir a uma prévia de carnaval no mesmo dia. Após se molhar durante a festa, os olhos começaram a arder.

Em pouco tempo, a visão ficou embaçada e em seguida ela já não conseguia enxergar mais nada. “Precisei de ajuda para chegar ao atendimento médico da festa. A enfermeira já sabia o que fazer, pois outras pessoas já apresentavam os mesmo sintomas nos olhos. Imediatamente, ela começou a passar água gelada seguido de soro fisiológico para lavar meus olhos. Apesar da ardência ter diminuído, decidi ir para o hospital, pois meus olhos continuavam a doer bastante.”

Manuella afirma que ainda apresenta dificuldade para enxergar, além de sentir fortes dores nos olhos e lacrimejamento constante.

Segundo o oftalmologista Frederico Ramalho, alguns sintomas podem surgir até 24 horas após a manipulação do produto.

“Em janeiro, atendi uma paciente em meu consultório com sintomas leves no olho direito. Porém, o olho esquerdo dela foi o que apresentou maiores problemas. Prescrevi um tratamento com antibióticos e lubrificante para recuperação. Além disso, durante os primeiros dias foi preciso ministrar uma pomada oftalmológica e proteger a região com tampões oculares”, descreveu.

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A cada fim de semana, os relatos de pacientes atendidos com essa condição vêm crescendo no Recife e região. Com o grande volume de chuvas notado recentemente, os casos aumentaram de maneira exponencial. O suor provocado pelo clima da região e a água da chuva, colaboram para que o produto derreta e escorra dos cabelos para a região ocular.

Segundo Kayo Espósito, médico oftalmologista da Fundação Altino Ventura, ainda não é possível afirmar qual o tipo de agente químico utilizado na fabricação dos produtos capilares que estaria causando esse tipo de lesão ocular.

“Iniciamos um estudo com alguns pacientes atendidos pela Fundação, para tentar identificar os agentes causadores desse trauma químico. Estamos listando os produtos que os pacientes utilizaram para apresentar à Anvisa.” Além disso, o médico ressaltou que após o contato com o produto com a córnea, a lesão é muito semelhante a uma queimadura por ácido.

Em meados de janeiro deste ano, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), divulgou um alerta, informando que sete marcas de produtos capilares tiveram as licenças canceladas para fabricar e comercializar seus produtos, devido à falta do cumprimento das normas sanitárias previstas. O problema principal é que muitos profissionais já haviam adquirido esses produtos para trabalhar durante o período de festas.

A maquiadora e cabeleireira Mayara Costa declarou que antes de comprar os produtos que está utilizando nas clientes verificou no site da Anvisa a licença e conversou com colegas de profissão sobre algumas marcas.

“A gente precisa ter todo o cuidado com nossas clientes e conosco, uma vez que ficamos muito próximas às áreas da face e do cabelo que estamos manipulando. Além disso, como profissionais da beleza também utilizamos os produtos para ensinar tutoriais, então também estamos correndo risco.”

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