Expedição pelo Paraopeba vê rio morto após rompimento de barragem
Rejeito mais denso faz curso d'água parecer 'chocolate derretido', compara pesquisadora; índice de turbidez é alto
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Por Giovana Girardi
Atualização:
BRUMADINHO (MG) - A cerca de 40 km abaixo do ponto em que a onda de rejeitos da barragem da Vale encontrou o Rio Paraopeba, uma pequena nascente, limpa, tenta se misturar ao rio e seguir seu curso. Em vão. O rio virou um tijolo líquido. Parece chocolate derretido.
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A comparação é de Malu Ribeiro, coordenadora do Programa Água, da SOS Mata Atlântica, que lidera uma expedição iniciada nesta quinta-feira, 31, para monitorar a qualidade da água do rio após o rompimento da barragem e trazer algumas pistas sobre os impactos ambientais do desastre.
Ali, porém, não há indicador de qualidade nenhum a ser medido. A turbidez é tão alta e densa que tirou todo o oxigênio - o principal indicador de vida. Não é possível checar quantidades de nitrato, fosfato ou quaisquer outros parâmetros porque a água virou uma lama só. “A única coisa que podemos dizer aqui é que esse rio está morto”, afirma a pesquisadora.
Veja imagens das buscas às vítimas da tragédia de Brumadinho
1 / 27Veja imagens das buscas às vítimas da tragédia de Brumadinho
Brumadinho
Vista aérea da região atingida pelo rompimento da barragem da mina do Córrego do Feijão, no final da tarde desta quarta-feira. Foto: Adriano Machado/Reuters
Brumadinho
Helicóptero sobrevoa área onde via férrea foi derrubada pela lama. Foto: Washington Alves/Reuters
Brumadinho
Lama cobriu edificações inteiras próximas à barragem da mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho. Foto: Corpo de Bombeiros de MG/Divulgação
Brumadinho
Cães farejadores trabalham com os Bombeiros à procura de vítimas da tragédia. Foto: Corpo de Bombeiros de MG/Divulgação
Brumadinho
Cães farejadores prestam importante auxílio na busca de vítimas fatais na lama e escombros de edificações após tragédia. Foto: Yuri Edmundo/EFE
Brumadinho
Equipe dos Bombeiros e Defesa Civil conta com mais de 300 agentes em Brumadinho. Grupos se revezam com tropas enviadas por outros Estados. Foto: Wilton Junior/Estadão
Brumadinho
Helicópteros dos Bombeiros e Polícias Militar, Civil e Rodoviária fazem várias viagens ao dia para visualizar área e transportar corpos encontrados. Foto: Wilton Junior/Estadão
Brumadinho
Barragem da Vale era considerada de baixo risco. Foto: Corpo de Bombeiros de MG/Divulgação
Brumadinho
Cerca de 100 indígenas que habitam a aldeia de Naô Xohã estão preocupados com a contaminação do rio Paraopeba pelos rejeitos da barragem da Vale. Foto: Funai/Divulgação/via EFE
Brumadinho
Escombros de casas e máquinas são encontrados no local da tragédia. Foto: Corpo de Bombeiros de MG/Divulgação
Buscas em Brumadinho
Esta quarta-feira, 30, foi o sexto dia de buscas em Brumadinho. Foto: Wilton Junior/Estadão
Protesto na sede da Vale
Manifestantes picharam sede da Vale em protesto após tragédia. Foto: Silvia Izquierdo/AP
Fábio Schvartsman, presidente da Vale
Fábio Schvartsman, presidente da Vale. Foto: REUTERS/Pilar Olivares
Brumadinho
Voluntários da Cruz Vermelha auxiliam equipes de buscas em Brumadinho. Foto: Wilton Junior/Estadão
Buscas em Brumadinho
Bombeiro trabalha no local da tragédia em Brumadinho. Foto: Douglas Magno/AFP
Buscas em Brumadinho
Helicóptero é usado para retirada de corpos da lama movediça. Foto: Wilton Junior/Estadão
Brumadinho
Bombeiros e pessoas que tiveram contato com a lama serão submetidas a exames periódicos Foto: Corpo de Bombeiros de MG/Divulgação
Brumadinho
Ponte da via férrea sobre o rio Paraopeba foi destruída pela força da lama com o rompimento da barragem. Foto: Wilton Junior/Estadão
Buscas em Brumadinho
Voluntários da Cruz Vermelha, alguns deles espanhois,trabalham com cães farejadoresnas buscas pelas vítimas da tragédia em Brumadinho. Foto: Wilton Junior/Estadão
Brumadinho
Imagem feita por drone durante enterroregistra várias covas abertas à espera de mais vítimas do desastre. Foto: Antonio Lacerda/EFE
Protesto na sede da Vale, no Rio
Na segunda-feira, manifestantes se cobriram de lama para protestar em frente à sede da Vale, no Rio. Foto: Silvia Izquierdo/AP
Buscas em Brumadinho
Chefe da delegação israelense no Brasil, Coronel Golan Vach, trabalha junto à equipe brasileira nas buscas. Foto: Wilton Junior/Estadão
Brumadinho
PM reforçou a segurança em Brumadinho e na área rural para evitar saques a residências. Foto: Wilton Junior/Estadão
Brumadinho
Cartaz na entrada da cidade pede orações às vítimas da tragédia. Foto: Mauro Pimentel/AFP
Buscas em Brumadinho
Vaca é domada para ser resgatada da lama movediça com auxílio de helicóptero. Foto: Washington Alves/Reuters
Buscas em Brumadinho
Uma vaca é retirada viva com auxílio de rede puxada por um helicóptero no local da tragédia. Foto: Washington Alves/Reuters
Buscas em Brumadinho
Mulher coberta por lama protesta em frente à sede da Vale, no Rio, na segunda-feira. Foto: Silvia Izquierdo/AP
O plano da expedição, acompanhada pelo Estado, é coletar água em vários locais a partir do marco zero, onde o rio foi contaminado, e checar as condições dele ao longo de seu curso em direção ao Rio São Francisco, por 356 km. A expedição tem previsão de seguir até a hidrelétrica de Três Marias, já no São Francisco.
Há três anos, Malu e equipe encararam um cenário de desolação semelhante no Rio Doce, atingido pela lama da Samarco, no que foi considerado o maior desastre ambiental do País. Algumas condições são diferentes. “Lá o rejeito era mais fino e ficava sobre a água, não decantava. Aqui, tomou tudo. É lama mesmo. A corredeira vai movimentando como se fosse uma batedeira de bolo”, explica.
Outra diferença importante, segundo Malu, é o local atingido primeiramente, que é de cabeceira. “Aqui a lama ficou depositada em várias nascentes que abastecem o Paraopeba. Ela vai continuar descendo constantemente junto com a água.”
Tiago Silva, biólogo da equipe, explica que um rio só retorna à vida com mata nas suas margens, com rios limpos desaguando nele, com nascentes limpas. “Aqui onde estamos vemos uma nascente chegar nele com a água transparente, mas nesse momento ela só encontra a lama”, diz.
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O primeiro dia de expedição teve coleta em três pontos. O primeiro é ao lado de onde a onda de rejeito atingiu o Paraopeba. Análises anteriores feitas pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) apontavam que o local tinha qualidade de água em nível regular. Nesta quinta, já estava ruim.
E ali estávamos um pouco antes do ponto de impacto. “Mesmo esse ponto que, visualmente, parece não ter nada, já está sentindo a contaminação. Houve uma espécie de refluxo. O oxigênio caiu, fósforo e nitrato estão altos.” Os outros dois pontos, em Brumadinho e logo após a cidade, já estavam mortos.
Diversidade
De acordo com o Comitê de Bacias do Rio Paraopeba, existem no local 86 espécies de peixes. Os mais comuns são corvinas, curimbatás, surubins e dourados, que abastecem a pesca na região.