Fogos de artifício e réveillon: como proteger cães e outros pets dos barulho? Veja dicas

Hipersensibilidade nos sentidos dos animais faz com que o ruído seja muito alto e produza efeitos de arritmia cardíaca a crises de pânico

PUBLICIDADE

Por Stéphanie Araujo

A queima de fogos se tornou um dos principais símbolos da passagem de ano nas festas de Réveillon e é tradição não apenas no Brasil, mas em várias partes do mundo. São vários minutos de pirotecnia e luzes no céu. Mas a alegria de grande parte dos humanos vira o desespero dos animais que, por causa do barulho, podem reagir com crises de pânico e até ataques epiléticos.

PUBLICIDADE

A hipersensibilidade nos sentidos dos animais, principalmente a audição, faz com que o barulho inesperado e acima de 60 decibéis cause estresse físico e psicológico, segundo o Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV). Os fogos de artifício com som podem alcançar de 150 decibéis a 174 decibéis.

A lista de incomodados pelos fogos de artifícios vai além dos cães e gatos. Para o professor de Medicina Veterinária do Centro Universitário de Brasília (CEUB), Bruno Alvarenga, as aves também são alvo de estresse profundo causado pelos itens pirotécnicos, podendo levar ao óbito.

“Animais ansiosos, medrosos e cardiopatas podem ficar muito assustados, correndo contra portas de vidro, quebrando itens em casa, até fugindo, com risco de sofrer atropelamento. Também temos os casos dos animais epiléticos, que podem sofrer crises com o barulho das explosões”, explica

Devido ao medo do alto som causado pelos fogos de artifícios animais de estimação podem correr em direção à portas de vidro e se machucar, fugir, ter casos de arritmia, ataque de pânico ou até mesmo desencadear uma crise epilética,  Foto: Darin/Creative Commons

Como não são todos os lugares do Brasil que proibiram o uso dos fogos com estouro, Alvarenga e o CFMV recomendam algumas ações preventivas para amenizar o pânico dos pets nesses períodos.

Algodão no ouvido

De acordo com Alvarenga, uma alternativa para os donos de pets é colocar algodão no ouvido dos animais e ligar a televisão de casa em um volume mais alto para disfarçar o volume dos fogos.

Locais confortáveis

Outra opção que pode ser feita em conjunto é proporcionar conforto, preparando um local acolchoado, onde eles fiquem protegidos e se sintam mais acolhidos nesses momentos.

Publicidade

“Alguns animais respondem positivamente ficando no colo de seus tutores. Proteção e carinho geram confiança para o animal”, indica.

Prescrição médica

No caso de animais que já foram diagnosticados com transtornos, o especialista recomenda que o tutor solicite ao veterinário a prescrição de medicamentos para aliviar o estresse, como ansiolíticos e antidepressivos, sejam eles fitoterápicos ou medicações industrializadas.

Alimentação

O CFMV deixa como orientação que se regule a ração dos pets no dia do festejo e os entretenha com petiscos e brinquedos durante a queima de fogos para que fiquem menos preocupados com o barulho.

“Se você alimenta seu cão duas vezes por dia, o alimente pela manhã normalmente e prepare brinquedos recheáveis com as comidas preferidas dele para fornecer próximo da hora de maior intensidade dos fogos. Ossos naturais bem grandes, para evitar engasgamentos, podem ser opções”, descreve o conselho em nota técnica.

Esconderijo

PUBLICIDADE

Como complemento ao local confortável, uma possibilidade para quem não estará em casa durante a celebração é preparar um espaço tipo “toca” para seu cachorro ou gato. Para cães, a parte de baixo das camas ou uma caixa transparente cabe bem. Para gatos, que costumam preferir locais com altura, é possível montar em cima de armários, prateleiras ou nichos. A “toca” deve ser abastecida com objetos com o seu cheiro.

Cansaço

Durante a tarde deste sábado, 31, deixe seu pet cansado. Leve seu pet para passear, correr, brincar, provoque pulos. O cansaço causado pelos exercícios o deixarão relaxado e provavelmente menos preocupado com os sons altos.

Atenção aos problemas cardíacos

Conhecer o histórico de doença do seu pet também é importante e deve ser avaliado pelos tutores. Em caso de doenças como cardiopatias ou transtornos comportamentais a situação pode se agravar em uma condição de estresse.

Publicidade

“Um paciente cardiopata pode ter sobrecarga cardíaca por conta do barulho e acabar morrendo, ou um animal mais sensível, como um gato, pode parar de se alimentar ou tomar água, levando inclusive a uma insuficiência renal”, alerta o especialista.

Conscientização

O professor ressalta que os cuidados preventivos são essenciais, mas dentro do possível é importante conscientizar os grupos nos quais você convive e vizinhos sobre o uso dos fogos com som durante as comemorações.

“Os tutores precisam conversar com os amigos e comunidade para evitar a compra e queima de fogos, justificando os males que causam aos animais. A comemoração pode ser feita sem estressar os bichos de estimação”, finaliza.

Legislação

Em algumas cidades brasileiras, buscando diminuir o impacto dos fogos de artifício não só em animais, mas também em pessoas autistas, idosos, recém-nascidos e outros grupos afetados pelo alto barulho, leis foram criadas e aprovadas para proibição de fogos de artifício com estampido ou estouro em todos os tipos de eventos, é o caso de Fortaleza.

Em Recife a poluição sonora dos fogos é proibida em eventos públicos e em Campo Grande, Macapá, Goiânia, Curitiba, Porto Alegre e Belo Horizonte só são permitidos os fogos silenciosos.

No espectro nacional, o projeto de lei 5/2022 prevê a proibição do uso e comercialização de fogos de artifício que produzem barulho a partir da explosão da pólvora em todo o território nacional. A proposta está atualmente em tramitação no Senado Federal.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.