Hoje é um grande dia para a América

Colunista fala do programa do comediante escocês Craig Ferguson.

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Por Lucas Mendes
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É quarta-feira! Você encontra o Craig Ferguson à meia-noite e meia na CBS, logo depois de David Letterman. O sucesso de Craig, um escocês recém-naturalizado americano, é debochar dos Estados Unidos, onde nada, nem uma quarta-feira sem eventos, consegue ser um dia normal. Tudo é mistificado, multiplicado, comercializado. Aos 16 anos, Craig teve uma briga com o professor sobre o significado de "existencialismo", saiu da escola e se dedicou ao álcool e à bateria em uma banda Punk, Bastards of Hell. É a leitura. Tomou intimidade com Kurt Vonnegut, Joseph Campbell, Jung, Mark Twain, Sartre, Herman Melville. Há quem veja um sotaque existencialista no humor dele, além do escocês, mas Craig se define como um pseudo-intelectual e as piadas da noite não são sutis. Sem sair do palco, ele fez a transição de baterista para comediante. Com o nome de Bing Hitler, ficou famoso pelas brigas, inclusive físicas, com a platéia. Em 92, parou de beber e criou para a BBC2 a série The Ferguson Theory, uma coleção de situações do cotidiano que incomodavam o comediante. Durou cinco episódios. No show business americano ele foi pedra rolada, partes pequenas em filmes de segunda, aparições em programas de TV e um chefe vaselina. Mr. Wick, no The Drew Carey Show. Escreveu e dirigiu um filme, I Will be There, que não foi a lugar nenhum, e escreveu um romance, Between the Bridge and the River, que, apesar de críticas favoráveis, afogou nas vendas. A grande chance de Craig surgiu em 2004 quando fez um teste para David Letterman, que além de contratá-lo na hora, convenceu a CBS a colocá-lo logo depois do seu programa. O começo foi pobre de verba e rico no monólogo que continua sendo o ponto alto do programa - o mais longo dos talk shows - que abre sempre com "hoje é um grande dia para a América". Ferguson começou a colecionar prêmios e engrossar a audiência quando incluiu no deboche temas pesados como alcoolismo, infância difícil e o próprio divórcio. Ele é boa pinta e atrai a audiência feminina. Dois mil e oito é um grande ano para Ferguson. Não só ultrapassou o concorrente no horário, em que consegue uma audiência de dois milhões de americanos que curtem o sotaque escocês e a avacalhação com os Estados Unidos. Também estão na sua mira os escoceses, "travestis pães-duros", e os ingleses, "para ser prostituta de classe nos Estados Unidos é so usar sotaque inglês quando espanca o cliente". E celebridades em geral. O Dalai Lama, por exemplo, vai se recusar a reencarnar se os chineses não se comportarem melhor no Tibete. A consagração foi sua apresentação no jantar dos correspondentes da Casa Branca, com a presença da elite política e jornalística de Washington. Como ele diz, "é o Oscar para gente feia ". "A Última Ceia de George", uma referência ao fim do mandato de Bush, foi um banquete de piadas sobre a imprensa e os políticos. "Dick Cheney já começou a mudança dele. Leva muito mais tempo porque não é fácil transportar uma prisão". Sobre o menu do jantar: "deve ser peixe ou galinha, mas se o vice-presidente Dick Cheney saiu para caçar vai ser galinha com advogado." Ainda sobre o presidente Bush: "precisa de um emprego com mais tempo de férias." Na terra das oportunidades, Craig Ferguson tem muito chão para fazer graça. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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