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‘Filme de terror’: ilhados no Rio Grande do Sul esperam resgate e usam até geladeira como barco

Barcos, botes, motos aquáticas, caminhões e helicópteros viram a esperança daqueles que estão cercado por inundações nas cidades gaúchas

Por Júlia Taube
Atualização:

Gritos de socorro, pessoas e animais em cima de telhados, tecidos vermelhos sinalizando pedidos de ajuda sobre as pequenas frestas ainda abertas entre janelas e a água que tomou o Rio Grande do Sul. Essas são algumas das maneiras encontradas para tentar sobreviver mediante o caos instaurado no Estado, que enfrenta seu pior desastre climático após uma sequência de temporais.

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Mesmo com a trégua nas chuvas, municípios inteiros seguem devastados pelo crescente nível de rios e lagos. Em São Leopoldo, na região metropolitana de Porto Alegre, o Rio do Sinos ultrapassou o nível de oito metros. Segundo o prefeito Ary Vanazzi (PT), essa é a maior enchente da cidade em 83 anos.

Dos mais de 200 mil habitantes leopoldenses, cerca de 150 mil estão desalojados ou desabrigados. Até o momento, 18 abrigos foram abertos no município, que decretou situação de calamidade pública no último sábado, 4.

Moradores tentam escapar de inundação em Canoas, no Rio Grande do Sul Foto: Amanda Perobelli/Reuters

Da casa que construiu durante uma vida inteira, Leandro Souza Dias só conseguiu salvar Thor e Lia, seus cães e “fiéis companheiros”. Empurrando uma geladeira improvisada como barco para levar os cães a salvo, ele caminhava pelas ruas com a água batendo na altura de sua cintura em busca de encontrar um local seco para solicitar resgate e abrigo.

“A gente luta, faz tudo. Não tenho mais nada, só os cachorros. Pegamos muitas enchentes, mas nunca foi assim”, conta ele, com a voz embargada.

No município, o dique que faz a contenção do Rio do Sinos extravasou na manhã de sábado e alagou diversos bairros, incluindo a região central, deixando locais como prefeitura, biblioteca pública, postos de saúde, postos de combustíveis, tabelionatos, supermercados e farmácias embaixo d’água.

Na tarde de domingo, 5, o governo federal anunciou a implementação de um hospital de campanha do Ministério da Saúde na cidade.

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Leandro tenta salvar seus cães em São Leopoldo, na Grande Porto Alegre, inundada pelo temporal Foto: Julia Taube/Estadão

Para salvar vidas, barcos, botes, motos aquáticas, caminhões e helicópteros viram a esperança de famílias inteiras que estão ilhadas, vivendo um “filme de terror”, como relata Josué Campos, que foi resgatado de barco com mais sete familiares depois de esperarem mais de 24 horas por ajuda.

Ainda, na pressa por conseguir resgatar o máximo de vítimas e animais possíveis, parentes e tutores de gatos e cachorros acabam se separando. Com isso, centenas de adultos, idosos e crianças estão sendo procurados pela cidade.

A situação se repete em Canoas, a 18 quilômetros da capital gaúcha. Conforme o prefeito da cidade, Jairo Jorge (PT), 80 mil casas foram atingidas. Milhares de moradores de bairros como Mathias Velho, Fátima, Rio Branco e Harmonia tiveram de ser resgatados dentro da água por cordões humanos formados por voluntários, em embarcações dos bombeiros e até por meio de aeronaves da Força Aérea Brasileira (FAB).

Segundo a prefeitura, só no fim de semana, foram recebidos 63,8 mil pedidos de socorro por telefone ou mensagem de celular. Ao todo, 80 pessoas foram removidas da UTI do Pronto Socorro, depois que o local ficou inundado, assim como Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) da cidade.

De acordo com a Defesa Civil do Rio Grande do Sul, dos 497 municípios do Estado, 345 cidades e 850 mil pessoas foram afetadas pelas tempestades. O órgão soma 141,2 mil pessoas fora de casa, sendo 121,9 mil desalojadas, que recebem abrigo nas casas de familiares ou amigos, e 19,3 mil em abrigos públicos.

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