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Lou Reed por Ezequiel Neves: um filho de Bob Dylan com o Marquês de Sade

Crítico musical ficou fascinado com o disco Rock’n Roll Animal do roqueiro novaiorquino

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Por Acervo Estadão
Atualização:

Em 1974, o crítico musical Ezequiel Neves estava obcedado com um tema - a morte do rock - e falou sobre ele em algumas de suas colunas daquele ano. Parecia estar pronto para emitir o atestado de óbito do gênero. Mas em alguns momentos um lançamento musical fazia com que Ezequiel atestasse que uma transfusão de sangue nas veias deu sobrevida ao moribundo. Foi o que aconteceu na edição de 3 de agosto do Jornal da Tarde, quando escreveu sobre o disco Rock’n Roll Animal, de Lou Reed. Leia a íntegra.

Jornal da Tarde - 3 de agosto de 1974

Texto de Ezequiel Neves sobre disco de Lou Reed no Jornal da Tarde de 3 de agosto de 1974. Foto: Acervo Estadão

UMA LIÇÃO DE ROCK. POÉTICA, VIOLENTA E DESESPERADA

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Seu autor: Lou Reed, um filho de Bob Dylan com o Marquês de Sade

Por Ezequiel Neves

Para o cantor e compositor Lou Reed o rock é uma espécie de ato de fé. Nascido em um cortiço de Nova York, muito cedo ele conseguia superar seus problonas de sobreviviência adquirindo não apenas uma sólida base intelectual, mas também — e principalmente — uma fervorosa devoção pela música. Para ele não haveria problemas de expressão caso se dedicasse à literatura ou à critica.

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Seu ensaio sobre os mártires do rock (Hendrix, Joplin, Brian Epstein e Jones, publicado em 1970 na revista “Fusion”, dá bem a medida do seu talento. Mas desde 64 (antes mesmo de ser descoberto por Andy Warholl, Reed ja escrevia poemas que eram publicados em edições clandestinas (em cópias xerox) e circulavam nos bares de Greenwich Village. Mas sendo a música um idioma de comunicação imediata, é muito justo que ele optasse pela composição, a fim de comumicar-se com o mundo.

Nas diversas correntes artística, contudo, há os que se comprazem em celebrar o lado ameno da vida e os que preferem se debruçar sobre suas águas mais turvas. Lou Reed é um dos únicos compositores populares contemporâneos que podem ser enquadrados nessa segunda corrente. Como assinalou o crítico Nick Cohn, ele pertence àquela geração emergente de poetas compositores cuja sensibilidade foi violentada pela cultura das drogas que amadureceram ameaçados pela guerra do Vietnã e sob o constante declínio da moral nacional.

Lou Reed é um cronista do terror e da paranóia e seus personagens são parias e marginais que vagueiam pelos becos do mundo. E a categoria de sua produção (contida em oito LPs à frente do Velvet Underground e em quatro discos solos), é tão marcante que não seria exagero inclui-lo ao lado de escritores e poetas como Jean Genet, Willimam Burroughs, Henry Miller, Sade e Lautreamont.

E como esses artistas, também para Lou Reed o reconhecimento e a popularidade só foram alcançadas depois de muito trabalho. Lutando contra toda a sorte de repressão (rádios que não programavam seus discos, gravadoras censurando seus versos, a imprensa tachando-o de “maldito” e anticomercial, ele só seria consagrado como um dos mais importantes compositores norte-americanos em 72 — exatamente seis anos após sua estréia em Nova York como líder do grupo Velvet Underground. E, fato curioso, isso só aconteceu quando trocou os EUA pela Inglaterra.

“Em Londres”, diz ele, a mentalidade das pessoas é mais aberta. Me surpreendi com o fato de todos os “big shots” da indústria fonográfica, produtores e artistas, me receberem como receberiam, por exemplo, Dylan”.

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Na verdade, seus três LPs solos (o segundo, Transformer, produzido por David Bowie alcançaram na Inglaterra excelente vendagem superando, inclusive, o total atingido por seus oito álbuns gravados com o Velvet. Mas ainda assim, eram obras demasiadamente heeméticas, fugindo à produção normal do mercado do rock. O LP Berlin, por exemplo, assustou até mesmo seus mais fiéis seguidores, alarmados com sua atmosfera terrivelmente claustrófobica.

O MELHOR DISCO

E embora Lou não tenha renunciado à sua proposição de abordar em suas letras o lado trágico dos seres humanos, em Rock’n Roll Animal — lançado agora pela RCA Victor — ele se apoia principahnente na agressiva eletricidade das guitarras para transmitir sua negra visão do mundo. Secundado por excelentes músicos (todos eles da quarta geração do rock anglo-americano, o “Frankstein do Rock” apresenta nesse disco seu trabalho mais demolidor.

Gravado no vivo no dia 27 de dezembro do ano passado, na Acadany of Music, de Nova York, Roc’n Roll Animal finalmente permite a Lou apresentar, pela primeira vez em sua carreira, um som tão cortante e perigosos quanto as letras que sempre compôs.

Obras-primas corno “Heroin” (1966), “Sweet Jane (67), White Light/White Heat” (68), “Rock’n Roll” (69) e “Lady Lay” (71), ganharam arranjos enérgicos e viscerais, uma verdadeira explosão do mais puro e incendiário rock’n roll. E o “animal” capturado vivo prefere não cantar: rosna ou grita seus versos enquanto uma avalanche de eletricidade chicoteia o ouvinte.

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Finalmente Lou encontrou músicos competentes que compreenderam com perfeição o sentido apocalíptico de seus versos. Os guitarristas Dick Wagner c Steve Hunter (esse último beneficamente Influenciado pelo estilo paranóico de Ritchie Blackmore), detonam raios elétricos fustigantes, enquanto o baixo de Prakash John e a bateria de Pentti Glan constroem uma base sacudida e pulsativa. E há ainda os teclados de Ray Colcord sempre prontos a inventar um clima de caos ou de terror — como no longo solo de “Heroin”. Estamos diante de uma autêntica lição de rock, das mais selvagens e furiosas aparecidas ultimamente.

Rock’n Roll Animal, sem dúvida alguma, pode e deve ser incluído entre os melhores lançamentos do ano. Graças a esse disco e especialmente a Lou Reed (agora com 29 anos), a morte do rock fica adiada pela enésima vez.

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Jornal da Tarde

Por 46 anos [de 4 de janeiro de 1966 a 31 de outubro de 2012] o Jornal da Tarde deixou sua marca na imprensa brasileira.

Neste blog são mostradas algumas das capas e páginas marcantes dessa publicação do Grupo Estado que protagonizou uma história de inovações gráficas e de linguagem no jornalismo.

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Um exemplo é a histórica capa do menino chorando após a derrota da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1982, na Espanha.

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