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Opinião|"Big techs" criam armadilhas para nossos dados e nossa liberdade de pensamento

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Atualização:
Imagem falsa do papa Francisco, criada pela plataforma de IA Midjourney, que "viralizou" no ano passado - Foto: reprodução

De tempos em tempos, uma indústria cria um domínio tão poderoso sobre a população, que as pessoas não conseguem ficar sem seus produtos. Por exemplo, não faz tanto tempo que os brasileiros que montavam uma casa nova compravam sua televisão antes que uma geladeira! E a indústria tabagista criou, no passado, a ideia de que fumar era "chique", quando, na verdade, seus produtos viciam, adoecem e até matam seus consumidores.

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Há pelo menos uma década, esse domínio vem das "big techs", com seus buscadores, redes sociais, smartphones e agora inteligência artificial. Elas não nos matam como os cigarros, mas têm aumentado muito as pessoas com problemas de saúde mental, levando algumas ao suicídio.

Apesar de sabermos que nos monitoram ostensivamente, usando nossos dados para seus interesses, somos incapazes de renunciar aos benefícios que nos oferecem. E dessa forma, desenvolveram um poder sem precedentes, capazes de nos convencer sobre quase tudo.

É interessante pensar que essa "troca justa" -nossos dados pelos seus serviços- existe há apenas duas décadas. Ela foi tão assimilada em nossa sociedade, que é como se sempre tivesse sido assim.

Temos que questionar sempre até onde essa troca continua sendo realmente justa! Mas temos o necessário discernimento para tal?

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A Apple criou o conceito de "gaiola dourada" para seus clientes. Para usarem seus produtos inegavelmente revolucionários, funcionais e lindos, aceitam condições às vezes draconianas.

O Google ampliou isso com sua miríade de produtos. É muito difícil alguém no mundo ocidental não usar pelo menos um deles. De certa forma, tornou-se assim a empresa de maior impacto do planeta!

Com um poder de convencimento ainda maior, existem as redes sociais, principalmente o Facebook e o Instagram, da Meta. Da mesma forma que nos ajudam a manter contato com amigos e a nos apresentarmos para o mundo, nos convencem do que comprar até em quem votar..

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Agora todas as "big techs" correm para a inteligência artificial! Ela já promove transformações profundas no mundo, mas está apenas engatinhando. E novamente todos estamos "alimentando a besta" e tirando nacos do que ela nos oferece.

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Tamanho é seu impacto, que uma fonte inusitada vem debatendo o tema desde o ano passado: o papa Francisco. O sumo pontífice abraça os enormes benefícios da IA, mas alerta que isso não pode afetar nossa humanidade, e que os fins não podem justificar os meios. Ele engrossa o coro pedindo a regulamentação dessas empresas, para um desenvolvimento transparente, ético e responsável da IA.

Em sua mensagem para o 58º Dia Mundial das Comunicações Sociais, o papa pergunta "qual será o futuro desta nossa espécie chamada Homo sapiens na era das inteligências artificiais?" Ele se preocupa com seu impacto no mundo do trabalho, e que acabe sendo usada para desumanizar relações, tomando decisões desprovidas de empatia. E teme ainda que piore o já crítico quadro de desinformação, classificado como "a maior ameaça global a curto prazo" pelo Fórum Econômico Mundial.

Se uma das maiores autoridades espirituais do mundo está se preocupando assim com a tecnologia, o tema precisa ser levado a sério! E concordo com Francisco quando diz que não se pode confiar que as "big techs" se autorregulamentarão.

Tanto que, na semana passada, Mark Zuckerberg, CEO da Meta, disse que usará todas as publicações de seus bilhões de usuários para treinar sua nova IA, sem compensá-los ou sequer avisá-los. E isso abre uma avenida de questionamentos legais e éticos.

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Se as redes sociais já sequestraram muito de nossa liberdade de pensamento, a inteligência artificial pode levar isso às últimas consequências, criando uma "intimidade digital" com bilhões de pessoas. Isso é incrível, mas também assustador!

Francisco está certo!


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Opinião por Paulo Silvestre

É jornalista, consultor e palestrante de customer experience, mídia, cultura e transformação digital. É professor da Universidade Mackenzie e da PUC–SP, e articulista do Estadão. Foi executivo na AOL, Editora Abril, Estadão, Saraiva e Samsung. Mestre em Tecnologias da Inteligência e Design Digital pela PUC-SP, é LinkedIn Top Voice desde 2016.

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