Museu do Ipiranga terá exposições interativas a partir do dia 8; veja fotos

A reportagem do Estadão participou de um tour pelo local que, após as reformas que duraram nove anos, se expandiu para 49 salas, quatro vezes mais que o que se tinha antes

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Foto do author Ítalo Lo Re
Por Ítalo Lo Re
Atualização:

SÃO PAULO – Após nove anos de espera, o Museu do Ipiranga, na zona sul da capital paulista, será finalmente reaberto para o público geral a partir do próximo dia 8, logo após o aniversário de 200 anos da Independência. Os visitantes que forem até o local terão acesso a um total de 11 exposições distribuídas por 49 salas - quatro vezes mais do que antes. As entradas irão ocorrer mediante agendamento prévio e serão gratuitas até 6 de novembro. Depois, será cobrada uma taxa de entrada, mas não foi especificado o valor.

A reportagem do Estadão participou de um tour pelo museu para conhecer parte das exposições. Por lá, encontrou uma série de instalações com foco em acessibilidade e em experiências sensoriais, uma das novas marcas do museu. Além de obras já consagradas, como o quadro Independência ou Morte, de Pedro Américo, e uma maquete de cinco metros de largura do próprio edifício. A obra foi feita nos anos 1880 por uma equipe liderada pelo arquiteto Tommaso Gaudenzio Bezzi.

Fachada do Museu do Ipiranga. Local vai ser reinaugurado para o público em 8 de setembro. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

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“É um museu de história com acervos importantes sobre a Independência. Mas não só sobre a Independência, é um museu que trata da sociedade brasileira, da sociedade de São Paulo, do mundo do trabalho e das famílias”, explica Amâncio Jorge de Oliveira, vice-diretor do Museu do Ipiranga.

Ele ressalta que, ao todo, serão expostos ao público cerca de 3,5 mil itens pertencentes ao acervo do museu. Nos dias 6 e 7, a visitação será para um público restrito, mas a partir do dia 8 o espaço será aberto para o público geral. “O museu dobrou de tamanho e vai acolher não mais 300 mil pessoas por ano, mas agora 900 mil pessoas por ano.”

O novo espaço expositivo abrange todas as áreas do edifício, incluindo espaços antes sem acesso ao público, e outros que não existiam. As salas expositivas saltaram de 12, quando o espaço foi fechado há nove anos, para 49, nesta nova fase do Museu do Ipiranga.

Entre as principais novidades, estão a presença de 70 peças audiovisuais, salas imersivas, espaços interativos e acessibilidade. São cerca de 333 recursos multissensoriais disponíveis para todos os públicos, como telas táteis, maquetes e réplicas ampliadas de diversos itens do acervo.

No Salão Nobre, por exemplo, em que se tem o quadro Independência ou Morte, a curadoria organizou uma réplica da obra em alto relevo para permitir que pessoas com deficiência visual “experimentem” o que está na obra. Há ainda um painel interativo destrinchando alguns dos principais elementos do quadro, que foi concluído em 1888 e tem 7,6 metros de comprimento por 4,15 metros de altura.

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O museu dobrou de tamanho e vai acolher não mais 300 mil pessoas por ano, mas agora 900 mil pessoas por ano.

Amâncio Jorge de Oliveira, vice-diretor do Museu do Ipiranga

“Costumamos brincar aqui no museu que o Independência ou Morte é a nossa Monalisa. Ou seja, todo mundo quer vir aqui ver essa pintura”, diz o historiador Paulo Garcez Marins, pesquisador da Universidade de São Paulo (USP) e um dos curadores do museu.

Réplica do quadro em alto relevo que permite às pessoas com deficiência visual tatearem e entenderem o que está na obra. Foto: Tiago Queiroz/Estadão Foto: TIAGO QUEIROZ

“E quem não enxerga, como faremos? Nós tivemos uma preocupação enorme nas exposições que estão sendo abertas em criar formas de diálogo com todos os públicos”, explica ele. Repaginado, o Museu do Ipiranga tem elevadores para acessibilidade e conta com piso podotátil em todas as salas expositivas.

Conforme a organização do museu, os recursos audiovisuais serão uma importante forma de se relacionar com os visitantes. Os audiovisuais aprofundam temas tratados nas exposições e possuem linguagem em libras, legendas, audiodescrição e versão em inglês. Nas legendas, há ainda a descrição das obras em braille.

Conheça as novas exposições do Museu do Ipiranga

As exposições serão divididas em dois eixos: o primeiro é o ‘Para Entender a Sociedade’, que apresenta pesquisas desenvolvidas pelo corpo docente do Museu e, conforme a curadoria, dizem respeito a processos sociais ligados aos imaginários que alimentam histórias do Brasil, ao universo do trabalho e à constituição dos espaços domésticos como lugares de formação de identidades (as exposições desse eixo vão de 1 a 6).

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O segundo eixo é o ‘Para Entender o Museu’, que trata de informações sobre a história do edifício, da instituição e de seu ciclo curatorial. Além de uma exposição introdutória sobre esses temas, o eixo conta com mais quatro exposições, que exibirão as maiores coleções do Museu – medalhas, moedas, imagens fotográficas e pinturas e objetos do cotidiano como brinquedos e louças nacionais e estrangeiras (as exposições desse eixo vão de 7 a 11).

A 12ª exposição, que será inaugurada em novembro, não faz parte de nenhum desses eixos, uma vez que é temporária. Conheça abaixo as exposições que estarão presentes reabertura do Museu do Ipiranga:

1. Uma História do Brasil

Compreende o hall, a escadaria principal de mármore e o Salão Nobre. Tem como acervo principal as obras de arte que estão integradas à arquitetura, como a tela Independência ou Morte, de Pedro Américo. O conjunto de obras constitui uma versão da história do Brasil produzida para as comemorações do centenário da Independência em 1922. A exposição propõe uma discussão contextualizada sobre esses documentos tridimensionais que mostram uma visão histórica difundida na década de 1920.

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A exposição compreende o hall, a escadaria principal de mármore e o Salão Nobre do museu. Foto: Tiago Queiroz/Estadão Foto: Tiago Queiroz

2. Passados Imaginados

Exibe telas de grandes dimensões, além da maquete de gesso representando a cidade de São Paulo em 1841, que ganhou novos recursos tecnológicos. O foco é demonstrar que os acontecimentos representados nessas obras não são uma janela para o passado que está ali representado, e sim o processo de criação de artistas em determinadas épocas.

3. Territórios em Disputa

Exposição de objetos mais antigos do museu ligados à colonização e que remontam aos séculos 16 e 17. São objetos em pedra, cartas de sesmaria, mapas e outros documentos que contam como os europeus implantaram nas terras coloniais noções de território que se materializaram não apenas por meio de legislação ou da força bruta, mas pelo uso de objetos inéditos para os povos indígenas.

4. Mundos do Trabalho

Trata do universo do trabalho num amplo espectro de atividades desde o período colonial até os dias atuais. Pretende lançar luzes sobre o trabalho anônimo de indígenas, negros escravizados, forros, homens livres, migrantes, imigrantes e, com isso, trazer questões centrais para a compreensão do trabalho nos dias de hoje. Uma delas será demonstrar que o trabalho manual ou seriado não pode ser desconectado do trabalho intelectual, divisão muito comum e que desvaloriza o trabalho feito com o corpo, especialmente com as mãos. Inclui ferramentas de marcenaria e mecânica de Santos Dumont.

Exposição Mundo dos Trabalhos, que mostra o trabalho anônimo de grupos como indígenas, negros escravizados, migrantes, imigrante, entre outros. Foto: Tiago Queiroz/Estadão Foto: TIAGO QUEIROZ

5. Casas e Coisas

Expõe o processo de transformação de especialização dos espaços da casa que levou a compartimentações como áreas sociais, íntimas e de serviço. Era um lugar multifuncional – o lugar onde se cultivava alimentos, se praticava o comércio, se produziam coisas, onde as crianças recebiam educação, se realizavam encontros culturais. Ao longo do tempo, essas atribuições foram sendo transferidas para instituições específicas fora da casa. Ao perder essas funções tradicionais, a casa se volta para uma experiência inédita: fazer parte da formação da identidade. É no século 19 que a palavra “interior” passa a conectar artefatos e espaços da casa ao interior psíquico de seus moradores.

6. A Cidade Vista de Cima

Apresenta imagens que mostram os diferentes momentos da história da cidade de São Paulo e prepara o visitante para apreciar a paisagem urbana no mirante.

7. Para Entender o Museu: exposição introdutória sobre o eixo

Conta a história do edifício e da instituição, explicando como é o trabalho na área de História e Cultura Material, como surgiu o Museu e porque ele foi instalado em um edifício projetado para ser um monumento à memória da Independência. A mostra conta com a Maquete do Museu produzida pelo arquiteto Tommaso Gaudenzio Bezzi em 1880 e detalha a arquitetura do prédio e sua construção.

Com recursos de acessibilidade, a exposição conta a história do edifício e da instituição, fornecendo detalhes sobre o surgimento do Museu. Foto: Tiago Queiroz/Estadão Foto: TIAGO QUEIROZ

8. Coletar: imagens e objetos

Utiliza amostras da coleção do museu para explicar as mudanças nas políticas de coleta de documentos, que levaram tanto a uma ampliação da representatividade social e cultural presente nas coleções quanto a uma variedade de materiais e técnicas dos objetos e imagens coletados. Destaque para a coleção de 33 retratos em óleo do belga Adrien Henri Vital van Emelen retratando pessoas negras e indígenas.

9. Catalogar: moedas e medalhas

Explora a prática da catalogação a partir da tradicional coleção de moedas e medalhas, que tem formas muito estabelecidas de identificação e descrição de seus materiais e suas simbologias.

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10. Conservar: brinquedos

Objetos de brincar de casinha figuram ao lado de carrinhos, espaçonaves e foguetes. Será possível mostrar o trabalho de conservação, desde a avaliação no momento da entrada do item na coleção, as atividades de higienização e restauração, os modos de embalar até a guarda nas reservas técnicas.

Pelo tour, os visitantes também vão encontrar maquetes, incluindo a produzida pelo arquiteto Tommaso Gaudenzio Bezzi em 1880, que chega a ter 5 metros de largura. Foto: Tiago Queiroz/Estadão Foto: TIAGO QUEIROZ

11. Comunicar: louças

Mostra como se produz uma exposição a partir de resultados de pesquisa e de como a pesquisa pode mudar o perfil das coleções. A exposição em um museu universitário de História é bem diferente da prática de simplesmente expor os objetos. Ela está relacionada à seleção, criação e interpretação, portanto, a um processo de conhecimento que está longe de ser neutro ou de atestar uma verdade.

12. Memórias da Independência (exposição temporária)

Irá inaugurar a área nova de expansão do Museu sob a Esplanada. Serão tratadas as diferentes práticas memoriais e comemorativas relacionadas ao processo de Independência, que resultaram em sucessivas celebrações ao longo dos séculos 19, 20 e 21. Por ela, o público poderá compreender como o processo de ruptura com Portugal foi também disputado por projetos celebrativos e festividades que ocorreram em São Paulo, no Rio de Janeiro (a antiga capital) e em Salvador (onde o processo de Independência só foi concluído em 1823). A exposição abre no dia 1º de novembro e fica quatro meses em cartaz.

O consagrado quadro Independência ou Morte, do artista Pedro Américo, é tratado como uma espécie de Monalisa do Museu do Ipiranga por conta de sua popularidade. Foto: Tiago Queiroz/Estadão Foto: TIAGO QUEIROZ

Serviço

Museu do Ipiranga. Rua dos Patriotas, nº 100

Dias de funcionamento: de terça a domingo

Horários: de 8 a 11 de setembro, das 11h às 16h. Depois, das 12h às 18h (horário válido para setembro)

Entrada apenas mediante agendamento prévio. Os ingressos serão disponibilizados a partir de 5 de setembro, às 10h, no site www.museudoipiranga.org.br

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A entrada será gratuita até 6 de novembro. Não foi divulgado quanto será cobrado depois.

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