O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) fez nesta sexta-feira um corte expressivo na previsão de safra de soja do Brasil, após uma seca ter reduzido fortemente a produtividade das lavouras no Sul. Mas o órgão do governo dos EUA ainda manteve os brasileiros na liderança do ranking da exportação da oleaginosa na temporada 2011/12. A previsão de safra do Brasil foi reduzida em quase 5 por cento na comparação com o levantamento de fevereiro do USDA, para 68,5 milhões de toneladas, o que representaria uma redução de quase 10 por cento ante a temporada passada, quando a produção foi de 75,5 milhões de toneladas. A projeção de exportação de soja do Brasil em 11/12 foi reduzida também, em 900 mil toneladas ante o mês anterior, para 36,9 milhões de toneladas. Segundo participantes do mercado, as exportações não devem sentir tanto a quebra de safra, o que deixará atipicamente o Brasil ainda na liderança dos embarques, em função dos grandes estoques da temporada passada, cuja colheita foi recorde. Além disso, a última safra dos EUA, tradicionais líderes nas exportações do grão, também caiu ante as expectativas iniciais por conta de adversidades climáticas - as exportações norte-americanas em 11/12 estão estimadas em 34,7 milhões de toneladas. "O estoque elevado que teoricamente tínhamos de 10/11 mais que compensa a queda na produção, e isso permite que ainda tenhamos um excedente exportável razoável e que o Brasil exporte volume recorde dentro daqueles meses escolhidos pelo USDA", disse o analista Steve Cachia, da corretora Cerealpar, lembrando que o ano comercial considerado para as exportações do Brasil pelo USDA vai de outubro a setembro, o que também interfere na previsão. Com estoques, o Brasil teve exportações mais elevadas do que o normal em novembro, dezembro, janeiro e fevereiro, quando as exportações normalmente são mais baixas por se tratar do período do pico de entressafra (novembro e dezembro) e de início de colheita (janeiro e fevereiro). Justamente por ter oferta e por contar com forte demanda externa, o Brasil exportou entre novembro de 2011 e fevereiro de 2012 cerca de 5,6 milhões de toneladas de soja, ante somente 1,4 milhão no mesmo período anterior. Esse crescimento no volume também é quantificado nos números do USDA. MARÇO COM GRANDES EMBARQUES Em março, já com a colheita em estágio mais avançado, as exportações costumam aumentar em relação aos meses anteriores. Mas neste mês em especial o crescimento deverá ser mais expressivo, conforme indica a programação dos navios nos portos, com embarques programados de mais de 5 milhões de toneladas, ou cerca de o dobro dos verificados no mesmo período do ano passado. "Está na época (de grandes exportações), agora é o quente do negócio", disse um corretor, que preferiu não se identificar, lembrando no entanto que os embarques atuais são de vendas fechadas anteriormente e não de negócios novos, acertados recentemente. Ajuda no crescimento ante março de 2011 também uma colheita antecipada neste ano em relação ao ano passado. "Basicamente emendou uma safra na outra, estamos entrando com 'carryover' (estoques finais) bom, e isso ajuda a exportar nesse período. Este ano deu para embarcar (nos últimos meses) porque tinha produto, e isso amortece a nossa performance, apesar da safra ter quebra. Estamos queimando os estoques", disse o secretário-geral da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), Fábio Trigueirinho. O executivo afirmou ainda que, se o Brasil exportou bons volumes nos últimos meses e se deve manter o ritmo nesta época de colheita, provavelmente os embarques diminuirão um pouco ao final do ano, como normalmente acontecia, com a quebra de safra se fazendo sentir. "Vai voltar a ter queda sazonal no final de 2012 e início de 2013." Para o analista da AgRural, Fernando Muraro, a quebra de safra no Sul do Brasil poderá reduzir as exportações do país no ano calendário 2012 em cerca de 3 milhões de toneladas, ante um recorde de 33 milhões de toneladas no ano anterior. "Se atingirmos 30 milhões já será um bom número", disse. Ainda assim, o Brasil teria o seu segundo maior volume embarcado da história, superando os embarques de 2010, que foram de 29 milhões de toneladas, observou o analista. (Edição de Sabrina Lorenzi)
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