Não se trata, porém -- ao contrário do que muita gente imagina -- de mera antipatia gratuita ou de uma grande conspiração cartesiano-materialista-capitalista para evitar o advento da Era de Aquário. O problema é que esses fenômenos não só nunca foram demonstrados de modo satisfatório, como existem muitas formas conhecidas e comprovadas de falsificá-los.
No caso específico da chamada "leitura da mente", não se trata apenas do truque amador usado pelos detetives ficcionais Sherlock Holmese C. Auguste Dupin para impressionar amigos e clientes, mas de uma disciplina profissional altamente especializada, o mentalismo. Seu maior praticante na atualidade talvez seja o britânico Ian Rowland.
A principal técnica éa "leitura a frio", na qual o "vidente" basicamente joga verde para colher maduro: ele finge dar informação quando, na verdade, apenas extrai dados do consulente. Por exemplo, ele pode dizer algo como: "Vejo uma mulher muito importante na sua vida... o nome começa com... vejo um 'M'... Estou certo?" E descobrir que o cliente tem uma tia, a mãe, ou a namorada chamada Maria (que, aliás, é o nome feminino mais comum no Brasil, o que faz do "M" uma aposta quase certa).
Estatísticas desse tipo, aliás, são a alma do negócio. Entre outras dicas, Rowland explica que a maioria das pessoas está preocupada com um de sete temas: amor, saúde, dinheiro, carreira, viagem, educação e ambições. A ordem varia, claro, de acordo com idade e classe social. Se uma adolescente de classe alta entrar no seu consultório de cartomante em novembro, você dificilmente errará ao adivinhar que ela está preocupada com o namorado, o vestibular e a viagem de férias.
Além disso, diz ele, é possível surpreender o cliente também "adivinhando" uma série decoisas que são verdade paraa maioria das pessoas, mas que soam extremamente íntimas ou pessoais para o indivíduo -- por exemplo, que a joia que ele está usando pertenceu a um parente já morto; que tem muitas fotos guardadas, mas em caixas, não álbuns; que tem livros sobre um tema que já foi muito importante pra ele, mas que não o interessa mais; que tem uma cicatriz no joelho; que se envolveu num acidente com água na infância; e que há um recado velho pendurado na porta da geladeira.
Mesmo que só uma ou duas dessas afirmações sejam realmente verdadeiras em relação a cada cliente em particular, isso deve bastar para chocar todos eles com seu fantástico poder paranormal.
O que só vem mostrar que Leonard estava certo em duvidar do vidente de Penny. Mas ele poderia ter sido mais delicado ao fazê-lo...