O que é que Harvard, MIT, Caltech, Oxford, Stanford e outras das melhores universidades do mundo têm em comum? Um grande orçamento, muito investimento em pesquisa, poucos alunos por professor, muitos estrangeiros (tanto entre alunos quanto professores) e muita cooperação internacional são alguns dos ingredientes básicos da fórmula de sucesso dessas instituições, segundo a revista Times Higher Education (THE), de Londres.
Prestes a anunciar o seu novo ranking internacional das 200 melhores universidades do mundo -- que costuma gerar muita publicidade e discussão toda vez que é publicado --, a THE divulgou hoje um "perfil" das instituições que farão parte da lista.
Segundo a publicação londrina, as 200 melhores universidades do mundo têm, em média, as seguintes características:
- - Orçamento anual de US$ 751 mil por docente
- - US$ 230 mil em recursos de pesquisa por docente
- - Cerca de 12 alunos para cada 1 professor
- - 20% dos professores são estrangeiros
- - 19% dos alunos são estrangeiros
- - 43% dos trabalhos científicos publicados têm pelo menos um co-autor estrangeiro
O Brasil ainda faz muito pouco disso, apesar dos esforços (muitos diriam mal direcionados, ainda que bem intencionados) do programa Ciência sem Fronteiras. Nossa ciência é ainda muito doméstica, de baixo impacto e voltada para o próprio umbigo. Falta ousadia; falta conectividade. E essa é uma das principais razões pelas quais o Brasil não tem nenhuma universidade classificada entre as 200 melhores do mundo no atual ranking do THE, que se tornou uma referência de excelência científica e acadêmica internacional nos últimos anos, apesar das críticas com relação a alguns dos critérios usados na avaliação.
Mapa: Herton Escobar/Estadão; com informações dos sites institucionais.
Na última lista da THE, publicada em 2013, tanto a USP quanto a Unicamp caíram no ranking. E é provável que ambas continuem fora das "top 200" nesta próxima lista, que será publicada em 1 de outubro.
Em outro ranking de prestígio, o da publicação britânica Quacquarelli Symonds (QS), a USP está entre as 200 melhores do mundo, mas também perdeu posições na última avaliação, caindo do 127º para o 132º lugar em 2014 (para mais detalhes, veja reportagem do Estadão aqui). Cada ranking tem a sua metodologia, e a posição das universidades vai variar entre uma lista e outra de acordo com esses critérios; mas o fato que as universidades brasileiras precisam melhorar muito para estarem entre as melhores do mundo (seja qual for o ranking) permanece -- e a internacionalização é um fator crucial nessa discussão.
Exemplo americano
Os Estados Unidos não são a maior potência científica e tecnológica do mundo só porque os cientistas americanos, "made in the USA", são muito bons. São uma potência porque sua ciência já é sem fronteiras há muito tempo, e suas universidades e empresas estão abarrotadas de alunos e jovens pesquisadores estrangeiros -- principalmente na pós-graduação, que é a raiz da produção científica de qualquer país.
A Universidade da Califórnia Berkeley, onde estou agora (oitava colocada no atual ranking do THE), tem mais 1,4 mil alunos de pós-doutorado (o maior número de pós-docs do mundo), e mais de 60% deles vêm de fora dos Estados Unidos, além de outros 2 mil estrangeiros, aproximadamente, que passam anualmente pelos quadros da instituição como alunos ou pesquisadores visitantes. A diversidade étnica e cultural que se vê no câmpus é impressionante. No total, incluindo graduação e pós-graduação, 15% dos alunos são estrangeiros, de mais de 120 nacionalidades (principalmente da China, Coreia do Sul e Índia) -- para mais detalhes, clique aqui: http://migre.me/lDgrf
As universidades de ponta americanas estão sempre correndo atrás dos melhores alunos e dos melhores pesquisadores, estejam onde estiverem, não importa a nacionalidade. O que importa, do ponto de vista de uma política nacional e institucional, é que eles vão produzir ciência e formar recursos humanos nos EUA, dentro daquela universidade. O prestígio e os benefícios científicos, tecnológicos e econômicos ficam, mesmo que os autores voltem para o seu país de origem no final. E se eles optarem por ficar nos EUA, melhor ainda.
É um modelo quase impossível de ser adotado na graduação das universidades públicas brasileiras -- cujo acesso é baseado em provas coletivas, não em processos de seleção individual, como nas universidades americanas -- mas que poderia ser emulado na pós-graduação, criando-se melhores condições para que jovens talentos estrangeiros possam vir estudar e fazer pesquisa no Brasil.
Passamos muito tempo reclamando da fuga da cérebros brasileiros para outros países. Está na hora de começar a investir não só em trazer esses cérebros de volta para casa, mas também em atrair algumas boas cabeças de fora para se desenvolver aqui -- oferecendo algo além de caipirinha, carnaval e belas praias como cartão de visitas.
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*Atualizado às 17h30 do dia 17, com informações sobre o ranking QS.