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Ratos ‘astronautas’ na Estação Espacial ajudam a explicar relação entre microbiota e gravidade

É a primeira vez na história da Nasa, agência espacial americana, que roedores vivos são trazidos de volta à Terra após período no espaço

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Por Redação

Camundongos “astronautas” que passaram um período de tempo na Estação Espacial Internacional (ISS) serviram para estabelecer que as mudanças na microbiota intestinal dos viajantes espaciais podem estar relacionadas à perda de massa óssea que tanto humanos quanto animais sofrem no espaço. Os roedores, que passaram no mínimo um mês no laboratório espacial, tinham uma microbiota alterada e mais diversa, segundo a publicação Cell Reports, e as espécies bacterianas que se multiplicaram podem ter contribuído para o aumento da produção de moléculas conhecidas por influenciar o processo de remodelação óssea.

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Este é “outro exemplo claro” das interações dinâmicas entre o microbioma e os mamíferos em que vive. “A microbiota intestinal está constantemente observando e reagindo, e o mesmo é verdade quando você está exposto à microgravidade”, afirmou o principal autor do estudo, Wenyuan Shi, do Forsyth Institute, dos Estados Unidos.

Os pesquisadores ainda precisam descobrir se existe uma relação causal entre as mudanças na microbiota e a perda óssea observada na microgravidade ou se é simplesmente uma consequência ou uma compensação ativa para mitigá-la. “Mas os dados são animadores e abrem novos caminhos para exploração”, acrescentou Shi.

Para estudar como o microbioma muda durante a exposição prolongada à microgravidade e as possíveis ligações entre essas mudanças e a densidade óssea, os pesquisadores enviaram 20 roedores à Estação Espacial Internacional.

Dez retornaram vivos à Terra após quatro semanas e meia e a recuperação de seus microbiomas foi monitorada. Os outros roedores espaciais permaneceram em órbita por nove semanas. Por aqui, havia um grupo de controle com outros 20 ratos, que foram alojados nas mesmas condições que seus colegas “astronautas”, exceto pela microgravidade.

A equipe categorizou e comparou as comunidades microbianas dos vários grupos antes da decolagem, após o retorno à Terra e no final do estudo.

Os pesquisadores também avaliaram mudanças nos metabólitos séricos, associados ao microbioma intestinal, de roedores espaciais expostos à microgravidade por nove semanas.

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É esperado que o microbioma seja afetado durante as viagens espaciais por vários motivos, sendo o principal deles forças como microgravidade e radiação cósmica. (foto ilustrativa) Foto: Arnd Wiegmann

É a primeira vez na história da Nasa, agência espacial americana, que roedores vivos são trazidos de volta à Terra, então foi possível coletar não apenas informações sobre a mudança no espaço, mas também monitorar a recuperação do microbioma após o retorno. “A boa notícia é que, embora o microbioma mude no espaço, essas alterações não parecem persistir na Terra”, disse Shi.

Nossos ossos não são estáticos e, mesmo quando adultos, sempre há adição, remoção e deslocamento de material, em um processo denominado remodelação óssea. Estudos recentes sugerem que a microbiota pode influenciar a remodelação óssea por meio de vários mecanismos, incluindo a interação entre os sistemas imunológico e hormonal.

Os micróbios também produzem vários tipos de moléculas por meio de seu próprio metabolismo, e alguns deles têm relação direta com as células responsáveis pela remodelação óssea.

É esperado que o microbioma seja afetado durante as viagens espaciais por vários motivos, sendo o principal deles forças como microgravidade e radiação cósmica, que interferem não apenas nas células bacterianas, mas também nas humanas, acrescentou o co-autor do estudo, Joseph K. Bedree, da Universidade da Califórnia, Los Angeles (EUA).

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Quando a equipe categorizou e comparou as microbiotas dos camundongos da ISS e dos animais do grupo de controle na Terra, eles descobriram que as microbiotas dos primeiros eram mais diversas. Havia dois tipos de bactéria – Lactobacillus e Dorea – mais abundantes nos animais expostos à microgravidade e com incidência ainda maior naqueles que ficaram no espaço por nove semanas.

O metabolismo dessas duas bactérias também pode ter contribuído para os altos metabólitos detectados e associados à exposição à microgravidade. “Quando alguém está em microgravidade e experimenta perda óssea, faria sentido que seu corpo tentasse compensar e os sistemas biológicos internos tentassem compensar, mas precisamos fazer mais estudos para realmente validar essas hipóteses”, disse Bedree.

Se pudermos descobrir quais micróbios contribuem para a manutenção da densidade óssea, isso poderá ajudar os astronautas a se manterem mais saudáveis. Na Terra, essas informações também podem ajudar pessoas que sofrem de perda óssea por causas não relacionadas à gravidade. /EFE

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