Vigilância Sanitária autua Shell

Segundo o responsável pela vistoria, Rui de Andrade Dammenhain, foi constatado que os tanques de borras enterrados no local até os anos 70 se deterioraram e liberaram contaminantes no meio ambiente

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Por Agencia Estado
Atualização:

A Vigilância Sanitária da Secretaria de Estado da Saúde fez nesta terça-feira vistoria de 4 horas nas instalações da Shell, no Ipiranga, zona sul de São Paulo, investigada desde 1993 por contaminação ambiental. Segundo o responsável pela vistoria, Rui de Andrade Dammenhain, foi constatado que os tanques de borras enterrados no local até os anos 70 se deterioraram e liberaram contaminantes no meio ambiente. Por conta disso, foi aplicado um auto de infração e dado um prazo de dez dias para a empresa entregar a documentação necessária para avaliar possíveis conseqüências para a saúde dos trabalhadores e para os moradores da região, estimados em 30 mil pessoas. Entre os documentos exigidos estão os exames periódicos dos funcionários da unidade. Além disso, a Vigilância Sanitária vai fazer um levantamento nas unidades de saúde da região, para verificar se existem evidências epidemiológicas que justifiquem a solicitação de exames na população. Segundo Dammenhain, o órgão deve manifestar-se sobre o caso dentro de 15 dias, a partir do recebimento da documentação. "A constatação de irregularidades pode gerar multa ou até interdição da empresa, mas nossa maior preocupação é acabar com a situação de risco. No entanto, só soubemos do problema agora, embora pudéssemos ter entrado no caso antes, se tivéssemos sido chamados pelos órgãos ambientais", disse. O subsolo e as águas subterrâneas da área, de cerca de 180 mil m2, foram contaminados por substâncias tóxicas presentes nas borras de combustível enterradas no subsolo durante cerca de 40 anos pela Shell. Segundo o gerente de operações de Saúde, Segurança e Meio Ambiente da empresa, Ricardo Shamá, o procedimento era o recomendado internacionalmente para esse tipo de material ? restos da limpeza dos tanques de combustíveis ? até o início dos anos 70, quando foi interrompido. "Com os novos conhecimentos e a evolução da tecnologia, passamos a adotar novos métodos e mapear, identificar e, quando necessário, remediar eventuais danos ambientais", disse o gerente de Instalações, José Cardoso Teti. A partir de 1996, a Shell contratou uma empresa para fazer a avaliação ambiental da área e, em 1998, foi iniciado o processo de remoção dos tanques de borra. A pedido da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb), a empresa está realizando uma avaliação ambiental de um raio de 50 metros da empresa. A Shell admite a contaminação da área por substâncias como benzeno, tolueno, xileno e etilbenzeno. Além disso, confirma a presença de chumbo metálico no solo analisado, mas não do chumbo orgânico (tetraetila), mais tóxico e que está presente em aditivo da gasolina antes da introdução do álcool nos anos 70. A presença de chumbo orgânico, porém, faz parte de laudo do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), que deram origem à Ação Civil Pública contra a empresa. Além da contaminação nos depósitos de combustíveis, foi constatada a presença de poluentes orgânicos persistentes (POPs) em instalações contíguas à Shell, na área onde funcionou, até 1978, a fábrica de agrotóxicos do grupo, que foi transferida para Paulínia. As substâncias encontradas foram isodrin, na concentração de 9.800 mililitros por quilograma (ml/Kg) de material seco, e aldrin (6.600 ml/Kg de material seco). Esses drins são extremamente tóxicos, altamente persistentes no ambiente e bioacumulativos e, desde o ano passado, fazem parte de uma Convenção da ONU para o banimento de substâncias perigosas. Segundo a Shell, estas substâncias estão misturadas com óleo e estão sendo separadas para se verificar a contaminação do solo e da água. Segundo Teti, "não há informação de que a contaminação tenha saído das instalações da empresa". As análises de risco realizadas pela Shell "mostraram também que o deslocamento do fluxo das águas subterrâneas não apresenta riscos para as pessoas, tendo em vista que não existem poços rasos na região e que as residências locais são abastecidas pela Sabesp. Os estudos demonstraram que o fluxo do lençol freático não se desloca em direção à zona residencial, passando apenas por baixo de algumas indústrias e da área que pertenceu à antiga Refinaria Matarazzo, que fabricava pesticidas. O fluxo do lençol, porém, vai em direção ao Córrego dos Meninos, onde, segundo o gerente da Shell, nenhuma análise de água foi feita até o momento. A empresa alega que se responsabiliza pelo saneamento ambiental em suas dependências, mas que, fora dela, existem muitas indústrias potencialmente poluentes na região. Em relação aos POPs, a Shell era a única fabricante na região. Para Teti, o caso de São Paulo não tem nenhuma relação com o de Paulínia e não há riscos à saúde da vizinhança associados à contaminação do solo em nenhuma das duas instalações. Em Paulínia, no entanto, a Justiça determinou à empresa que retirasse os moradores do local, e a Shell está comprando as chácaras do entorno.

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