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Aos 30 anos, Galpão encontra Anton Chekhov

Grupo mineiro faz segunda montagem de um texto do autor, agora sob direção de russo

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Por Maria Eugênia de Menezes - O Estado de S.Paulo

Quem também aderiu ao teatro da Rússia foi o grupo Galpão. Ao comemorar 30 anos, a tradicional companhia mineira deixou o universo festivo, expansivo, quase farsesco onde sempre se movimentou com tanta desenvoltura, para encontrar a inquietante obra de Anton Chekhov. Com estreia paulistana marcada para quinta-feira, Eclipse é uma junção de contos do escritor. À frente da encenação está o diretor russo Jurij Alschitz, um dos maiores especialistas no teatro do dramaturgo. "O Galpão me procurou em busca de um novo jeito de atuar. Foi uma briga entre dois teatros muito diferentes", conta Alschitz. "Queria fazer algo para o qual o aparato físico deles não estivesse preparado para suportar. Deixá-los nus, inseguros." Também na contramão da imagem que se costuma associar à ficção de Chekhov, o estudioso russo, que vive na Alemanha, recusou o psicologismo e buscou observar o autor pelo prisma do construtivismo. O resultado está distante do realismo e flerta com certa dose de absurdo. "Acompanhamos figuras sem história, sem passado", diz o ator Chico Pelúcio. Em uma série de monólogos, os intérpretes vasculham questões como felicidade, fé, a função do talento e o lugar do artista. O desejo de se reinventar e caminhar por um território ainda inexplorado moveu o grupo a aproximar-se do encenador. A maior parte do processo de criação deu-se a distância. Além da leitura de mais de 150 contos e a criação de cenas a partir de vários desses textos, o trabalho incluiu duas etapas: uma aqui e outra na Alemanha. Depois de passar um tempo fora do país, o grupo trouxe Jurij Alschitz ao Brasil "Tirei todos os seus apoios. Quando eles queriam cantar, tocar instrumentos, eu simplesmente dizia: 'Não. Apenas sente-se e diga o seu monólogo'", relata o encenador. Em 2011, o Galpão já havia montado uma peça do mesmo escritor. Mas, naquele caso, a intenção era outra. Na recente montagem de Tio Vânia, a diretora Yara de Novaes aproximou a trupe dos dramas de dimensão psicológica. Dessa maneira, a trajetória de Vânia - homem de meia-idade que passa a questionar a validade de suas escolhas - tornou-se pretexto para que o Galpão também fizesse um balanço do passado. "A peça fala da relação dos homens com o tempo, esse momento de rever o que fizeram", diz Yara. ECLIPSESesc Vila Mariana. Teatro. Rua Pelotas, 141, tel. 5080-3000. 5ª a sáb., às 21 h; dom., às 18 h. R$ 24. Até 14/10.

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