PUBLICIDADE

EXCLUSIVO PARA ASSINANTES
Foto do(a) coluna

Análises da informação e do discurso, para além da espuma

Opinião|O negócio dos vetos é disputa entre o semipresidencialismo do Lirão e o presidencialismo lulopetista

Transitando de vício em vício, o País paralisado espera o desenlace da semana: que fim terão os vetos de Lula

Foto do author Carlos Andreazza
Atualização:

Arthur Lira é semipresidencialista convicto. “Há quem defenda, como eu defendo, o regime de semipresidencialismo” – declarou. “O presidencialismo de coalizão não funciona mais, mas precisamos respeitar o modelo que cada governo escolhe.”

Está tudo aí, exposta a confusão conceitual derivada da mentalidade autoritária.

O semipresidencialismo de Lira é o da dinâmica do orçamento secreto – agora sob a fachada das emendas de comissão – sem a participação-concorrência do governo de turno. Não se trata de saudade de Bolsonaro, em que pesem as afinidades.

Lula e Arthur Lira travam batalha em meio ao debate sobre os vetos do presidente da República em análise no Congresso  Foto: WILTON JUNIOR/ESTADAO

PUBLICIDADE

Saudade do modelo viciado que vigorou sob Bolsonaro, aí sim; aquele em que o parlamentarismo orçamentário do Lirão (quem dera houvesse um Centrão) controlava a corda e a caçamba, com Ciro Nogueira na Casa Civil dando fluência às ordens de pagamento determinadas pelo império alcolúmbrico.

(Nota sobre o império alcolúmbrico, a partir da franqueza do senador Randolfe Rodrigues, para quem – não sem razão – Davi Alcolumbre é “o presidente do Congresso de ontem, de hoje e de sempre.” Daí explicado Rodrigo Pacheco chorar as pitangas de “escanteado” pelo Planalto. O preço de haver aceitado a condição de biombo para que o rei “de sempre” mandasse desde a Comissão de Constituição e Justiça.)

Publicidade

Esse é o semipresidencialismo ideal de Lira, em que o primeiro-ministro, guarda compartilhada entre ele e Alcolumbre, controla fundos orçamentários crescentes sem qualquer responsabilidade formal pelo calabouço fiscal da irresponsabilidade.

Congresso Nacional analisa vetos do presidente da República na próxima quinta-feira, 9 Foto: Wilton Junior/Estadão

O incômodo do presidente da Câmara – que se expressa na agenda de impasses desta semana – é produto de o governo querer tomar parte nas destinações das emendas. Donde os estresses. Lula é saudoso do presidencialismo que rebocava o Parlamento – e que produziu mensalão e petrolão.

Uma disputa entre modelos corrompidos. O semipresidencialismo do Lirão versus o presidencialismo lulopetista. Lira, autoritário que se considera um plebiscito em si mesmo, não escolhe sistema. Não ainda. Escolhe para quem vai a grana. E escolhe se – como – respeitará o “modelo” do governo. Sabe que o pêndulo da deformidade institucional ora favorece a autonomia anômala do Congresso.

Transitando de vício em vício, o país paralisado espera o desenlace da semana: que fim terão os vetos de Lula. Noutras palavras, negociações em curso no Amapá: de que modo será recomposto o fundo eleitoral paralelo em que consistem as emendas de comissão. A agenda é autorreferente, fácil o pacto pela nova morte do natimorto fiscal. Organizada a divisão da bufunfa, fabriquem-se os R$ 15,7 bilhões sobre o presunto do arcabouço. Estamos quase lá.

Enquanto a turma dança a coreografia da desoneração-reoneração, uma só certeza há, a “de sempre”: a oneração será sua.

Publicidade

Opinião por Carlos Andreazza

Andreazza foi colunista do jornal O Globo e âncora da Rádio CBN Rio, além de ter colaborado com a Rádio BandNews e com o Grupo Jovem Pan. Formado em jornalismo pela PUC-Rio, escreve às segundas e sextas.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.