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A hora de enfiar o dedo no bolo

Atração de festival de arte mineira na Pompéia, Kiko Klaus avança com consistente CD de estréia-solo

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Na faixa de abertura do CD O Vivido e o Inventado (independente), o compositor e cantor Kiko Klaus, recifense radicado em Belo Horizonte, diz que "é hora de soprar a vela no bolo e enfiar o dedo". Sabendo fazer a hora por si, Klaus dá um passo significativo na carreira com esta estimulante estréia-solo. Dividindo a noite com Pedro Morais e Renegado, outros bons expoentes da nova safra, amanhã Klaus se apresenta na choperia do Sesc Pompéia, na Mostra de Arte Mineira Contemporânea, que tem Makely Ka hoje (leia abaixo). Klaus traz influências de sua origem pernambucana e de quando morou na Espanha, situando-se em Minas a caminho do mar, ligado na boa música híbrida do mundo. O "inventado" do título - inspirado em poema do mineiro Carlos Drummond de Andrade - do CD é a colagem pessoal disso tudo, segundo o músico; o "vivido" é a parte reflexiva das letras, que armazena memórias da infância até a fase adulta. "Discordo quando dizem que tudo já foi feito. As pessoas em geral sofrem com a massificação das coisas, porém, gente tem a opção de buscar outros caminhos e mostrar o entendimento próprio do que é vivido. Agora que cheguei à faixa dos 30 anos, tenho histórias pra contar." Klaus - que assina 11 das 12 faixas do CD, 2 em parceria com Wagner Merije -, vem de uma bem-sucedida experiência com o colombiano Carlos Jaramillo (Mesmalua, 2005), que ecoa na faixa inicial do novo trabalho. O toque de flamenco em A Hora, mesclado com maracatu, remonta ao mesmo tempo à influência árabe na cultura espanhola e na música nordestina brasileira. "Mesmalua foi quase todo gravado na Espanha , era um disco em dupla, por vários motivos não me permitiu ir tão fundo na essência das raízes pernambucanas", diz. "Agora eu já tinha mais segurança como músico e produtor para conseguir imprimir algo com consistência." Klaus também pôde trazer para tocar com o baterista Pupilo (Nação Zumbi), a percussionista Simone Soul e cantora mineira Aline Calixto - que participa de duas das melhores faixas do CD: a ciranda A Caminho do Mar e o xote-reggae Varanda, parcerias de Klaus com Merije. "Pupilo já incorporou toda a questão da música popular, do maracatu, da ciranda, do frevo, e traduz essas raízes de maneira contemporânea." Simone trouxe um pouco o ambiente dos terreiros do candomblé para A Caminho do Mar, Varanda e O Que Não Tem. Pupilo e Simone trabalham a percussão "não só como elemento musical, mas também visual", o que também interessa a Klaus. "A química do instrumento remete a algo além da canção. Como um livro em que, por mais que um autor descreva em detalhes uma imagem, é o leitor quem vai dar sua interpretação. Com a canção se dá o mesmo, quando permite viajar nas entrelinhas. Procurei trabalhar no disco com esse tipo de questão, o que está muito associado ao meu trabalho com trilhas sonoras." Coincidentemente, os três têm grande admiração pelo também percussionista Naná Vasconcelos, a quem Klaus dedica o CD e com quem pretende trabalhar no próximo ano no palco. O caminho estético de Klaus - que também tem um canto vigoroso e envolvente - leva a uma série de possibilidades, sem que se possa classificá-lo. "Poderia ser sambista, porque tenho facilidade para compor samba", diz Klaus. E para cantar também. Provas convincentes são O Samba Chora (dele) e Caminhão (de Wagner Pã). "Mas não quero me limitar, a diversidade faz parte da minha personalidade. Essas experiências são enriquecedoras." Antes que alguém o fizesse, Klaus disponibilizou o CD inteiro na internet. "Se a rádio não toca, se a tevê não mostra, a gente tem de estar em algum lugar", diz o cantor. "Tenho consciência de que a mídia é essencial para conquistar um público, para que a gente se fortaleça. O mercado está se abrindo muito e a internet é fundamental nesse sentido, porque as pessoas podem decidir melhor o que querem ver e ouvir." Como canta em O Que Não Tem, "o que não tem preço é inspiração". A dele está valendo muito.

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