Em Casa, a estrutura de uma moradia tomando conta da cena revelava preocupação com a arquitetura; em Nó, a forma como o homem lida com o desejo era o mote da coreografia; finalmente, com Cruel, que estréia hoje no Teatro Municipal do Rio, a dançarina e coreógrafa Deborah Colker chega até às pequenas maldades que movem o ser humano - não os atos que provocam tragédias, mas as manifestações corriqueiras que, muitas vezes, não são percebidas ou admitidas pelos praticantes. ''Novamente é o desejo, agora, o que leva à crueldade'', conta Deborah que, no nono trabalho da companhia que , de cinco metros de comprimento. Ao seu redor, surgem nova relações familiares, encontros e desencontros que marcam as mutações dos afetos. Trata-se do final do primeiro ato, deixando a curiosa sensação de uma história concluída. A surpresa, no entanto, vem no segundo ato: quatro espelhos, com furos no meio pelos quais os bailarinos passam, criando um divertido efeito ótico, invadem o palco. ''A crueldade ganha novos reflexos, que expõem o homem em toda a sua realidade'', conta Deborah.