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Cyndi Lauper ainda canta muito

Com voz mais potente que a velha 'rival', ela surpreende

Por Lauro Lisboa Garcia
Atualização:

É antológica aquela previsão de um jornalista americano sobre a carreira de Madonna em relação à sua contemporânea Cyndi Lauper. Para ele, a cantora de True Colors, que alguém apelidou de "o patinho feio do pop", teria uma carreira fulgurante, enquanto a "concorrente" cairia no esquecimento em seis meses. O fim da história todo mundo conhece. Mas se o patinho feio não virou o belo cisne como na fábula, também aprendeu a sobreviver no grito. A ambição de uma loura foi maior do que da outra, obviamente. Expert em mimetismo, Madonna emplacou hit atrás de hit e se renovou, aliciando prováveis jovens ameaças à sua primazia, como Britney Spears, Justin Timberlake e Kanye West, com quem ela contracena virtualmente no show Sticky & Sweet. Cyndi, apesar de ter mantido a carreira modestamente e de ter muito mais voz, estacionou na memória do público como mais um ícone dos anos 1980. Mas qual não foi a surpresa ao vê-la cheia de vitalidade nos shows que lotaram a Via Funchal em novembro. Quem esperava ouvir os antigos êxitos no velho e datado formato surpreendeu-se com boas canções novas e a pegada roqueira da banda, especialmente em She Bop, muito melhor do que a gravação original. O público de Cyndi é o mesmo de Madonna (basicamente gays, mulheres e eventuais quarentões) e tão alucinado quanto, a ponto de se pisotearem para fotografá-la em meio a um mar de câmeras digitais. Sem cenário, o show de Cyndi é também altamente dançante, num misto de bizarro e divertido, sem um milésimo da exibição de luxo de Madonna, mas musicalmente mais coeso e consistente. Mais doida e mais humana, ela se aventurou a se manter no meio do público várias vezes, tocando nas pessoas, e parando o show em outros momentos para dar bronca nos fãs por conta dos excessos. Ao contrário da outra, a voz ainda tem potência para provocar uma avalanche. Há muito Cyndi já não representa mais ameaça para a "rival" Madonna, mas é engraçado como de certa forma o simbolismo competitivo permanece. Num desses plantões na frente do Copacabana Palace, no Rio, um fã de Madonna, já impaciente pelo longo tempo de espera em vão na tentativa de ver seu ídolo, propôs que se cantasse uma música de Cyndi para "provocá-la". E puxou um tímido coro de Time After Time. Todo mundo que estava por perto entendeu a piada e riu.

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