Nem a brilhante calça de paetês de Kid Sister foi suficiente para espantar o clima de letargia que dominou os primeiros shows do festival Nokia Trends, na noite de anteontem. Mesmo com a bela decoração que enfeitava a arquitetura preservada do Cine Marrocos, as atrações musicais deixaram a desejar. A rapper entrou assumindo a bebedeira ao lado de duas dançarinas (as mais animadas de toda a noite) e do DJ Gant Wilson. Logo no começo, trechos de Technologic, do Daft Punk, e de Thriller, de Michael Jackson, fizeram entender que a mistura exagerada de gêneros daria o tom do resto da apresentação. Ainda que o intenso rebolado das garotas sobre o palco e as danças acrobáticas de Wilson impressionassem, foram poucos os momentos que realmente mexeram com o público. Control e Pro Nails, duas das faixas mais conhecidas da cantora, foram alguns deles, mas ainda assim abafadas pelo desânimo geral e por um insistente efeito de eco no microfone. O som estava embolado e no gargarejo da platéia parecia haver mais cinegrafistas e fotógrafos do que fãs dançando. A apresentação desandou com a costura descuidada de gêneros. Logo no começo, Kid cantou uma versão improvisada do hit Dr. Love, do grupo australiano Bumblebeez, e seguiu com a melosa Happy, clássico do Surface. Entre as músicas do álbum de estréia da rapper, Dream Date, o público ouviu Family Reunion - que deixa de lado o apelo agitado para cair num hip-hop mais melódico, ao modo que era feito nos anos 90. Mesmo com as mensagens de amor ao Brasil, não houve jeito. Kid Sister não possui o vozeirão de uma diva do soul nem recebe o apoio de uma banda competente, fatos que comprometeram a apresentação. Se o show tivesse apostado em uma fórmula puramente dançante, talvez tivesse justificado a presença de um único DJ tocando as bases pré-gravadas. Como não foi o caso, a rapper ficou pequena demais sobre o palco, e nem as lantejoulas compensaram sua falta de brilho.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.