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Zwirner pode mudar o modelo de negócio das galerias com seu website de compra de arte online

Platform venderá 100 obras de arte online através de pequenas galerias, por preços que vão de 2.500 dólares a 50.000 dólares

Por Robin Pogrebin
Atualização:

O mundo da arte está apenas começando a responder às perguntas levantadas pela pandemia, como: as feiras de arte presenciais são coisa do passado e as salas virtuais serão o futuro? Os museus manterão a proibição de não se tocar na obra e as casas de leilões continuarão com seus salões globais online?

Platform venderá 100 obras de arte por mês online por meio de galerias menores, por US $ 2.500 a US $ 50.000. Foto: Matt Grubb/The New York Times

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Um galerista colossal, David Zwirner decidiu apostar no que desprezou no ano passado: a necessidade de um mercado de venda de obras de arte originais online, em que basta clicar para comprar. E assim criou a Platform, website lançado na quinta-feira e que a cada mês oferecerá 100 obras apresentadas por 12 galerias independentes de todo o mundo com preços que variam de 2.500 dólares a 50.000 dólares.

“Vimos que existe um espaço real no mundo da arte para o e-commerce”, disse ele numa entrevista por telefone. “Há um público que não sabíamos que existia. Essas pessoas não vão a galerias necessariamente e não vão a feiras de arte. Elas buscam tudo isso online”.

Ele notou que esse público é formado na maior parte “por millenials”, que descobrem arte através do Instagram e por meio do boca a boca. “O mundo da arte nunca os satisfez”.

Zwirner apresentou um projeto piloto da Platform no ano passado e várias galerias participantes vêm retornando para a nova iteração, incluindo Bridget Donahue e a Night Gallery. Entre os novos parceiros estão Bortolami, Charles Moffett e Jessica Silverman. E entre os artistas que o website apresentará inicialmente estão Kenny Rivero, Jane Dickson e Jibade-Khalil Huffman.

Na verdade, websites como Artsy e Artnet vem vendendo obras de arte online já há algum tempo. E no ano passado a Sotheby's lançou sua Gallery Network, um espaço de compra de arte online com obras custando até 150.000 dólares.

Mas no caso de um colosso com uma imensa capacidade profissional como Zwirner, o seu empreendimento online representa um abandono significativo do modelo tradicional de galeria com atividades presenciais. As informações adicionais oferecidas sobre as obras de arte são mais extensas e em muitos casos os artistas produzem trabalhos especialmente para a plataforma.

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“Todos vêm tentando imaginar esse novo cenário, que depende muito do conteúdo digital e da venda de material sem que ele seja visto pessoalmente”, disse Moffett. “Experimentamos várias plataformas diferentes e ficamos menos satisfeitos com os resultados. Obviamente a marca David Zwirner é muito respeitada e meus artistas gostaram da ideia de mostrar seus trabalhos na plataforma dele, de modo que pensei, por que não dar uma chance a ela?”.

Os céticos dirão que Zwirner está apenas tentando conquistar publicidade e gerar simpatia com uma ação paternalista, tipo Robin Hood, que no final vai propiciar à sua própria galeria 20% de cada venda feita na Platform. E algumas pessoas do mundo da arte se preocupam de que o website seja meramente uma espécie de liga menor de times para Zwirner - uma maneira de desenvolver artistas novos, atraí-los para as pequenas galerias e colher informações sobre a clientela dessas galerias.

“Não teria interesse em fazer algo desse tipo - é mais uma espécie de lobo em roupa de cordeiro”, disse o marchand Larry Gagosian. “Meu conselho para essas galerias menores é que preservem sua própria identidade e marca - mesmo que não consigam chegar ao nível de uma grande galeria, trabalhem dentro dos seus recursos e não entreguem seus artistas e listas de clientes para alguém que poderá se beneficiar disso num determinado momento”.

Zwirner disse que deseja colaborar com essas galerias menores e não as suplantar ou explorá-las. E cita, por exemplo, a recente adição à galeria da escultora nascida na Romênia Andra Ursuta, que continuaram a expor com Ramiken Crucible e Harold Ancart, que continua trabalhando com uma galeria menor, a Clearing.

Lucas Zwirner, filho do marchand e que dirigiu a criação do website sublinhou que a mega-galeria está investindo em material no site que dará mais visibilidade aos artistas, incluindo entrevistas e vídeos.

Parte da equipe Platform, a partir da esquerda: Armani Smith, Lucas Zwirner, Marlene Zwirner, Bettina Huang, Liley Huo (na frente), Richard Thayer, Martin Lerma e Taylor Langone Foto: Martyna Szczesna via The New York Times

“Não estamos apenas pegando arte e vendendo. Estamos ajudando artistas a criarem uma carreira e promovê-los”, afirmou ele.

Segundo Moffett, esse sistema de clicar para comprar é um pouco inquietante, substituindo o botão “investigar”, que inicia uma conversa com a galeria. “Tenho muito orgulho em colocar as obras dos meus artistas de uma maneira cuidadosa e a ideia de que se está colocando os trabalhos desses artistas à mostra para qualquer pessoa comprar é um pouco desgastante. Eu preferiria investigar primeiro, mas acho que vale a pena botar fé na plataforma”

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“Se eu tivesse uma opção, preferiria fazer primeiro uma investigação, mas acho que vale a pena esse ato de confiança”, disse ele.

Na verdade, no caso em que os marchands normalmente se esforçam muito para colocar obras de arte em museus importantes e colecionadores reputados, a Platform permite que qualquer pessoa, salvo os malandros, comprem. Mas essa democratização e a transparência dos preços postados, em comparação com a costumeira opacidade das galerias quanto ao valor das obras - são importantes para o novo negócio, disse David Zwirner.

O empreendimento tem por objetivo cultivar uma nova estirpe de comprador, aquele que se sente mais à vontade em tomar uma decisão por si próprio, menos interessados na ajuda que os marchands oferecem.

“Não tenho tempo para ir a cada nova galeria”, disse Dorian Grinspan, colecionador de Nova York. “É interessante ter um lugar onde você encontra uma mostra mais seleta do que vou encontrar por aí no mercado”.

Zwirner disse que gosta da ideia de que um empreendimento como a Platform vai poupar sua galeria - e as pequenas galerias colaborando com ele - dos gastos enormes das múltiplas feiras de arte a cada ano.

“Nunca voltaremos à antiga maneira de trabalhar. Vamos deparar com um mundo da arte muito mais amplo do que imaginávamos. Se ele provar ser um mercado primário robusto, o céu é o limite”, disse ele.

Tradução de Terezinha Martino

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