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Al Pacino leva musa virtual aos cinemas

Em entrevista ao Estado, o ator comenta seu trabalho em Simone, em que vive um diretor às voltas com uma atriz criada por computadores. Filme estréia hoje

Por Agencia Estado
Atualização:

Al Pacino reclama que 9 horas da manhã ainda é muito cedo. De cara amassada, um dos maiores atores americanos em atividade pede desculpas por "estar acordando enquanto vai conversando". Só para responder se acredita que "atores computadorizados" podem mesmo substituir os de carne e osso num futuro próximo, tema discutido em seu novo longa, a comédia Simone, que estréia hoje, Pacino faz caretas, muda de assunto (contando que começou sua carreira como comediante em cabarés de Nova York, "mas não era muito bom e parei"), fica em silêncio, pede para a pergunta ser refeita e, de repente, faz seu cérebro finalmente pegar no tranco. "Essencialmente, muitos espectadores que vão ao cinema têm como foco identificar-se com o ator principal", explica Pacino, em entrevista ao Estado. "Mas tem gente que não quer ser aquela pessoa na tela. O cinema proporciona uma intercomunicação extremamente viável entre atores e audiência", prossegue. "Isso me leva a crer que vai ser um pouco difícil para os atores virtuais aposentarem os de carne e osso. Mas por que não ligamos para o George Lucas agora e não conseguimos uma resposta mais satisfatória?", brinca o ator, dessa vez parecendo acordado. Em Simone, filme dirigido pelo neozelandês Andrew Niccol, Pacino interpreta Viktor Taransky, um cineasta que falhou tão miseravelmente em seus últimos filmes que agora precisa trabalhar com uma prima-dona (ponta de Winona Ryder, com quem Pacino estaria vivendo um romance atualmente) para ter seu projeto financiado. Mas a diva abandona as filmagens depois de uma disputa mundana. Na sarjeta, Taransky resolve apoderar-se da criação de um sinistro expert em softwares: o programa Simulation One, capaz de criar uma atriz virtual. Ela é batizada de Simone e se torna uma celebridade mundial nas mãos deste Pigmalião. Pacino diz que guarda em seu inconsciente um pouco de cada método empregado pelos cineastas que o dirigiram desde 1969. Mas para criar o seu Taransky foi bem específico. "Fiz uma mistura dos conflitos de John Cassavetes com a esperteza do produtor Ray Stark (que venceu o Oscar por Funny Girl), essa dupla que criou filmes exóticos, estranhos e românticos", explica. Desde que rodou Simone em 2000, Pacino participou de quatro filmes, incluindo Insônia e O Recruta, montou duas peças (A Resistível Ascensão de Arturo Ui, de Brecht, e Salomé, de Oscar Wilde, essa última atualmente em cartaz na Broadway), terminou a montagem de seu segundo longa como diretor (Chinese Coffee, recentemente lançado no TriBeCa Film Festival) e ainda aparecerá no telefilme Angels in America, adaptação de Mike Nichols para a peça homônima vencedora do Pulitzer em 1993. O ator, que está com 63 anos, credita sua versatilidade atual ao fato de ter desencanado do método de Stanislawski. "Antes costumava ficar imerso nos personagens o tempo todo, o que era ruim para a psique e para o corpo", explica. "Hoje, graças a Deus, estou livre disso: só entro no personagem cinco, dez minutos antes de entrar em cena", continua. "Por não ter de passar um longo período expurgando esses personagens, tenho mais tempo para trabalhar", diz, rindo. Perguntado se existe um papel que sonha ainda em fazer, Pacino diz que, na verdade, gostaria de ser um ator de repertório. "Nos velhos tempos, você tinha atores que se especializavam em três ou quatro personagens", diz. "Vi coisas arrepiantes de Eleonora Duse e ouvi dizer que Sarah Bernhardt fez uma Fedra como nenhuma outra atriz. Imagina Edmund Kean interpretando Richard III com 35 anos, quando ele o vinha fazendo desde os 8?", prossegue. "Consigo ver-me concentrado em apenas três personagens a partir de hoje. Caso isso acontecesse, acho que iria morrer muito feliz."

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