Do terror de Peter Cushing à bossa de Guy Ritchie, Sherlock tem muitas faces

Exibido no Festival de Berlim, em fevereiro, 'Mr. Holmes', que chega agora aos cinemas americanos, provocou entusiasmo

PUBLICIDADE

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Para o leitor que, nos últimos anos, tem redescoberto Sherlock Holmes na interpretação de Robert Downey Jr, um filme como Mr. Holmes arrisca-se a surpreender, e não se sabe se favoravelmente. Já tivemos o jovem Sherlock Holmes - O Enigma da Pirâmide, de Barry Levinson, nos anos 1980 - e o filme era muito bom. Temos agora o velho Sherlock Holmes. Ian McKellen é excepcional no papel do velho detetive em Sr. Holmes. O filme refaz a parceria do ator com o diretor Bill Condon, que já rendeu um grande filme - Deuses e Monstros.

PUBLICIDADE

Lá, a história era do diretor James Whale, que criava beleza a partir das histórias de seres monstruosos como o Frankenstein de Mary Shelley. Velho, Whale vivia recluso em casa e, sendo homossexual, desenvolvia uma paixão platônica pelo jardineiro, Brendan Fraser. Também velho, Sherlock Holmes recolhe-se agora à sua casa de campo. Na companhia da caseira, que tem um filho garoto, aproveita o tempo para inventariar sua vida e tentar resolver um caso inacabado, e que envolve a mulher por quem se apaixonou, décadas antes. Por um desses sortilégios do cinema, o menino, incorporando métodos de dedução que fizeram a fama do Sr. Holmes, é quem vai ajudá-lo a resolver o caso.

Bill Condon conta sua história com a certeza de que o velho Sr. Holmes não é mais o que era. É um filme sobre a terceira idade, em confronto com a juventude. O garoto ousa, mas chega um momento em que a experiência conta pontos. Laura Linney faz a governanta, o garoto é Milo Parker. Exibido no Festival de Berlim, em fevereiro, o filme provocou entusiasmo. Sir Ian McKellen tem o que se chama de ‘Oscar winning performance’. Não será surpresa se for indicado para o Oscar.

Sherlock Holmes, o emblemático personagem criado pelo escritor Arthur Conan Doyle, ressuscitou nos últimos anos graças a Robert Downey Jr., na série produzida pela mulher do ‘homem de ferro’. Sherlock Holmes e Sherlock Holmes - O Jogo de Sombras foram dirigidos por Guy Ritchie, que repetiu a bossa de montagem de Snatch - Porcos e Diamantes. Nos filmes, Sherlock mentaliza a dedução sobre determinado fato ou situação, que o diretor antecipa em câmera lenta e depois filma em tempo real. O público adorou o recurso. Essa maneira de desvendar os bastidores (do método) foi considerada a reinvenção do gênero mistério. Curiosamente, saiu nos EUA o Blu-Ray de O Cão dos Baskervilles, que Terence Fisher fez na Inglaterra, em 1959. Fisher ficou famoso por suas fantasias na empresa Hammer. Ele recuperou a dupla de seus Dráculas e Frankensteins - Peter Cushing como Mr. Holmes e Christopher Lee, que morreu há pouco, como Henry Baskerville, ameaçado pela maldição que persegue sua família. O Sherlock de Fisher é uma obra-prima de terror. O personagem presta-se a todas as leituras. Houve até um romântico de Billy Wilder (A Vida Íntima de Sherlock Holmes). O tempo passa e ele permanece. Elementar, como diria seu amigo, o Dr. Watson. Sherlock é sempre ótimo.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.