A sensação era de que tudo voltava ao que era dois anos atrás, antes da pandemia – o Dolby Theatre estendendo o tapete vermelho para a recepção das estrelas da noite do Oscar, algumas chegando em limusines. A disputa para identificar os vestidos mais elegantes foi retomada entre assessores e a imprensa especializada em moda.
Houve, como sempre, momentos encantadores, como o pequeno Jude Hill, de 11 anos, elogiando sua colega de elenco Judi Dench, que disputava a estatueta de coadjuvante por Belfast. “Ela foi maravilhosa comigo, pois me ajudava a decorar os diálogos”, contou ele, 76 anos mais novo que a veterana atriz.
E, enquanto se disputava a posição de melhor vestimenta, o ator Timothée Chalamet apostou na sedução ao não usar nada por baixo do paletó de seu terno Louis Vuitton – bastaram algumas joias e um sorriso sutil para se destacar no tapete vermelho.
Mas, lá dentro, havia um clima que ainda lembrava a cerimônia do ano passado, quando poucos convidados se espalhavam em mesas na estação central de trem de Los Angeles: desta vez, próximas ao palco, foram instaladas mesas para os principais indicados, evitando assim que houvesse proximidade entre todos.
Na verdade, o fantasma da covid ainda assombrou os organizadores, que decidiram manter os principais convidados sem máscara, mas distantes uns dos outros em mesas que se espalharam em círculos. A segurança em relação à pandemia ficou sob a responsabilidade de uma equipe de 70 pessoas, que aplicou mais de 14 mil testes de PCR para artistas e equipe de produção, um total de 5 mil pessoas.
Mas era uma falsa sensação de retomar uma rotina interrompida pela pandemia. Na verdade, mais do que recuperar o tempo perdido, a Academia de Hollywood buscava reafirmar a importância de sua festa, cuja fama anda cada vez mais arranhada com o desinteresse crescente do público, representado por uma audiência cada vez mais decrescente.
Assim, embora a transmissão da festa tivesse começado às 21h (Brasília), uma hora antes o palco do Dolby já era ocupado para anúncio de alguns vencedores – foi decisão dos organizadores de antecipar a entrega da estatueta dourada para oito categorias (curta-metragem, edição, maquiagem e cabelo, trilha sonora, design de produção, curta de animação, curta em live action e som) para dar mais agilidade à cerimônia que, mesmo assim, não foi inferior a três horas de duração.
Um dos principais críticos contra essa decisão, o cineasta mexicano Guillermo Del Toro decidiu chegar mais cedo ao Dolby para acompanhar a premiação que não foi transmitida ao vivo. Duna ganhou quatro Oscars – o épico de ficção científica dirigido por Denis Villeneuve foi reconhecido pela música original de Hans Zimmer, além de edição, design de produção e som.
E o Brasil continuou sem ganhar a estatueta: Onde Eu Moro, do brasileiro Pedro Kos em parceria com Jon Shenk, perdeu para The Queen of Basketball, de Ben Proudfoot, o Oscar de curta documentário.
A intenção da Academia com essa antecipação foi a de abrir espaço para figuras conhecidas dos mais jovens, como a cantora Billie Eilish, numa tentativa de retomar o interesse de faixas etárias mais baixas. O show, aliás, começou com o clipe de uma megaestrela da música, Beyoncé, que foi apresentada pelas irmãs Serena e Venus Williams.
Aliás, nessa tentativa, a Academia até recuou em sua implicância com serviços de streaming (fartamente consumidos pelos jovens), admitindo que 7 dos 10 finalistas na categoria de melhor filme trouxessem a logomarca de alguma dessas ferramentas. Mais: até o uso do DVD como meio de fazer com que os votantes apreciassem os concorrentes foi trocado por uma plataforma exclusiva de streaming, criada pela Academia.
A abertura continuou com a premiação para Ariana DeBose como melhor atriz coadjuvante por seu trabalho em Amor, Sublime Amor. Ela se torna a primeira atriz afro-latina e abertamente LGBT a vencer na categoria. “Para qualquer um que já tenha questionado sua identidade”, ela disse, “eu prometo que há um lugar para nós”.