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Em ‘Um Herói’, Asghar Farhadi retrata dilema de homem que encontra mala de dinheiro

Origem do longa está em peça que o diretor iraniano viu em Londres sobre altruísmo; confira trailer

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Havia a expectativa de que Asghar Farhadi fosse indicado para o Oscar, e isso teria alavancado a carreira de Um Herói nos cinemas. Mas ele foi acusado de plágio por uma de suas alunas num curso de roteiro, e Um Herói estreia somente nesta quinta, 28. Farhadi foi condenado em abril por um tribunal no Irã. Possui uma carreira impressionante. Por filmes como Procurando Elly, A Separação, O Apartamento e O Passado, fez o rapa, vencendo o Oscar - duas vezes -, os Ursos de Ouro e Prata, o César, o Globo de Ouro. Ainda antes do anúncio do Oscar de 2022 ele conversou por telefone com a reportagem do Estadão

Cena do filme 'Um Herói', de Asghar Farhadi Foto: Arte France Cinema

Confirmou o que seus admiradores já sabem - Farhadi ama as histórias que colocam dilemas morais. A de Um Herói é sobre esse homem que pode ser preso por não pagar dívidas e que encontra uma mala de dinheiro que pode mudar sua vida. Só que nada disso é simples. “Gosto de retratar pessoas comuns em situações excepcionais. Na vida, basta observar, encontram-se muitas pequenas histórias que podem render grandes filmes. O neorrealismo italiano foi pródigo quanto a isso. Quando você tem a história e o personagem, é só observá-lo com justeza. O roteiro toma forma, é uma fase que me agrada muito.” Farhadi desconversou sobre a questão do plágio. Estava certo de que a Justiça o absolveria, o que não ocorreu. 

Gosto de retratar pessoas comuns em situações excepcionais

Asghar Farhadi, Diretor

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Para o repórter, o tchã do filme é o seu final. Não vai nenhum risco de spoiler na afirmação a seguir. O desfecho - belíssimo - de Um Herói prescinde de diálogos. Reproduz uma situação clássica do cinema de John Ford. Em Rastros de Ódio, de 1956, uma porta se abre no começo e John Wayne está chegando à casa do irmão, na imensidão do Oeste. No mesmo filme, e é a imagem emblemática que Farhadi reproduz, outra porta se fecha e Wayne agora fica do lado de fora. Farhadi diz que não pensou especificamente em Ford, mas admite que certas imagens fortes permanecem no imaginário. 

Heróis

Ford filmava a grandeza dos derrotados. Farhadi vai na contramão: “O que me interessa é mostrar por que a sociedade insiste em manter os chamados heróis em patamares tão elevados, impossíveis de atingir para a fragilidade humana.” 

Na origem de Um Herói está uma peça que ele viu em Londres sobre o altruísmo de estrangeiros que, não importavam as condições em que viviam, faziam questão de devolver itens esquecidos, ou encontrados na rua. “O tema me perseguia, mas não encontrava a história certa. Depois de meu filme espanhol - Todos Já Sabem, com Penélope Cruz e Javier Bardem - senti que era o momento de voltar a algo mais pessoal, e dessa vez Um Herói fluiu. Cada filme tem seu tempo.” 

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