Estreante inglês é destaque no Festival de Locarno

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Por Agencia Estado
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O calor e os belos dias de sol não favorecem o cinema, dizem os jornais suíços, comentando quedas de até 20% de público em Zurique e Genebra. Mas o clima quente é o grande forte deste 56.º Festival de Locarno. O público deixa as piscinas e o lago para se refrescar na grande sala Moretina, com capacidade para mais de três mil pessoas, e a brisa favorece as projeções ao ar na Piazza Grande. Além disso, os primeiros filmes exibidos na competição mostram um retorno das boas produções. É o caso do inglês 16 Anos de Álcool, primeiro filme do inglês Richard Jobson, e do suíço Ao Sul das Nuvens, de Jean-François Amiguet. O personagem do filme inglês, misto de Bruce Lee e de Alex da Laranja Mecânica, vive no mundo da dependência etílica. Um filme duro, humano. Por que decidiu escrever o livro que deu origem ao filme? Eu atrevessava um estranho período na minha vida, que me levava ao desejo de me defrontar com acontecimentos passados. Quando criança, a palavra esperança tinha muito significado e mistério. Ela sugeria que podia haver alguma coisa melhor além da violência e loucura do meu cotidiano. O personagem principal foi inspirado em mim e no meu irmão. Quando morreu meu irmão passei por uma profunda experiência e me encorajei a transformar o livro num filme. Foi Wong Kar-Wai (diretor de Amor à Flor da Pele) que me sugeriu construir o filme com uma narração na primeira pessoa. O filme é, então, quase autobiográfico? Tanto o livro como o filme mostram muito minha família e o clima de violência reinante. Meu irmão pertencia a uma gangue de jovens. Foi muito difícil fazer o filme? Foi graças a um encontro com Wong Kar-Wai. O filme saiu barato, pois ficou por volta 600 mil euros. Atualmente, os filmes ingleses custam um absurdo, quando se sabe que nem têm público. Acho que estamos no limiar de uma nova maneira de fazer filmes, pois existe muita gente ganhando demais. Isso vai mudar. O que fazia antes de dirigir esse primeiro filme? Comecei minha vida no mundo do rock, não tinha muito talento, mas muito entusiasmo e energia, e isso me afastou do mundo da violência no qual vivia. Eu não era um bom cantor e tocava mal a guitarra, logo não poderia viver muito tempo com isso. Mas me serviu para chegar ao mundo dos livros e do cinema. Acabei fazendo mesmo fotos remuneradas para uma revista, o que me valeu a fama de manequim-poeta. Meu primeiro filme vem agora que não sou tão novo, mas me sinto maduro para isso, pois antes não havia ainda formado bem minhas idéias. Embora muitos cineastas evitem falar no que consiste ser homem, sua psiquê e sexualidade, esse é um dos meus argumentos preferidos, e a base do meu segundo filme, O Purificador, já terminado.

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