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Festival Aruanda na Paraíba encerra temporada do cinema brasileiro

Documentarista Vladimir Carvalho é o homenageado da nona edição do evento

Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Por Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

JOÃO PESSOA (PB) - Fechando o calendário dos festivais, o Festival Aruanda do Audiovisual Brasileiro realiza sua nona edição com um cardápio nada negligenciável. Traz no menu dez longas-metragens, todos inéditos no circuito comercial, originários de cinco Estados da federação.

O primeiro deles vem de Pernambuco, tido como a Meca da renovação cinematográfica brasileira. Trata-se da estreia na direção do cantor e compositor Alceu Valença com seu surpreendente A Luneta do Tempo, ópera sertaneja pontuada por bons achados cinematográficos e excelente música. Composta por ele mesmo, claro.

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De São Paulo, escolheu-se Ausência, de Chico Teixeira, drama familiar pontuado pela estética minimalista que caracteriza o diretor, chegando a ser um traço autoral. Também de São Paulo, mas coproduzido com o Distrito Federal, vem O Outro Lado do Paraíso, saga familiar e política que André Ristum tirou do livro memorialístico de Luiz Fernando Emediato. É a história do amadurecimento de um garoto, Nando (o próprio escritor), na época da ditadura militar, tendo como exemplo um pai sonhador e corajoso.

O Rio de Janeiro é origem da maior parte dos concorrentes em longa-metragem. Entre eles, o esperado documentário Cássia, de Paulo Fontenelle, que refaz a trajetória rápida e frenética da roqueira Cássia Eller.

Também documental, mas trabalhando numa linha de invenção da imagem, destaca-se o carioca Campo de Jogo, de Eryk Rocha (filho de Glauber), que mira seu foco no futebol. Não no futebol das grandes estrelas e contratos milionários, e sim no da periferia, dos jogadores anônimos e que nem por isso suam menos a camisa em defesa dos seus clubes. Como desfecho de um ano desastroso para o futebol profissional brasileiro, Campo de Jogo tem a virtude adicional de nos relembrar do prazer de ver e jogar bola, a vertente lúdica brasileira a traduzir para nosso idioma cultural o velho esporte bretão.

Sempre do Rio, Para Sempre Teu, Caio F., de Candé Salles, recria a existência do escritor gaúcho Caio Fernando Abreu, que morreu moço, deixou vasta obra e foi colunista do Estado por vários anos. Escrevia suas crônicas saborosas no Caderno 2.

O festival conta também com a presença de Murilo Salles, grande fotógrafo e diretor carioca (de filmes como Faca de Dois Gumes, Como Nascem os Anjos e Nome Próprio). Agora, ele traz uma ficção de corte radicalmente político, que deve dar o que falar. O Fim e os Meios trata de política, campanhas eleitorais, Brasília e corrupção. Quer dizer, de temas na moda. Mais que da moda, onipresentes, pois, como se sabe, o debate político no Brasil se dá inteiramente no campo saturado da corrupção. Murilo será capaz de um olhar novo sobre esse assunto?

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Ou apenas reforça clichês? Veremos.

Por fim, a Paraíba comparece com o mais experimental dos concorrentes - Pingo d'Água, de Taciano Valério, que tem no ensaísta e professor da USP Jean-Claude Bernardet uma das presenças marcantes em seu elenco.

Além desses oito concorrentes, o Aruanda apresenta mais dois longas-metragens, estes fora de concurso - Sangue Azul, de Lírio Ferreira, e A História da Eternidade, de Camilo Cavalcante, ambos de Pernambuco. Sangue Azul venceu a Première Brasil no Festival do Rio, e A História da Eternidade ganhou o prêmio principal do Festival de Paulínia. Brilharam em 2014 e merecem revisão.

A presença deles, e de outros títulos do mesmo Estado, praticamente obriga o festival a um dos seus temas de debate, justamente sobre a exitosa produção pernambucana e se ela pode servir de modelo para o resto do Brasil. O tema será debatido em mesa de especialistas. Também será discutido o papel da crítica (no painel sugestivamente intitulado "Quem tem medo da Crítica e de quem os críticos têm medo?").

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Um ilustre paraibano, radicado em Brasília, será homenageado por seus 80 anos - Vladimir Carvalho, autor de títulos fundamentais do documentário nacional como O País de São Saruê e Companheiros Velhos de Guerra. Vladimir, que parece um dínamo, passa rapidamente por João Pessoa, pois está em Paris fazendo novo filme, desta vez sobre o artista plástico pernambucano Cícero Dias (1907-2003), que residiu muito tempo na capital francesa, lá morreu e está enterrado.

Há outras mesas de discussão, homenagens (aos cem anos da morte do poeta Augusto dos Anjos), lançamentos de livros, cinema infantil no "Aruandinha", exibição de curtas-metragens, debates cotidianos entre jornalistas e os realizadores dos filmes concorrentes. E mais as praias, a culinária e as belezas naturais da Paraíba a tentar os visitantes. João Pessoa promete semana cheia para os cinéfilos.

Filmes da Mostra Competitiva:

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Ausência, de Chico Teixeira (ficção, SP)

A Luneta do Tempo, de Alceu Valença (ficção, PE)

O Fim e os Meios, de Murilo Salles (ficção, RJ)

Pingo D'Água, de Taciano Valério (ficção, PB)

O Outro Lado do Paraíso, de André Ristum (Ficção, SP-DF)

Cássia, de Paulo Fontenelle (documentário, RJ)

Para Sempre Teu, Caio F., de Candé Salles (documentário, RJ)

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