O ator americano George Clooney, considerado um dos homens mais belos do mundo, conquistou público e crítica nesta quinta-feira no Festival de Veneza, com um filme político e de denúncia sobre o anticomunismo e o ´macarthismo´ nos Estados Unidos dos anos 50. Com Good Night and Good Luck (Boa Noite e Boa Sorte, em tradução livre), seu segundo filme como diretor, Clooney arrancou aplausos da crítica e do público com um filme marcado pela ética e pela defesa das liberdades, "inteligente e valente", como o definiu para a televisão italiana. "Como nos tempos do macarthismo, hoje em dia são cometidos muitos erros e se usa o medo para limitar nossa liberdade", disse Clooney, cujo filme é um chamado à imprensa para que assuma suas responsabilidades. "A imprensa é o quarto poder e sua tarefa é controlar os outros poderes. Não só é um direito, mas uma responsabilidade", disse. Em seu filme, em preto e branco e ambientado nos anos 50, Clooney conta a vida e obra de um pioneiro do jornalismo televisivo nos Estados Unidos, Edward Murrow (interpretado por David Strathairn), inimigo do senador Joseph McCarthy, que impulsionou violações dos direitos civis em nome do bem dos Estados Unidos e da defesa do país diante do perigo comunista. A denúncia das perseguições contra os tachados de comunistas ou de amigos de comunistas, baseada em provas secretas ou rumores, como no caso do marinheiro Milo Radulovich, contado por Murrow em seus programas, acabou por desmontar diante da opinião pública o método de McCarthy. "Murrow foi um herói, não se existem outros hoje em dia como ele", comentou o ator. Inspirado na vida do seu pai, um conhecido jornalista televisivo de Cincinnati, Clooney reproduz os estúdios da americana CBS, um dos três canais existentes na época, para retratar as pressões do poder e criticar indiretamente o jornalismo de espetáculo, com a informação transformada em entretenimento. "Hoje em dia, com a fragmentação da televisão em centenas de canais, a opinião pública americana está polarizada, dividida em categorias. Cada um sintoniza o canal que diz o que você quer que diga, como ocorreu com as armas de destruição em massa no Iraque", disse, em entrevista coletiva de apresentação do filme. O "sex symbol" do cinema atual, de 44 anos, simpático e espontâneo, que concorre com outros 18 filmes pelo cobiçado Leão de Ouro, é um inconformado com o sistema que o lançou, sai do padrão de "astro" ou "galã", e quer um cinema pensante, de análise e polêmicas. "Dei ao filme um toque de documentário", confessou o artista, que empregou material de arquivo em preto e branco e intervenções do próprio McCarthy, tornando-o um dos protagonistas do filme. O cineasta, ator, roteirista, diretor e produtor do filme contou que recebeu "um dólar" para escrever o roteiro e foi pago segundo estipula o contrato sindical por sua atuação. Contra a concentração dos meios de comunicação em poucas mãos, Clooney se considera um democrático fervoroso. "Todos sabem o que penso da atual administração. Mas o meu filme não quer ser um ataque ao presidente republicano George W. Bush. Embora haja elementos que possam evocar fatos do presente", comentou. O famoso ator, que inaugura o desfile de astros de Hollywood pelo Lido veneziano, também presta uma tímida homenagem à mulher jornalista, ao incluir no filme a atriz Patricia Clarkson no papel de produtora e pioneira da televisão, que enfrenta preconceitos sociais e morais por seu trabalho.
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