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Lembranças do amigo John Candy, por Bill Pullman

Bill Pullman escreve sobre o ator, morto em 1994, que ele conheceu nas filmagens de ‘Spaceballs’ há exatos 30 anos

Por Bill Pullman
Atualização:

Há 30 anos, a paródia de Star Wars de Mel Brooks, Spaceballs (no Brasil, SOS – Tem um Louco Solto no Espaço) foi lançada pela MGM. As críticas do filme foram ambivalentes na época, mas ele se tornou um clássico cult. E esse aniversário me lembrou da sorte que tive como ator quando Mel me escalou para interpretar o desafortunado dublê de Han Solo, Lone Starr.

Pullman e Candy. Amizade nasceu nos bastidores do filme de Mel Brooks, lançado em 1987 Foto: Metro-Goldwyn-Mayer

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Ele e Anne Bancroft tinham me visto no palco em Los Angeles, mas eu tinha feito apenas um pequeno papel em um filme anterior. E então iria trabalhar num grande estúdio e num filme de grande orçamento, com um produtor, roteirista e diretor legendário e atores de sucesso e com muito talento. O principal dentre eles era John Candy, que, por razões que nunca descobri, resolveu me apoiar. Lone Starr é uma figura à parte, arisco, um tipo que não se comunica, exceto com seu camarada Barf. John interpretava Barf, meio homem, meio cachorro, que se vangloriava de que “eu sou o meu melhor amigo”.

Depois de alguns dias de filmagem, eu ainda não tinha um contato mais próximo com John. Senti-me um pouco perdido – talvez até um pouco disperso no início – consumido pelo pânico. Eles eram atores de comédia que conseguiam sem nenhum esforço fazer o elenco explodir em risos. Quando tentei contar uma piada para um rapaz da produção, ele reagiu com a maior indiferença.

Certo dia, estava caminhando pelo estúdio na hora do almoço e, de repente, do meu lado, estava Frankie, o motorista de John Candy. Um sujeito baixinho, frio, ao qual John se referia como seu sequaz.

“Então, quer almoçar com o John no seu trailer?

Olhei para onde Frankie apontava e vi John nos chamando do seu brilhante trailer. Não sabia se estava à altura de uma conversa que ele teve no set com outros atores principais do filme. Minha primeira reação era dizer não, mas, de repente, eu me vi respondendo, expressando um falso prazer, “Claro!”.

Dentro do trailer, ele estava aquecendo um caldo fino de galinha com alguns fios de macarrão. Fui introduzido num ritual com intermináveis variações: John fazia piadas e ria de Frankie e sempre encontrava uma maneira de maldizer sua dieta.

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John era muito irônico e evitava qualquer coisa que o alterasse emocionalmente. Lembro-me de um momento no set de filmagem quando ele fez uma observação a meu respeito: “E o senhor Still Waters (Águas Mansas), Smiling-on-the-Outside (que ri por fora) já entendeu tudo e se afastou”. Ele estava procurando me encorajar e, ao mesmo tempo, chamar a atenção para minha pessoa, com certeza.

Um assistente de produção bateu na porta para avisar que voltaríamos a gravar em cinco minutos. Enquanto John se preparava para sair, Frank encheu uma caixa com Donuts. “Chefe, você falou alguma coisa sobre isso”. John pegou a caixa e disse: “Pullman, isso é para seu açúcar no sangue. Percebi que você estava suspirando”. A partir de então, ficamos cúmplices.

Os almoços continuaram de tempos em tempos. Mas o momento em que ele realmente me deu um forte apoio foi durante uma crise que tive no set. Estávamos ensaiando um diálogo para uma entrada no Yogurt’s Grand Hall. Ali estavam a princesa Vespa, Dot Matrix, Barf e eu, com Mel dirigindo. Virar uma esquina e se deparar com o altar do Yogurt não era um momento crucial da história: era uma homenagem a Doroty e seu grupo quando encontraram o Mágico de Oz. John achou que, segundo o roteiro, muitas das frases engraçadas tinham sido dadas a Barf e sugeriu que eu ficasse com uma daquelas tiradas. Fez-se silêncio no set. Mel pensou um pouco. Ele sempre foi, e continua a ser, um diretor generoso. Mas algo envolvendo as circunstâncias fez com que usasse seu sabre de luz metafórico. Ele era o roteirista e o diretor, e um gigante da comédia moderna rejeitava uma frase que escrevera para ele.

“Você acha que Pullman consegue deixar essa frase engraçada? OK”.

Voltamos a filmar. Depois de um silêncio após o “corte”, ouvi Mel dizer “OK, vamos cortar essa frase”.

Fiquei decepcionado, coberto de vergonha e frustração. Quando nos preparamos para filmar outra cena, eu estava muito nervoso.

Então senti o braço de Mog em meus ombros “Pullman, que tal um Donut?”. E continuou: “melhor não ficar tão ruborizado agora. E não vai ficar me olhando com ar de desalento depois, Ok?

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Deu uma risca e piscou para mim, e isso me acalmou. Consegui enfim me reequilibrar. No dia seguinte, Mel me encontrou e me deu um abraço.

Jamais esqueci a generosidade de John Candy. Ele me mostrou como ser um líder amável. Tirou um peso das minhas costas. E me deu um grande apoio. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

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