Reagan, o grevista: antes de virar presidente dos EUA, ator liderou última grande greve de Hollywood

Reagan já foi presidente do sindicato dos atores e esteve à frente de grande paralisação do cinema há 63 anos; episódio aconteceu na transição de artista para político

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Por Sabrina Legramandi
Atualização:

O sindicato dos atores de Hollywood (SAG-AFTRA) anunciou, nesta quinta-feira, 13, o início de uma greve após fracassos em negociações contratuais com os estúdios. Esta é a primeira vez em 63 anos que atores e roteiristas irão se unir em uma grande paralisação.

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A categoria reivindica direitos como melhores condições de trabalho, pagamento justo de royalties residuais de plataformas de streaming, transparência no processo de cálculo desses valores e regulamentação do uso de inteligência artificial (IA).

A última vez em que o SAG e o Sindicato de Roteiristas (WGA) se uniram em torno de uma grande greve foi em 1960. Os protestos marcaram a conquista de direitos importantes, como acesso a seguro-saúde e pensão.

O mais curioso é que um futuro líder dos Estados Unidos esteve à frente e teve papel importante na paralisação: o ex-presidente Ronald Reagan. À época, ele ainda não ostentava o título de maior liderança do país e fazia a transição entre apoiador dos democratas a líder que mudou o Partido Republicano.

A atriz Bette Davis e Ronald Reagan em cena do filme 'Vitória Amarga', de 1939. Foto: Arquivo/Divulgação

Reagan também foi ator e presidente do sindicato dos atores de Hollywood. Tudo começou em 1937, como relata o The Atlantic, quando o futuro político ainda era um jovem de 26 anos locutor de rádio e colunista de jornal.

Em Los Angeles, um agente de talentos o convidou para fazer um teste para a Warner Brothers – que, mais tarde, ganharia o nome de Warner Bros. O talento de Reagan em frente às câmeras impressionou e gerou um contrato com os estúdios de US$ 200 por semana.

Foi em 1937 que o artista daria seus primeiros passos na política. À época, ele pagou uma taxa de US$ 25 e se tornou, oficialmente, um sindicalista no SAG. A sua eleição como presidente da instituição viria 10 anos depois, em 1947. Ele ainda foi reeleito por cinco mandatos consecutivos de um ano.

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Durante o primeiro mandato, Reagan teve um papel importante na conquista de pagamentos residuais para atores. Anteriormente, artistas eram pagos apenas com o lançamento dos filmes e não recebiam nada a mais caso os longas fossem exibidos posteriormente.

Mas isso não foi a solução dos problemas. À época, os pagamentos residuais eram inválidos caso o filme fosse exibido na TV. Em 1959, o sindicato votou para que Reagan retornasse à presidência do sindicato após tentativas mal-sucedidas de negociação.

O futuro presidente dos EUA passou a tentar negociar com os produtores, que entendiam a demanda como uma forma de que funcionários fossem pagos mais de uma vez pelo mesmo trabalho. As tentativas ficaram ainda mais complexas e, em março de 1960, o sindicato decidiu por uma paralisação.

A greve duraria cinco semanas até que os dois lados chegassem a um acordo. O sindicato e os produtores concordaram com:

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  • Pagamentos residuais a atores em filmes feitos a partir de 1960,
  • Longas produzidos antes de 1948 não teriam pagamentos residuais,
  • Para filmes feitos entre 1949 e 1959, pagamento de US$ 2,5 milhões que a SAG usaria para seguro-saúde e pensão.

As decisões não agradaram a todos. Conforme a revista The Atlantic, atores como Mickey Rooney e Glenn Ford acreditavam que o sindicato conseguiria o direito a pagamentos residuais a todos os filmes se Reagan tivesse sido mais duro nas negociações.

Quando se elegeu presidente dos Estados Unidos, ele se mostrava orgulhoso por ter liderado o sindicato. Em uma entrevista concedida em 1985, Reagan comenta sobre a atuação do SAG em 1960.

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“Eu estava muito orgulhoso do sindicato dos atores naquela época. Ele existia por princípios muitos firmes”, disse. “Eu estive no comando na maior parte do tempo das nossas negociações para a reinstituição do nosso contrato básico com produtores”. Veja:

*Estagiária sob supervisão de Charlise de Morais

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