Will Smith é o caçador que vira caça em 'Projeto Gemini'

Para diretor Ang Lee, longa, que estreia dia 10, é thriller de ação com ficção científica, mas no fundo é um drama

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Por Mariane Morisawa
Atualização:
Will Smith. O matador que um dia se vê perseguido por uma versão mais jovem de si mesmo, um clone de 23 anos Foto: Paramount

LOS ANGELES - Ang Lee gosta de experimentar novas tecnologias. Em As Aventuras de Pi, pelo qual levou seu segundo Oscar de direção, todo o cenário e os animais eram digitais. Em A Longa Caminhada de Billy Lynn, sobre um soldado que volta para casa depois de lutar na Guerra do Iraque, utilizou 120 quadros por segundo (em vez dos tradicionais 24) e 3D. 

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Lee volta a usar o mesmo recurso em Projeto Gemini, que estreia na quinta-feira, 10, no Brasil, mas com algumas complicações, por exemplo, um Will Smith de 23 anos de idade criado por uma combinação de captura de performance e animação. “Quero deixar bem claro que não é rejuvenescimento, como tantos outros filmes têm feito”, disse ele em entrevista coletiva em Los Angeles, sem citar exemplos como Capitã Marvel e O Irlandês. “Nós criamos um novo personagem, um jovem Will Smith”, completou. O próprio ator enfatizou a diferença. “Não sou eu, é alguém recriado. É como os personagens de O Rei Leão”, disse. 

Mas é um pouco mais complexo ainda do que isso. Porque Ang Lee, mesmo gostando de tecnologia e efeitos visuais mirabolantes, é basicamente um ator de drama - seu outro Oscar de direção foi por O Segredo de Brokeback Mountain, afinal. “O filme é um thriller de ação, com um pouco de ficção científica, mas no fundo é um drama”, explicou o cineasta. 

Will Smith interpreta Henry Brogan, um matador, que um dia se vê caçado por um outro matador: uma versão mais jovem de si mesmo, um clone que atende pelo nome de Junior. “Precisava ser uma pessoa. Não um robô, mas um ser humano de verdade, um personagem realista, não apenas para um filme de ação, mas para um drama”, disse Lee. “Eu me identifiquei muito com Henry. Se você pudesse viver duas vezes e encontrar sua versão mais jovem, o que diria para ele? E qual seria o seu futuro, como viver com sua própria trajetória? Essas questões existenciais estão escondidas no entretenimento, o que é empolgante para mim. Então esse clone precisava ter alma e emoção.” 

'Com a câmera 3D toda tomada é muito próxima, então dá para ver cada poro. Se você fingir um momento, todo o mundo vai ver', diz Will Smith Foto: Paramount

Para Smith, foi um desafio como poucos em sua carreira. “Deu um pouco de medo, porque seus velhos truques não funcionam. Coisas que posso esconder em 24 quadros por segundo são impossíveis de disfarçar em 120 quadros por segundo. E com a câmera 3D toda tomada é muito próxima, então dá para ver cada poro. Se você fingir um momento, todo o mundo vai ver.” Quando contracenou consigo mesmo, primeiro filmou todas as cenas como Henry, com outro ator - que estudou o Will Smith aos 20 e poucos anos - fazendo o papel de Junior. Depois, no fim, com a parafernália de captura de performance, Will Smith fez a parte de Junior. Há cenas de luta, inclusive, que foram feitas assim, só que com um dublê fazendo a parte de Junior, já que o rosto seria recriado pelos artistas da WETA Digital. 

Para Ang Lee, o processo todo é diferente. “É como percebemos as pessoas na vida, não é um ator com suas motivações”, lembrou. “Então a maneira de interpretar esses personagens com essas tecnologias é não atuar, mas usar o instinto. Meu modo de dirigir também precisa mudar. Preciso fazer com que os personagens fiquem vivos, reais. Se o ator atuar, dá para ver que está atuando. É preciso sentir as profundezas da vida, da emoção, e isso vai atingir o público. O ator precisa ser real, complicado, sutil, maduro. Tem de ser um ator melhor. Mas a recompensa é bonita.” Will Smith disse que não teme que o ator fique obsoleto. “Acho que não, porque ainda se trata do coração e da alma humanos. Um computador nunca vai ser capaz de reproduzir os erros humanos e o embargo na voz”, considerou.

Ang Lee admitiu que não sabe ainda se seu experimento deu certo, mas que houve um aprendizado em relação a Billy Lynn. “Lá foi minha primeira experiência com a cadência mais rápida e foi como se eu tivesse de trocar de religião”, contou. “Tive de me livrar de alguns dos velhos métodos de fazer cinema. Aqui, eu sei melhor o que estou fazendo. E também é um filme numa direção oposta, um artifício completo, uma história ficcional, de gênero. Queria que fosse bonito, estudamos muito como fazer a luz. Estou numa missão de tentar descobrir uma nova estética no cinema digital, que é dimensão com clareza. Dá para sonhar com clareza? Essa era a minha nova tarefa.” 

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O diretor espera que o público e outros diretores abracem essa nova maneira de fazer cinema. “Eu acredito que há um novo território a ser explorado, que vai trazer pessoas de volta às salas de cinema, em vez de assistirem na televisão ou no iPhone. Porque, num filme com essa tecnologia, você não está vendo a história de alguém, mas vivenciando a história. É uma experiência imersiva, e eu acredito tremendamente nela.”

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