Na noite deste sábado, durante seu show na Concha Acústica do Teatro Castro Alves, Carlinhos Brown se queixou ao atual presidente Michel Temer do fim do Ministério da Cultura. A plateia reagiu com o coro "Fora Temer", e Brown deu espaço ao grito da multidão, para depois dar seguimento ao show.
A cena foi toda transmitida pela TV Brasil, que vinha exibindo o evento, captado pela emissora pública TV Bahia, da rede EBC, Empresa Brasileira de Comunicação, ligada ao governo federal. O fato acirra ainda mais a queda de braço entre a EBC e o novo governo.
"Com todo respeito às autoridades e ao momento do País, porque o meu Brasil está salvo", disse Brown, batendo no coração, e prosseguindo, "está salvo dentro de mim, meu país tá aqui, ninguém toca, mas não custa dizer ao novo presidente, ainda ouso a dizer: 'Isso, seu Michel, quem não deve não tema, devolva o Ministério da Cultura à gente! E vou cantar porque eu não quero ter muito deste momento do Brasil, neste momento, a não ser amar e apoiar as pessoas que estão diante da democracia". Foi então que veio o "Fora Temer!" do público. "Tá ouvindo, seu Michel, tão mandando recado pro senhor".
Embora o poder executivo sempre faça questão de enaltecer a independência do Jornalismo praticado nas emissoras abastecidas por suas verbas, caso da TV Brasil, na esfera federal, e da TV Cultura, na esfera estadual paulista, é sabido e notório que assuntos contrários aos interesses desses governos não ganham exposição na vitrine de seus respectivos canais.
O atual diretor-presidente da EBC, o jornalista Ricardo Melo, que antes ocupava a direção de Jornalismo da mesma EBC, foi empossado no comando da em 3 de maio passado e sua presença no comando da TV pública não é exatamente algo confortável para o governo de Michel Temer.
Acontece que a legislação da EBC assegura estabilidade de quatro anos ao cargo de Melo. Nem ele nem o Conselho da EBC, que endossou a legalidade da presença do jornalista no posto, podem ser destituídos de suas funções. Se isso ocorrer, como se especula estar em estudo nos bastidores do Palácio do Planalto, o feitiço tem todas as chances de se virar contra o feiticeiro. Tirar da EBC alguém capaz de exibir manifestações contrárias a Temer, como faixas alegando "Golpe", só por contrariar o governo, custará caro à imagem democrática do presidente interino.
Em defesa da alegação de equilíbrio e isenção do noticiário, Melo tem a seu favor as coberturas de manifestações registradas e exibidas pela TV Brasil anteriores ao impeachment, não só favoráveis, mas também contrárias a Dilma.
Na noite de sexta-feira, 13 de maio, dois dias após a confirmação do afastamento de Dilma Rousseff da presidência, a EBC reagiu com nota a uma informação de que o Melo seria substituído por nova indicação de Temer. Eis a íntegra do texto:
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