Serginho Groisman e Fábio Porchat debatem o futuro da televisão

Evento promovido pelo 'Estado' e Livraria Cultura na tarde desta sexta-feira destacou as suas mudanças e a sua influência da web

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Por Cristina Padiglione
Atualização:

Prestes a completar 65 anos no Brasil, a TV ainda dá as cartas comerciais nesse universo multitelas fartamente oferecido ao público hoje, mas a internet já interfere diretamente no modo de criar e produzir programas. Ao mesmo tempo, a web ainda sofre de problemas sérios de conexão, o que atrasa a velocidade da TV vista por streaming, e “produz muito lixo”. Esses são alguns dos pontos resultados do produtivo encontro entre Serginho Groisman e Fábio Porchat em evento promovido na sexta, 11, pelo Estado, e Livraria Cultura, que cedeu o Teatro Eva Herz, em São Paulo.

Se Groisman fez história ao criar um auditório que desse voz ao público, lá nos anos 1990 do Matéria Prima, pela TV Cultura, a voz hoje se espalha entre todos que têm uma rede social ao alcance dos dedos. “Agora, em vez de ‘fala, garoto’, a gente já pode dizer: ‘fala menos, garoto, e ouve um pouco’”, disse Porchat, arrancando risos do público presente. 

Encontro. Fábio Porchat, Cristina Padiglione, do 'Estado', e Serginho Groisman: conteúdo Foto: Tiago Queiroz/Estadão

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Sócio do maior portal de humor na internet, o Porta dos Fundos, Porchat reconhece que, apesar dos bilhões de acessos do grupo na web, ainda há uma cultura muito forte do mercado anunciante em investir mais na TV convencional, mas ressaltou que um comercial colado a um vídeo na internet pode ser muito mais direcionado do que um filme veiculado nos intervalos da TV, quando o espectador pode se retirar da frente da tela para ir ao banheiro. “Quem garante que o cara está vendo aquilo?” Lembrou que os humoristas do grupo trabalhavam todos na Globo e acabaram saindo de lá para fazer o humor que não puderam realizar na TV. Se o sucesso do Porta na web acabou influenciando a Globo? “Não sei, mas a humanidade ainda vai nos agradecer por termos acabado com o Zorra Total”, programa substituído por outro tipo de humor e rebatizado como Zorra.

A pressão pela audiência foi lembrada por Groisman como algo que, a princípio, interessava só aos anunciantes, mas passou a ser um mantra de produtores, executivos e também da imprensa que cobre TV, a ponto de interferir na grade de programação. Nem sempre o que dá audiência é bom, lembraram os dois. 

Groisman disse que, de fato, conheceu a audiência quando se transferiu da TV Cultura para o SBT. “Demos 10 pontos na estreia do Programa Livre e o Silvio me ligou”, contou. Nos dias seguintes, o programa foi perdendo audiência e trocou de horário “45 vezes” ao longo de 8 anos. Na Globo, o Altas Horas era aberto propositalmente por alguma atração muito popular enquanto esteve atrelado à sequência do antigo Zorra Total, justamente para não fazer feio no Ibope, “mas era uma decisão minha”, disse.

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Porchat criticou a demora da Globo em investir na internet e distribuir na web parte de seu conteúdo. “Eu perdi aquele especial, o Doce de Mãe, que deu o Emmy a Fernanda Montenegro, e não pude mais ver porque não estava em lugar nenhum, só para assinantes da Globo.com. Eu não assino Globo.com. E aí? O que me interessa é que o meu conteúdo seja visto, não interessa como nem onde.” 

Os dois debatedores do dia concordaram quanto ao fato de a TV linear atravessar uma fase de profundas mudanças, sem que isso signifique qualquer perspectiva de acabar. “A televisão é e sempre será mais forte quando alguma tragédia acontecer. Ninguém liga a internet para ver uma transmissão em streaming”, citou Porchat. “O modelo de produzir e ‘rentabilizar’ conteúdo na internet e vender para a TV aponta para a convivência de ambas”, completou. Para Groisman, a TV aberta ainda é o meio de entretenimento mais barato em um País que enfrenta problemas de conexão com a internet. “Existe vida inteligente além da televisão. Ela propaga coisas boas e prejudiciais, mas a influência não é definitiva”, citou o apresentador.

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