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Ele varria o tapete vermelho de Cannes. Agora, exibe seu filme no maior festival de cinema do mundo

Conheça a história de David Hertzog Dessites, que, criança, ia com a mãe ver as estrelas no Palais des Festivals, virou funcionário da limpeza depois da morte dela e hoje, aos 51, apresenta seu documentário sobre Michel Legrand

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Por Philippe Grelard (AFP)

CANNES - Um varredor que limpava o tapete vermelho do Festival de Cannes há três décadas irá desfilar no sábado, 18, entre as grandes estrelas, apresentando seu próprio documentário.

“O adulto que sou segurou na mão do menino que fui para realizar esse sonho”, explica à AFP David Hertzog Dessites, de 51 anos, que vai estrear Il était une fois Michel Legrand (Era uma vez Michel Legrand, em tradução livre), um documentário sobre o famoso músico francês.

Quando soube que tinha sido selecionado na seção Cannes Classics, dedicada a cópias restauradas de filmes antigos e documentários, Hertzog Dessites não podia acreditar. E uma lembrança veio à mente.

Em “uma manhã, por volta das 4h00, no meu uniforme de varredor [...] me estiquei no tapete vermelho, dizendo a mim mesmo ‘voltarei aqui com meu filme’”, lembra.

O cineasta David Hertzog Dessites vai apresentar o documentário 'Il était une fois Michel Legrand' no Festival de Cannes. Foto: @drector_27 via Instagram

Durante sua infância, sua mãe o levava perto do Palais des Festivals para ver no tapete vermelho as estrelas de Hollywood, como Kirk Douglas ou Robert Mitchum.

Sua vida teve uma reviravolta aos 20 anos com a morte da mãe, funcionária municipal. A cidade de Cannes então lhe ofereceu um emprego de varredor.

‘Festival às escondidas’

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Tinha amigos que trabalhavam nos bastidores, permitindo este cinéfilo viver o “festival às escondidas”, entrando nas sessões clandestinamente.

Uma manhã, em uma sessão das 11h, ele entrou na exibição de Pulp Fiction, de Quentin Tarantino. “Vi Clint Eastwood [presidente do júri] colocar as mãos no rosto de tanto rir”, relatou.

O falecimento de sua mãe foi um “verdadeiro impulso”, que o ajudou a transformar “essa dor em energia positiva”, contou Hertzog Dessites.

Comprou sua primeira câmera e começou a filmar de forma autodidata. “Eu invejava meus amigos na escola de cinema, e eles me invejavam porque meu ponto de vista não estava condicionado”, explicou.

Em 1999, viajou para os Estados Unidos para filmar os fãs incondicionais de Star Wars que aguardavam ansiosamente a estreia do episódio I, A Ameaça Fantasma.

“Os fãs em Hollywood, em Nova York, estavam loucos, esperavam em barracas perto dos cinemas para serem os primeiros a ver o filme”, explica, sobre um documentário que na época chamou a atenção.

Uma história ‘formidável’

A história em torno do conhecido compositor francês Michel Legrand também é encantadora.

“Sua música embalou a gravidez de minha mãe, meus pais se conheceram quando foram ver Thomas Crown - A Arte do Crime e compraram o disco de 45 rotações da música composta por Michel”. A trilha sonora de Yentl, com Barbra Streisand, foi “um choque” para esse cinéfilo e amante da música.

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Sentado aos pés do piano “como uma criança junto à árvore de Natal” durante o recital, o cineasta disse no final: “Se eu existo, é um pouco graças a você”. “Essa história é formidável, adoro”, respondeu Legrand.

O compositor concordou em ser o centro de um documentário e lhe deu carta branca.

“Ele disse que não controlaria nada, e, conhecendo sua exigência e a pessoa complexa que era, é o melhor presente que poderia me dar”, afirma Hertzog Dessites.

O documentário conta os dois últimos anos do músico e relembra a carreira do compositor da trilha sonora de Os Guarda-Chuvas do Amor, falecido em 2019, aos 86 anos.

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